23 de novembro de 2024
Lira mantém 17 apadrinhados no Executivo e no Judiciário e
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A poucos meses de deixar a presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) apadrinha pelo menos 17 pessoas em cargos no alto escalão do Executivo e do Judiciário. Com o fim de seu mandato à frente da Casa, o deputado alagoano busca garantir um sucessor para manter essas nomeações e, principalmente, sua influência no Executivo.

O Palácio do Planalto tem controle sobre essas indicações e mantém uma lista com todos os cargos apadrinhados por Lira. O Estadão/Broadcast teve acesso a 17 nomes indicados para diversos cargos pertencentes à “cota” do parlamentar. Quando procurado para comentar, Lira não se manifestou.

Segundo a lista, Lira intermediou a nomeação de 15 pessoas para cargos no segundo escalão do Executivo e de outras duas no Judiciário. As nomeações incluem pessoas de sua confiança, além de indicações do seu partido, o PP, e do Centrão, bloco político no qual ele é o principal líder.

No Planalto, alguns classificam Lira como o “porta-voz” ou “barriga de aluguel” para essas indicações.

O avanço de Lira sobre o Poder Executivo não é surpresa no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde o primeiro mandato do alagoano à frente da Câmara, ainda sob a gestão federal de Jair Bolsonaro, Lira já acumulava posições no primeiro e segundo escalão do governo.

Dos 17 nomes da lista do Planalto, três foram indicados ainda no governo Bolsonaro. Porém, o presidente da Câmara fechou acordos também com Lula no início do terceiro mandato do petista à frente da Presidência para manter a permanência de aliados no Executivo.

A Caixa Econômica Federal é uma das instituições que mais acumula recomendações de Lira, segundo a lista obtida pela reportagem. Constam da relação quatro indicados pelo presidente da Câmara na instituição: o presidente do banco, Carlos Vieira; o vice-presidente interino Agente Operador, Rodrigo Hideki Hori Takahashi; o vice-presidente Negócios de Atacado, Tarso Duarte de Tassis; e o diretor-presidente da Caixa Assistência, Rodrigo Valença. A Caixa é cobiçada por congressistas pela capilaridade para atender prefeituras e operar programas sociais, na avaliação de parlamentares.

Outro órgão que tem forte influência de Lira é a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Na empresa, o presidente da Câmara indicou o superintendente em Alagoas, João Paulo Tavares Pacheco. Ele assumiu o cargo que era ocupado anteriormente pelo primo do alagoano e ex-deputado estadual Joãozinho Pereira (PP), que deixou a função para disputar a Prefeitura de Junqueiro, na região metropolitana do Agreste.

Diretorias e superintendências de Alagoas no órgão são as que mais aparecem entre as indicações de Lira por ser sua base eleitoral. No Estado, o grupo político do presidente da Câmara rivaliza com o do senador Renan Calheiros (MDB).

No Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas, Lira conseguiu emplacar Junior Rodrigues do Nascimento como superintendente. Ele entrou na vaga para ocupar o espaço deixado por Wilson César Lira dos Santos, primo do deputado, exonerado após cobranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Lira também foi responsável pela indicação na Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) do diretor do Cais do Porto de Maceió, Diogo Holanda Pinheiro. Na região, Lira também intermediou a escolha de Carlos Jorge Ferreira Cavalcante para o comando da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) alagoana desde setembro de 2019.

Como mostrou o Estadão/Broadcast em junho de 2023, Cavalcante é irmão do ex-assessor do presidente da Câmara Luciano Cavalcante – investigado pela Polícia Federal (PF) por supostas fraudes na aquisição de kits de robótica por prefeituras de Alagoas.

Segundo a PF, Luciano deu “apoio operacional” a entregadores de dinheiro que seriam participantes do esquema, em Maceió. Luciano mantinha cargo na Câmara, mas acabou sendo exonerado após a notícia ser divulgada.

No Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Lira indicou o coordenador em Alagoas, Arlindo Garrote, e intermediou a escolha do diretor-geral do órgão no Ceará, Fernando Marcondes de Araújo Leal. O nome de Leal surgiu da bancada do PP na Câmara. Porém, o presidente da Casa foi responsável por levar a indicação ao governo. Além disso, no Estado, o parlamentar também acumula indicações no Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e Docas.

No Judiciário, Lula nomeou em novembro do ano passado João Carlos Mayer Soares como juiz do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). O nome foi apoiado por Lira e sua confirmação mostrou um aceno do chefe do Executivo federal ao alagoano.

 O outro apadrinhado pelo grupo de Lira é o desembargador federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Eduardo Felipe Martins. A indicação foi feita pela bancada do PP e chancelada por parlamentares de diferentes grupos políticos. Nesse caso, Lira também foi o intermediário da nomeação.

Manutenção dos cargos

Lira deixará a presidência da Câmara em fevereiro, quando serão realizadas as novas eleições para os comandos da Câmara e do Senado. Diante da saída dele, integrantes do governo e do Congresso avaliam que a manutenção dos escolhidos nos cargos depende, especialmente, do alagoano conseguir emplacar um sucessor no posto.

A avaliação de congressista é que Lira manterá seus apadrinhados nas cadeiras caso seu indicado vença a disputa. Em caso contrário, os cargos indicados pelo PP e Centrão ou por outros aliados de Lira devem ser mantidos, uma vez que os acordos são fechados em bloco. Já as escolhas pessoais do alagoano passam por incertezas.

Na esfera nacional, a dúvida sobre a manutenção é mais forte e há maior relação com o próximo presidente da Casa. Um exemplo é o cargo da presidência da Caixa. Mesmo sendo um nome de Lira, a importância da função exige uma indicação que seja alinhada com a bancada. Para parlamentares, a manutenção de Carlos Vieira vai depender da posição do PP em relação ao governo.

Já os cargos indicados por Lira na esfera estadual devem ser mantidos, na avaliação de parlamentares, porque nem o governo nem o próximo presidente da Câmara devem intervir nas estruturas e brigas políticas dos entes federados. Neste campo, por exemplo, estão as indicações de Alagoas e Ceará.

Na opinião do cientista político e sócio da Tendências Consultoria Rafael Cortez, a influência política de um representante tem a ver com o cargo que ocupa e, para isso, o alagoano terá que “encontrar um caminho” para exercer essa atuação. “Ao sair da presidência da Câmara, Lira terá o desafio de ter alguma relevância sendo um parlamentar ‘normal’”, disse.

“A influência [de Lira] deve durar até o fim de sua presidência. E, a depender da sua capacidade de influenciar os partidos, mesmo depois de ter saído, eventualmente ele ainda vai ter alguma influência”, comentou o cientista político. Em sua visão, é esperado que, ao deixar o cargo na presidência, Lira se empenhe para manter uma atuação nos cargos regionais e preservar os indicados e, assim, construir um projeto eleitoral de olho em 2026.

Lira não comenta

Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, Arthur Lira não comentou o conteúdo da reportagem. O Palácio do Planalto também não respondeu. Todas as instituições citadas foram procuradas. O único órgão que respondeu foi a Codevasf. Em nota enviada, a companhia disse que “a ocupação de cargos observa requisitos técnicos e de experiência estabelecidos pelas normas e leis aplicáveis”. “A Codevasf e seus representantes mantêm relacionamento institucional com parlamentares”, acrescentou.

Quais sãos os cargos apadrinhados por Lira no governo federal:

  • Presidência da Caixa;
  • Vice-presidente interino de Agente Operador da Caixa;
  • Vice-presidente Negócios de Atacado da Caixa;
  • Diretor-presidente da Caixa Assistência;
  • Superintendente Regional do Incra em Alagoas;
  • Superintendente da Codevasf em Alagoas;
  • Diretora de Irrigação da Codevasf;
  • Diretor da Codern do Cais do Porto de Maceió;
  • Presidente da CBTU;
  • Superintendente da CBTU em Maceió;
  • Diretor-geral do Dnocs no Ceará;
  • Coordenador do Dnocs em Alagoas;
  • Conselheira da Anatel;
  • Superintendente da Docas em Alagoas;
  • Superintendente do BNB em Alagoas;
  • Juiz do Tribunal Regional Federal da 1ª Região;
  • Desembargador federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Com informações do Estadão.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/lira-mantem-17-apadrinhados-no-executivo-e-no-judiciario-e-tenta-manter-indicacoes-mesmo-apos-deixar-presidencia-da-camara/