22 de setembro de 2024
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (13) que ainda não conversou com o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, sobre o indiciamento pela Polícia Federal (PF) por suspeita de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Lula disse que quer ter uma “conversa franca” com Juscelino assim que retornar de sua viagem à Suíça, onde embarcou na quarta-feira.

— Não tive (conversa). Fiquei sabendo ontem, obviamente não tenho essa pressa. Quando voltar, vou sentar e descobrir o que aconteceu de verdade. Se ele, em uma conversa franca com ele, porque eu digo para todo mundo, só você sabe a verdade. Se você cometeu erro, reconheça que cometeu. Se não cometeu, brigue pela sua inocência — afirmou Lula após participar do Fórum Inaugural da Coalizão Global para a Justiça Social, na 112ª Conferência Internacional do Trabalho, na Suíça.

Mais cedo, Lula disse aos jornalistas que o indiciamento não significa que o ministro tenha cometido um erro e que é preciso “provar inocência”.

— Eu acho que o fato de o cara estar indiciado não significa que ele cometeu um erro. Significa que alguém está acusando, e a acusação foi aceita. Agora, é preciso que as pessoas provem que são inocentes.

O inquérito da PF investiga suspeitas de desvio de emendas parlamentares para pavimentação de ruas de Vitorino Freire, no interior do Maranhão, quando Juscelino ainda era deputado federal.

É a primeira vez que um integrante do primeiro escalão do atual mandato de Lula é indiciado, aumentando a pressão, vinda do PT, pela demissão do ministro. No entanto, uma troca é vista como improvável no Palácio do Planalto, dado o desgaste que o governo enfrenta no Congresso. Em nota, Juscelino negou irregularidades e apontou “ação política” da corporação.

A cidade maranhense é comandada pela irmã de Juscelino, Luanna Rezende, que chegou a ser afastada do cargo no ano passado, mas retomou o mandato após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

A emenda parlamentar investigada foi indicada quando Juscelino ainda era parlamentar, antes de assumir o cargo no governo. O dinheiro foi enviado por meio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no Maranhão.

Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que 80% da estrada custeada pela emenda beneficiou propriedades de Juscelino e seus familiares na região. O documento da CGU foi revelado pelo jornal “Folha de S. Paulo”.

A obra de pavimentação da estrada foi orçada em R$ 7,5 milhões e feita pela Construservice, que, segundo a investigação, tinha como sócio oculto o empresário Eduardo José Barros Costa, mais conhecido como “Eduardo DP” ou “Imperador”. Ele nega irregularidades. Ao longo do inquérito, a PF teve acesso a mensagens trocadas entre Juscelino e o empresário.

Em uma conversa de 18 de janeiro de 2019, Juscelino passa ao interlocutor o nome de uma pessoa e indica o valor de R$ 9,4 mil. No dia seguinte, Costa responde com um recibo de depósito efetuado. O empresário ainda troca mensagens com seu irmão, responsável por sua movimentação financeira, explicando o pagamento.

“Isso é do Juscelino, lá de Vitorino, o deputado. Faz isso aí, que a terraplanagem daquela pavimentação quem fez foi ele. É para descontar, viu?”, diz Eduardo ao parente em uma mensagem de áudio.

O relatório final da PF foi encaminhado na quarta-feira ao STF, com o relator sendo o ministro Flávio Dino, colega de Juscelino no governo Lula.

Na quarta-feira, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), cobrou uma decisão do partido de Juscelino.

— Tem um fato novo, indiciamento. O presidente está Genebra. Ele vai ser informado de tudo e vai tomar uma decisão. Na verdade, quem teria que tomar uma decisão é o partido dele — disse Wagner.

O União Brasil defendeu seu filiado e afirmou que há suspeitas de uma atuação “direcionada e parcial” da PF na apuração.

Em março do ano passado, quando as suspeitas surgiram, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu que Juscelino se afastasse para explicar o caso.

Na ocasião, o União Brasil rebateu a fala da dirigente petista. Integrantes do PT voltaram a pressionar pela sua troca, argumentando que o União Brasil, apesar de possuir três ministérios, entrega menos votos do que deveria aos projetos do governo.

No fim de maio, na manutenção do veto que travou a criação do crime de “comunicação enganosa em massa”, houve 51 votos de deputados da sigla contra o governo e apenas um a favor.

Auxiliares do presidente consideram que demitir Juscelino devido ao indiciamento da PF abriria um precedente que teria que ser aplicado a qualquer outro ministro implicado em investigações. O indiciamento pela PF, apontam, é apenas uma etapa, não representando uma declaração de culpa.

Caberá agora à Procuradoria-Geral da República (PGR) avaliar o caso e decidir se pede mais diligências, se arquiva as suspeitas ou se apresenta uma denúncia.

Em nota, Juscelino Filho afirmou que a investigação “parece ter se desviado de seu propósito original” e repete métodos da Lava-Jato. “O indiciamento é uma ação política e previsível, que parte de uma apuração que distorceu premissas, ignorou fatos e sequer ouviu a defesa sobre o escopo do inquérito. Não há absolutamente nada que envolva minha atuação no Ministério das Comunicações”, afirmou o ministro, reclamando que a PF fez uma “devassa” sobre ele e familiares e conclui:

“A investigação revira fatos antigos e que sequer são de minha responsabilidade enquanto parlamentar. No exercício do cargo como deputado federal, apenas indiquei emendas parlamentares para custear obras. A licitação, realização e fiscalização dessas obras são de responsabilidade do Poder Executivo e dos demais órgãos competentes”, apontou.

Lula embarcou na quarta-feira para a Suíça e, depois, seguirá para a Itália, retornando a Brasília no domingo. Auxiliares avaliam que o petista só deve conversar com o ministro após retornar da viagem.

Com informações de O Globo.  

Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-avisa-que-tera-conversa-franca-com-juscelino-quando-voltar-de-viagem-para-saber-o-que-aconteceu-de-verdade/