Sete meses após trocarem elogios e gestos de cordialidade no lançamento do edital para a construção do túnel Santos-Guarujá, o presidente Lula (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não estarão juntos nesta sexta-feira (6) no leilão de concessão da obra.
O governo federal será representado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), sinalizando a mudança no clima político entre os dois principais nomes do cenário eleitoral de 2026.
A justificativa oficial e o bastidor político
O Planalto afirma que Lula não tem comparecido a eventos desse tipo, mesmo com aliados, como no lançamento da ponte Salvador-Itaparica em junho. Mas, nos bastidores, a ausência é interpretada como estratégia para não dar visibilidade ao governador, que ganha fôlego como possível adversário do petista na disputa presidencial.
Tarcísio passou parte da semana em Brasília articulando uma proposta de anistia para Jair Bolsonaro (PL), movimento que reforçou a leitura de que se prepara para concorrer ao Planalto.
Do clima amistoso à disputa aberta
No lançamento do edital do túnel, em fevereiro, Lula e Tarcísio sentaram lado a lado, trocaram cochichos e elogios. O presidente chegou a brincar sobre a foto tirada na ocasião:
“Eu sei que tem muita gente do seu lado que não gosta de você estar sentado comigo. E tem gente do meu lado que não gosta de eu estar sentado com você. [Que a] fotografia que foi tirada hoje marque um novo momento da história do Brasil.”
Desde então, os dois não participaram juntos de nenhum evento. Lula esteve em São Paulo várias vezes, mas não se encontrou com o governador. Em julho, durante anúncio de investimentos em Osasco, o presidente alfinetou a ausência de Tarcísio: “Convido prefeito e governador para todos os eventos que faço porque estou em missão institucional.”
A relação foi se desgastando em episódios públicos de disputa por protagonismo. Em março, a Toyota anunciou investimento de R$ 11,5 bilhões. Tarcísio comemorou em Sorocaba, e dias depois Lula também foi à fábrica, em evento separado. Em junho, Lula anunciou programa habitacional em São Paulo, enquanto Tarcísio, no mesmo dia, entregava casas no ABC paulista.
Troca de farpas e olho em 2026
As divergências se acentuaram com críticas mútuas em temas de política externa e economia. Após os EUA sobretaxarem produtos brasileiros, Tarcísio acusou Lula de colocar “ideologia acima da economia”. O presidente reagiu associando o governador ao ex-presidente americano: “Não vale tentar esconder o chapeuzinho do Trump não, Tarcísio. Está cheio de lobo com pele de carneiro.”
Mais recentemente, os ataques se concentraram nas eleições de 2026. Tarcísio afirmou que o “Brasil não aguenta mais o Lula”. O petista rebateu dizendo que o governador “vai fazer o que o Bolsonaro quiser. Sem o Bolsonaro ele não é nada.” Tarcísio minimizou: “Nem ligo.”
Pesquisas mostram Lula à frente em todos os cenários de segundo turno. Já Tarcísio lidera a corrida pela reeleição em São Paulo, com 43% das intenções de voto, contra 21% de Geraldo Alckmin, segundo a Genial/Quaest.
O túnel esperado há um século
O túnel Santos-Guarujá, planejado desde 1927, será o primeiro do tipo imerso no Brasil. A expectativa é reduzir o tempo de travessia entre as cidades de 20 para 2 minutos. Atualmente, a ligação é feita pela rodovia Cônego Domenico Rangoni (SP-055) ou por balsas que levam cerca de 18 minutos.
O contrato de concessão terá duração de 30 anos e prevê uma parceria público-privada para construção, operação e manutenção. O investimento está estimado em R$ 6,8 bilhões, dos quais até R$ 5,1 bilhões virão de aportes públicos, divididos igualmente entre governo federal e governo paulista.
O projeto, símbolo de uma disputa política cada vez mais evidente, deverá marcar o contraste entre dois líderes que, de aliados circunstanciais em fevereiro, hoje se consolidam como potenciais rivais no horizonte de 2026.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-e-tarcisio-evitam-dividir-palco-em-leilao-do-tunel-santos-guaruja-que-acontece-nesta-sexta/
