
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prestou homenagem nesta terça-feira (2) ao jornalista Mino Carta, morto aos 91 anos em São Paulo. Nas redes sociais, o petista publicou uma foto ao lado do fundador da Carta Capital e da Veja, a quem chamou de “amigo”, e ressaltou que o profissional foi decisivo para a história da imprensa brasileira.
Recebi com muita tristeza a notícia da morte de meu amigo Mino Carta, ocorrida na madrugada deste 2 de setembro. Ele fez história no jornalismo brasileiro: criou e dirigiu algumas de nossas principais revistas (Veja, Isto é, Quatro Rodas, Carta Capital, Jornal da Tarde, Jornal da… pic.twitter.com/R86jlszgdu
— Lula (@LulaOficial) September 2, 2025
“Ele, pela primeira vez, deu destaque nas revistas semanais para as lutas que nós, trabalhadores reunidos no movimento sindical, estávamos fazendo por melhores condições de vida, por justiça social e democracia. Foi ele quem abriu espaço para minha primeira capa de revista, na IstoÉ, em 1978. Desde então, nossas trajetórias seguiram se cruzando. Eu, como liderança política, ele, como um jornalista que, sem abdicar de sua independência, soube registrar as mudanças do Brasil”, afirmou Lula.
O presidente lembrou que conheceu Mino Carta há cerca de 50 anos e destacou a coragem do jornalista em denunciar abusos e dar voz àqueles que lutavam contra a ditadura militar. “Estas décadas de convivência me dão a certeza de que Mino foi – e sempre será – uma referência para o jornalismo brasileiro por sua coragem, espírito crítico e compromisso com um país justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras”, escreveu.
Legado político e jornalístico
Lula citou episódios em que Carta desempenhou papel central na política nacional, como sua atuação para aproximá-lo de Ulysses Guimarães e Franco Montoro durante a campanha das Diretas Já. Sob sua direção, a revista IstoÉ foi a primeira a publicar uma entrevista com o então líder sindical de São Bernardo do Campo, que despontava no cenário político no fim dos anos 1970.
“Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou”, destacou Lula.
Repercussão entre políticos e jornalistas
A morte de Mino Carta também gerou manifestações de pesar de parlamentares e colegas de profissão. O deputado Bohn Gass (PT-RS) o definiu como “um dos maiores jornalistas de todos os tempos” e “um democrata de verdade”. Orlando Silva (PCdoB-SP) escreveu que se tratava de um “intelectual refinado”, cujo texto impecável deixará falta em tempos de desinformação.
A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) chamou o jornalista de “gigante do jornalismo brasileiro” e agradeceu por “abrir caminhos” e usar a comunicação como “trincheira de resistência”.
Da Itália ao Brasil: uma vida dedicada ao jornalismo
Nascido em Gênova, na Itália, em 1932, Mino Carta era a terceira geração de jornalistas em sua família. Seu avô Luigi Becherucci foi diretor do jornal Caffaro, destituído após a ascensão do fascismo. O pai, Giannino Carta, chegou a ser preso em 1944 por se opor a Mussolini e fugiu após uma revolta de carcereiros. Ao se mudar para o Brasil, descobriu que o emprego prometido havia desaparecido, mas acabou abrindo caminho para a carreira do filho.
Mino começou a escrever em 1950, por acaso, substituindo o pai em artigos sobre a Copa do Brasil para jornais italianos. “A partir daí, percebi que a felicidade não era tão cara e podia ser alcançada escrevendo”, recordou, em 2008.
Com apenas 27 anos, assumiu a direção da revista Quattroruote no Brasil, da editora Abril. De lá, passou a dirigir projetos inovadores: participou da criação do Jornal da Tarde em 1966, fundou a Veja em 1968, a IstoÉ em 1976 e, mais tarde, a Carta Capital, em 1994. Também fundou o Jornal da República em 1979, considerado por ele um “fracasso”, mas lembrado como um marco de ousadia editorial.
Adeus ao “humanista” da imprensa
Ao longo de sete décadas de carreira, Mino Carta consolidou-se como uma das vozes mais críticas da imprensa. Mesmo nos últimos anos, manteve seu olhar atento às transformações da profissão. Adepto da máquina de escrever Olivetti, rejeitava a revolução digital. “Em lugar de praticar um jornalismo realmente ativo, na busca corajosa pela verdade, a imprensa está sendo engolida e escravizada pelas novas mídias”, lamentou em entrevista a Lira Neto em 2023.
Autor de romances como Castelo de Âmbar (2000), A Sombra do Silêncio (2003) e A Vida de Mat (2016), além de ensaios e crônicas, deixou um legado que atravessa a literatura e o jornalismo.
A Carta Capital informou que Mino enfrentava problemas de saúde havia um ano e estava internado havia duas semanas na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Sua morte encerra uma trajetória marcada por coragem editorial, inovação e compromisso com a democracia.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/lula-presta-homenagem-a-mino-carta-e-lembra-papel-do-jornalista-na-luta-por-democracia-meu-amigo-fez-historia/