“Malafaia parece mais com Bolsonaro do que com Jesus”, diz Otoni de Paula – Agenda do Poder

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), que já foi alvo de ataques do pastor Silas Malafaia, criticou nesta quarta-feira (21) a narrativa do líder religioso de que estaria sofrendo perseguição religiosa por parte das autoridades. “Malafaia parece mais com Bolsonaro do que com Jesus”, afirmou o parlamentar em entrevista à VEJA.

Segundo Otoni, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo atua hoje mais como agente político do que religioso. “Ele é mais político do que qualquer um de nós que temos mandato”, disse o deputado, que também é pastor da Assembleia de Deus Missão e Vida.

Na terça-feira (20), a Polícia Federal (PF) cumpriu mandado de busca e apreensão contra Malafaia, investigado por atuar como “orientador e auxiliar das ações de coação” atribuídas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), de acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Desde que passou a ser alvo do inquérito, Malafaia tem publicado vídeos nas redes sociais em que alega estar sendo perseguido por sua fé. Em uma das gravações, relatou a apreensão de cadernos com anotações bíblicas e acusou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de “perseguição política e religiosa”.

O relatório da PF, no entanto, mostra que o pastor mantinha trocas de mensagens diretas com Bolsonaro. Em uma delas, chegou a chamar Eduardo de “babaca” e “idiota”. Conhecido por seu discurso inflamado, Malafaia já mirou contra o próprio Otoni, a quem apelidou de “comunista gospel” durante disputas pela presidência da Frente Parlamentar Evangélica. O deputado diz ter recebido áudios do pastor com ameaças de divulgar vídeos “acabando” com sua reputação.

Para Otoni, não cabe falar em perseguição à fé. “Seria perseguição religiosa se Silas estivesse nesse inquérito por orar, por pregar em praça pública, por evangelizar. Mas não é o caso. Podemos até questionar, como cidadãos, se ele extrapolou ou não sua liberdade de expressão. O que não existe é perseguição contra a igreja ou contra os pastores do Brasil. Essa briga não é nossa, não é da igreja”, avaliou.

O parlamentar, que já foi próximo de Bolsonaro mas hoje se afasta do bolsonarismo e prepara sua saída do MDB, concluiu que parte das lideranças evangélicas viveu nos últimos anos uma espécie de “paixão política” centrada no ex-presidente.