
Reportagens de veículos de imprensa de diferentes países apontam que a nova rodada de tarifas anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil rompe padrões diplomáticos tradicionais e transforma a política comercial em instrumento de pressão ideológica.
A cobertura foi publicada por jornais como Der Spiegel (Alemanha), El País (Espanha), The New York Times (EUA) e The Guardian (Reino Unido), conforme levantamento divulgado pela Deutsche Welle Brasil nesta quinta-feira (10).
Ao justificar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, Trump citou explicitamente o processo criminal por tentativa de golpe contra Jair Bolsonaro, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). A declaração causou perplexidade em analistas e veículos internacionais, que enxergam na atitude um uso inédito das barreiras comerciais como retaliação a uma decisão judicial em um país estrangeiro.
Segundo o jornal alemão Der Spiegel, Trump abandonou até mesmo os frágeis argumentos econômicos que normalmente embasam suas decisões tarifárias. “O caso do Brasil é diferente: a tarifa de 50% é abertamente motivada por razões políticas”, escreveu o periódico, observando que o cálculo de déficit comercial – base para outras medidas semelhantes – foi ignorado dessa vez.
O El País, da Espanha, classificou a decisão como uma escalada sem precedentes na guerra comercial promovida por Trump desde seu retorno à Casa Branca, em janeiro. Para o jornal, o presidente dos EUA cruzou um limite ao usar tarifas para “pressionar países que não compartilham sua visão de mundo”. O texto afirma que o gesto representa “um antes e um depois” na forma como tarifas são empregadas como ferramenta de coerção política.
Nos Estados Unidos, o The New York Times também criticou duramente a medida. O jornal destacou que os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China, e advertiu que o impacto econômico pode ser devastador. A publicação ainda desmentiu Trump, que afirmou que os EUA têm um déficit comercial com o Brasil. “Na realidade, os Estados Unidos tiveram um superávit de US$ 7,4 bilhões no comércio bilateral no ano passado”, afirmou o NYT.
Já o britânico The Guardian chamou a estratégia de “errática” e alertou para o risco de alta inflacionária nos próprios Estados Unidos. A análise da consultoria Oxford Economics mencionada pela publicação mostra que a tarifa efetiva média dos EUA sobre importações deve subir para cerca de 20% após a nova rodada de sanções, aproximando-se do patamar que pode provocar recessão.
Ao anunciar as tarifas, Trump escreveu nas redes sociais: “Reduzi os custos mais do que qualquer presidente na história. Os democratas corruptos estão usando a narrativa oposta, embora saibam que é uma MENTIRA total”. A retórica inflamada, segundo analistas, reflete o uso crescente de temas econômicos para alimentar sua base eleitoral, inclusive com apelos internacionais, como no caso do Brasil.
Apesar das ameaças, ainda não há confirmação oficial de quais produtos brasileiros serão afetados diretamente. O governo brasileiro avalia respostas diplomáticas e jurídicas, enquanto parlamentares já articulam reações com base na Lei da Reciprocidade Econômica aprovada este ano.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/midia-internacional-critica-trump-por-tarifar-o-brasil-em-apoio-a-bolsonaro/