O bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino, faleceu na tarde desta terça-feira (13), aos 92 anos, em São Paulo. A informação foi publicada pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. Amigo próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde os anos 1970, o religioso teve papel de destaque na luta por direitos sociais e na resistência à ditadura militar.
Dom Angélico e Lula se conheceram no período das históricas greves do ABC paulista. Na época, o bispo atuava na Pastoral Operária e se tornou uma das principais vozes da Igreja Católica em defesa dos trabalhadores. O presidente, ao visitá-lo no início de abril, referiu-se a ele como “o maior bispo do Brasil”. A visita emocionou profundamente o religioso, que se levantou da cadeira pela primeira vez em muito tempo, segundo relato do padre Antônio Leite Barbosa Júnior, o padre Toninho, da Arquidiocese de São Paulo.
O vínculo com Lula foi além das lutas políticas. Dom Angélico batizou netos do presidente, ungiu dona Marisa Letícia no leito de morte, rezou suas missas de corpo presente e de sétimo dia, e celebrou, em 2022, o casamento de Lula com a socióloga Rosângela da Silva, a Janja. Em 2018, ele também conduziu o ato ecumênico em homenagem a Marisa, realizado momentos antes de o ex-presidente se entregar à prisão.
Sua trajetória foi marcada por coragem e coerência. Ligado ao cardeal dom Paulo Evaristo Arns, dom Angélico desafiou a repressão militar e posicionou-se publicamente em defesa das vítimas de injustiça social. Em junho de 2023, criticou duramente o projeto de lei que previa a prisão de adolescentes que abortassem após estupro. “O aborto é um crime. Está certo. Mas espera um pouco! A mulher é frequentemente a maior vítima dessa situação. O que mais há na sociedade é machismo”, declarou à coluna da Folha.
Na mesma entrevista, reforçou seu posicionamento humanitário: “A pessoa jamais poderia ser punida, porque é vítima. Chegou o momento de focarmos nesta problemática de maneira global, e não somente de criarmos leis para aumentar a punição”.
A missa de corpo presente será celebrada às 15h desta quarta-feira (16), na Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Vila Zat, em Pirituba, zona norte da capital paulista. A cerimônia será presidida pelo cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer. Em seguida, o corpo será levado para Blumenau (SC), onde dom Angélico será sepultado na catedral da cidade, da qual foi o primeiro bispo.
Sua morte encerra uma vida dedicada à fé, à justiça social e à defesa dos mais vulneráveis — uma missão vivida com firmeza, ternura e profunda espiritualidade.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/morre-dom-angelico-bispo-que-enfrentou-a-ditadura-e-marcou-a-trajetoria-de-lula/
