
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fez duras críticas nesta segunda-feira (4) à recente atuação do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em defesa de Jair Bolsonaro. A declaração foi dada durante a cerimônia de comemoração dos 80 anos do Instituto Rio Branco, no Itamaraty, em Brasília.
Sem citar nomes diretamente, Vieira condenou o que classificou como “um ultrajante conluio” entre brasileiros e forças estrangeiras que estariam tentando pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) por meio de ameaças econômicas. “A Constituição cidadã não está e nunca estará em qualquer mesa de negociação. Nossa soberania não é moeda de troca diante de exigências inaceitáveis”, afirmou o chanceler.
Tarifaço usado como pressão política
As falas foram uma resposta indireta ao anúncio feito por Trump em 9 de julho, quando o ex-presidente americano declarou a imposição de uma sobretaxa de 50% sobre exportações brasileiras. Segundo ele, a medida estaria condicionada à suspensão de um processo judicial no STF contra Bolsonaro, que responde por sua suposta participação em tentativa de golpe de Estado.
O ministro ressaltou que o Brasil é uma democracia sólida, com instituições resilientes e com um histórico de mais de quatro décadas de estabilidade política e respeito às liberdades civis. “Nossa sociedade democrática e suas instituições derrotaram uma tentativa de golpe militar, cujos responsáveis estão hoje no banco dos réus, em processos transparentes, transmitidos pela TV em tempo real”, declarou.
Vieira também afirmou ter orgulho de liderar o Itamaraty na defesa do país frente a ataques internos com apoio externo. “Nesse ultrajante conluio que tem como alvo a nossa democracia, os fatos e a realidade brasileira não importam para os que se erigem em veículo antipatriótico de intervenções estrangeiras”, disse.
Vieira se encontrou com secretário de Defesa dos EUA
O chanceler voltou ao tema dias após ter se reunido, em Washington, com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. Segundo ele, a reunião foi marcada por um recado claro: “O Brasil é independente e não se curva a pressões externas”. Foi o primeiro encontro oficial entre os dois diplomatas desde que Trump reassumiu a presidência norte-americana, em janeiro de 2025.
Na avaliação de Mauro Vieira, qualquer tentativa de interferência estrangeira nos assuntos internos do país é “inaceitável e descabida”, principalmente quando envolve decisões do Poder Judiciário. O ministro reforçou que o processo contra o ex-presidente Bolsonaro seguirá tramitando dentro dos marcos legais e com respeito às garantias constitucionais.
Ao concluir seu discurso, Vieira deixou um aviso: “Saudosistas declarados do arbítrio e amantes confessos da intervenção estrangeira não terão êxito”. A fala foi interpretada como um recado direto a setores bolsonaristas que, com apoio do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, têm buscado respaldo internacional para pressionar autoridades brasileiras.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/nossa-soberania-nao-e-moeda-de-troca-mauro-vieira-reage-a-pressao-de-trump-a-favor-de-bolsonaro/