5 de novembro de 2024
Nunes revela incômodo com postura ambígua de Bolsonaro sobre Marçal
Compartilhe:

Reeleito prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) expressou descontentamento com a postura ambígua de Jair Bolsonaro (PL) durante sua campanha, especialmente no que se refere ao apoio ao candidato Pablo Marçal (PRTB). “Eu não gostei, lógico”, afirmou Nunes sobre as falas contraditórias do ex-presidente, mas destacou que Bolsonaro ainda foi “muito importante” em momentos decisivos do processo eleitoral.

Nunes, que liderará a prefeitura paulistana pelos próximos quatro anos, revelou suas prioridades para a nova gestão, incluindo o envio de um projeto à Câmara Municipal para acelerar os processos tributários da cidade, a possibilidade de reajustar a tarifa de ônibus e a ampliação de parcerias com o setor privado na educação. Ele também mencionou a influência de Marçal, reconhecendo que aprendeu com o adversário a necessidade de aprimorar o uso das redes sociais.

Em entrevista concedida no Palácio do Anhangabaú, Nunes defendeu que o MDB ouça “a voz das urnas” em 2026, indicando que o partido não deve apoiar a reeleição do presidente Lula (PT), mesmo integrando a base do governo. Ele considera o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como o nome ideal para representar a direita no próximo pleito, caso Bolsonaro permaneça inelegível.

Leia a íntegra da entrevista publicada em O Globo

Na festa da vitória, o senhor agradeceu muito ao governador Tarcísio de Freitas e disse que o sobrenome dele é “futuro”. Essa é a sua preferência para o campo da direita e para a Presidência em 2026?

Eu acho que é um bom nome. Ele não quer de jeito nenhum, mas é um cara muito preparado. Evidentemente, a prioridade é do presidente (Jair) Bolsonaro, que representa a direita a nível nacional. Se por acaso ele se mantiver inelegível, aí com certeza acho que o Tarcísio vai acabar sendo chamado para essa função, sem nenhum demérito ao Ratinho (Júnior), ao (Ronaldo) Caiado.

Se o Tarcísio for chamado, o senhor será candidato ao governo do estado?

Não.

Mas tem essa ideia?

Não. Tem uma semana que eu fui eleito. Não tenho essa pretensão. Acho que eu preciso concluir os quatro anos para poder colocar em prática tudo aquilo que eu planejei.

E o que você acha de Bolsonaro não ter subido no seu palanque?

Ele subiu, no dia da convenção. Quando o Bolsonaro trouxe o PL para nos apoiar, trabalhando para indicar o nome do coronel Mello pra vice, ele depois acabou tendo sucesso de conseguir convencer os outros partidos. Foi uma contribuição importante que ele trouxe pra campanha.

Mas em alguns momentos ele ficou em cima do muro, chegou a dizer que o Marçal era um cara muito inteligente, muito preparado, disse que o senhor não era o candidato ideal. Como encarou isso?

Se eu falar pra você que eu achei bacana ele falar que eu não era o candidato ideal, eu não gostei. Não tem como falar que eu gostei. Eu não gostei, lógico. E ele sabe que eu não gostei sem que eu precisasse ter falado pra ele. Teve esses momentos, mas teve os momentos muito importantes que ele falou que o Marçal é uma coisa estragada, ele fez uma live com o coronel Mello, falou “meu candidato é o Ricardo”. A Michele Bolsonaro foi lá na publicação do Marçal, ele tinha fixada uma foto dele com o Bolsonaro no Instagram, aí a Michele escreveu “o nosso candidato é o Ricardo Nunes”. Eles ajudaram bastante.

Qual foi o pior momento da campanha?

O pior momento foi quando eu dei uma caída no final de agosto. E foi quando o Tarcísio mais entrou na campanha, ajudou. Por exemplo, na Assembleia de Deus Belém. Um dia o Marçal foi lá, pediu uma oração e publicou “eu tenho apoio da Assembleia”, e não era nada daquilo. Eu tinha ido lá dois dias antes, tive que ir dois dias depois!

Mas o senhor herdou muitos votos que no 1º turno foram para o Marçal.

Sim, eu tive a sensação de que ele tinha mais rapidez de implantar as mentiras do que eu tinha para desfazer as mentiras. Porque ele tem uma rede social muito forte.

Isso não é um fator de aprendizado, essa questão do uso das redes sociais? O Marçal deixou alguma lição?

Eu aprendi com ele o que não fazer. Mas rede social é algo que a gente precisa dar mais atenção. Eu nunca fui muito focado em rede social, mas é algo que a gente precisa trabalhar mais.

Em relação ao público mais jovem, oportunidades, empreendedorismo, isso não ficou de lição? Porque o Marçal conseguiu atingir esse público.

Isso é verdade. A gente já fazia bastante coisa, mas não comunicava. Ele enxergou muito mais isso, de comunicar para esse público, e acabou que esse público criou uma grande simpatia por ele. Foi aí que comecei a reforçar falando dos nossos trabalhos, o Avança Tech, o Meu Trampo, que ajuda a empreender. Agora, o que eu vou fazer? Vou dar uma empacotada, e isso vai ser o Empreende SP, colocar a palavra empreender nas políticas públicas para os jovens.

Para a eleição de 2026, qual é a sua posição?

A minha posição é que a gente escute a voz das urnas. A população não está mais nessa história de esquerda, ainda mais a esquerda caviar, que fala, fala e não faz nada.

Boulos é da esquerda caviar?

Não, esse aí é a esquerda podre. A população quer prosperar, ser atendida, ter uma gestão responsável, ter responsabilidade fiscal. Eu, como prefeito de São Paulo, na experiência da minha eleição, não tem o menor sentido defender que o meu partido apoie o governo Lula. A minha posição é de apoiar quem me apoiou.

Com essa eleição, o senhor vai ter uma voz mais forte dentro do MDB?

Naturalmente. Todo partido vai demonstrando a força das suas lideranças pelo voto. Quem manda na política é quem tem voto. Quem não tem voto, passa vontade.

Pretende extinguir alguma secretaria?

A gente já diminuiu tanto, não tem mais o que diminuir. Mas eu acho que quando a gente vai pegando muitas ações, em vez da gente trocar secretarias, fazendo concessões e PPPs você já vai conseguindo tirar o peso das secretarias.

Considera que Tarcísio errou ao falar sobre a suposta posição do PCC em relação a Boulos no dia da eleição?

Não foi uma informação que ele trouxe para a imprensa, ele só comentou uma reportagem, respondeu a uma pergunta de um jornalista. Ele poderia ter falado o seguinte ‘leia a matéria’, mas a gente estava tão tranquilo da vitória. Não teve maldade nisso da parte dele, de jeito nenhum.

Para a próxima gestão, qual é o primeiro projeto que será enviado à Câmara?

É o que cria o Conselho de Segurança Tributária. Ele vai garantir para o contribuinte transparência nas ações, redução do tempo dos procedimentos administrativos da Fazenda e ainda aprimorar a questão da segurança jurídica do contribuinte.

A tarifa de ônibus vai subir?

Eu ainda não sei. A minha vontade é que a gente mantenha a tarifa (R$ 4,40) porque tenho tratado a questão não só olhando a planilha de custos, mas dentro do contexto da política de mobilidade, de incentivar o transporte coletivo. Eram 9 milhões de passageiros em 2019, hoje são 7 milhões. Agora, preciso ver a planilha em dezembro. Não posso tirar dinheiro da Saúde e da Educação. Depende de subsídio (R$ 5,6 bilhões em 2023), do valor do petróleo e da política econômica nacional, que está muito ruim. O dólar também chegou ao maior nível os últimos anos. Tudo isso impacta.

O senhor deixou de entregar obras que estavam no plano de metas e que não foram cumpridas. Nenhum CEU foi entregue (a meta era entregar 12). A promessa era viabilizar 40 km de novos corredores de ônibus, mas, segundo o relatório mais recente, até julho havia 6,8 km em obras, nenhum novo corredor entregue. Em relação às ciclovias, a meta era entregar 300 km e foram entregues 100 km. Por que essas metas não foram cumpridas?

Você pega corredor, era viabilizar 40, a gente viabilizou 72 quilômetros. Então, na verdade, a gente está entregando mais do que estava previsto no plano de metas. Aí tem mais BRT Radial Leste, BRT Aricanduva…

Mas que também não foram entregues.

Mas já está contratado. Quando a gente contrata é porque passamos por todo o processo. Primeiro é o dinheiro. Projeto grande é complexo, mas está tudo feito. Agora, o plano de metas, vocês têm uma visão distorcida. O plano de metas não é algo que você não vai fazer uma adequação de acordo com as necessidades da população. Por exemplo, estava previsto colocar mil guardas metropolitanos, eu coloquei 2 mil. Os institutos de pesquisa dizem que a maior preocupação da população é a segurança. Não estava previsto aumentar a Operação Delegada: eu tinha 400 policiais militares, agora são 2.400. Tem muita coisa que você vai adequando, tem metas que a população vai definindo que são mais importantes. Mas a gente vai ter um percentual de realização muito maior do que qualquer outro prefeito.

Qual o plano efetivo para a segurança que a prefeitura tem, sem depender do governo estadual?

O que vai fazer uma diferença gigantesca é o Smart Sampa. A hora que o cara for lá e roubar um celular, a gente vai fazer o reconhecimento facial dele e monitorar e ele não vai ter como fugir mais. A gente vai dar para a Polícia Civil uma condição de informações que só não vai prender se não quiser.

E a proposta de alguns adversários seus da prefeitura de fiscalizar estabelecimentos que vendem celulares roubados, verificar a nota fiscal?

Ah, mas aí é brincadeira da Tabata (Amaral).

Mas não é possível a prefeitura fiscalizar esses locais, por exemplo, na Santa Ifigênia, quem vende celular roubado ou peças de celulares roubados?

Mas eles não vendem lá esses celulares que são roubados. O que a gente tem de informação é que eles mandam esses celulares para a África. Mas a fiscalização, a gente fiscaliza o estabelecimento, né? Agora o produto, a gente pode fazer essa ação conjunta com a Secretaria estadual da Fazenda, com algum órgão que tenha a capacidade de identificar a origem.

Cercar a Praça da República é uma solução para a violência na região?

Não, e não vou fechar. A Praça da República tem muito fluxo. A Praça Princesa Isabel, por exemplo, foi fechada, mas ali não tinha fluxo, o pessoal ia lá passear. Tinha uma situação específica que era tirar dali a cracolândia.

Pretende privatizar mais equipamento ou estrutura da cidade que atualmente é gerida pela prefeitura ou fazer mais PPPs?

A gente vai fazer bastante coisa. Por exemplo, o Parque Dom Pedro, nós vamos fazer a concessão. A Esplanada da Liberdade nós vamos fazer a concessão. A gente soltou agora o projeto do parque do Campo de Marte, que também será concessão. Meu desejo é desapropriar o Jockey Clube e fazer concessão para virar parque. O VLT do Centro, a concessão da loteria municipal, a orla da Guarapiranga vai ser PPP.

Para finalizar, de quem o senhor não compraria um carro usado?

De nenhum deles.

Nem da Tabata?

De jeito nenhum. Muito discurso e pouca prática. Você pode gostar ou não gostar de mim, mas tem que saber o que eu defendo verdadeiramente. Ela tinha que ter falado para as pessoas, ‘olha, eu sou contra o aumento de pena de criminosos, eu sou a favor da saidinha, da legalização de drogas’, tudo bem. Agora, fica ali com conversa…

Fonte: https://agendadopoder.com.br/nunes-revela-incomodo-com-postura-ambigua-de-bolsonaro-sobre-marcal-durante-campanha-nao-gostei-logico/