*César Fernandes
Durante algumas décadas, logo depois de redemocratização brasileira, com a promulgação da Constituição brasileira, a Constituição Cidadã, o Brasil caminhava para sua afirmação como potência emergente no cenário internacional. Naqueles tempos, era consenso entre governo e economistas – e na imprensa – que a indústria capitaneava o desenvolvimento. Uma indústria que precisava de um mercado forte, incentivado pelo consumo, e condições econômicas governamentais favoráveis que oferecessem créditos favoráveis para a modernização do parque industrial e atração de empresas de ponta com tecnologias de ponta.
E então o capitalismo se moderniza, os grandes investidores deixam as grandes e poderosas famílias e a mitológica figura da senhora acionista, que impedia decisões que julgava prejudiciais ao seu dinheiro acumulado em uma vida, e passa a ser constituído de fundos de capital. Investidores internacionais em busca de lucro, um capital apátrida olhando melhores oportunidades em um mundo globalizado ainda em transformação. A busca é por juros mais atraentes para seus investidores, e nessa procura em todo o mundo cabe um tanto de investimento em indústrias rentáveis: nada a ver com objetivos nacionais de desenvolvimento e cobertura de lacunas no parque industrial local, A voracidade é por mais dinheiro, que gira no chamado mercado, uma expressão moderna que não circulava na imprensa com a atual predominância.
E chegamos, já há algum tempo, ao momento atual do debate econômico, “o mercado está nervoso”, “o mercado reclama de medidas governamentais”, “o mercado apoia a alta de juros”, “o mercado apoia ampliações de medidas restritivas no pacote de corte de gastos do governo”, e por aí vai.
O debate econômico ficou reduzido ao mercado, que não produz bens materiais, que não cria vagas para absorção relevante de mão de obra…o mercado.
Por onde anda a indústria nacional que pagará o preço de juros elevados e, em alguns casos, com fechamento de fábricas e demissão em massa?
Qual opinião se lê ou se escuta na imprensa a favor da autonomia industrial de um país? De um plano de desenvolvimento nacional que inclua indústrias de ponta? De criação de polos industriais?
O que tem a dizer a indústria nacional?
*Jornalista
Fonte: https://agendadopoder.com.br/o-ocaso-da-industria-brasileira-no-debate-economico/