19 de janeiro de 2025
‘O petista Quaquá’, por Elio Gaspari
Compartilhe:

Elio Gaspari

O PT está obrigado a fingir que discute a expulsão do seu vice-presidente, Washington Quaquá, prefeito de Maricá (RJ). Ele se reuniu com familiares dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, acusados de serem os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. Um é deputado e o outro é conselheiro do Tribunal de Contas do Rio. Ambos estão presos. Quaquá defende o direito dos dois a um julgamento justo e diz não estar convencido de que sejam culpados.

Existe um PT de vitrine, e Quaquá é um petista-raiz. Entrou para o partido aos 14 anos, em 1985, e tornou-se um dos mais influentes quadros da sua política no Rio. Elegeu-se prefeito de Maricá em 2008. Reelegeu-se em 2012 e até hoje o PT governa o município. Quaquá voltou à prefeitura em 2024 com 74% dos votos.

Quando o bolsonarismo cabia num automóvel, Quaquá aproximava-se de seus simpatizantes com uma explicação capaz de defini-lo: “Só é contra quem adora teorizar a Baixada tomando chope em Ipanema.”

Maricá fica no mesmo Estado que a Baixada Fluminense, mas pertence a outro mundo. 70% da receita do município vêm de royalties do petróleo extraído em alto-mar. Em 2024 foram R$ 2 bilhões.

Com essa riqueza, Maricá foi a primeira cidade do país a instituir a Tarifa Zero nos transportes públicos. Lá foram entregues três mil casas do programa Minha Casa Minha Vida e um dos condomínios chamou-se “Carlos Marighella”. Outro ganhou o nome de um companheiro de militância da então presidente Dilma Rousseff. Em alguns deles faltavam serviços de água e esgoto.

De volta à prefeitura, Quaquá quer transformar Maricá na Cidade das Utopias. Além de obras viárias, promete instalar três teleféricos e criar a “maior piscina natural do mundo” num município que tem 46 quilômetros de praias. A obra prevê um quebra-mar de rochas com quatro quilômetros de extensão. Quaquá quer também trazer uma fábrica de aviões e instalar uma base de lançamento de foguetes no município.

Fora da utopia paroquial, Quaquá é um fiel companheiro de Lula. Em 2015, ele avisava: “Agrediu, devolvemos dando porrada”. Anos depois, na Câmara, esbofeteou o deputado Messias Donato e insultou Nikolas Ferreira. “Eles estavam xingando o Lula”, explicou.

Lurian, a única filha do presidente, foi contratada para o gabinete da deputada estadual Rosangela Zeidan, ex-mulher de Quaquá. Diego, filho do casal, foi vice-prefeito de Maricá e tornou-se secretário de Desenvolvimento Econômico Solidário do município do Rio.

Maricá tem uma estátua de Che Guevara, e Quaquá já gastou R$ 2 milhões contratando serviços de segurança privados.

Suas causas nem sempre são as do PT de vitrine. Ele defendeu o apoio a Arthur Lira na disputa à presidência da Câmara Federal em 2021 e nunca simpatizou com a candidatura de Guilherme Boulos à prefeitura de São Paulo. Quando ele foi batido com uma diferença de um milhão de votos, Quaquá comentou o resultado: “Crônica de uma morte anunciada”.

O PT de vitrine continuará fingindo que discute a expulsão de Quaquá. Mas ele continuará firme e forte dando cartas no Rio, alisando bolsonaristas, prometendo uma base de lançamento de foguetes e administrando sua receita de royalties por uma atividade industrial que se dá a quilômetros de Maricá.

Coluna publicada na edição de hoje (19) de O Globo

Fonte: https://agendadopoder.com.br/o-petista-quaqua-por-elio-gaspari/