A megaoperação policial realizada em 28 de outubro nos complexos da Penha e do Alemão — com 121 mortos, sendo quatro policiais — foi descrita por integrantes das forças de segurança como um cenário de guerra. Depoimentos prestados ao Ministério Público do Rio de Janeiro revelam bastidores da ação, considerada pelas próprias autoridades como uma ofensiva contra o quartel-general do Comando Vermelho (CV). Segundo o coronel Alex Benevenuto Santos, cerca de 800 fuzis estavam distribuídos nas comunidades, justificando a mobilização de 2,5 mil agentes.
Os relatos mostram que a megaoperação foi planejada durante 75 dias, com estudos e ações preparatórias em outras favelas. A estratégia previa que o Batalhão de Operações Especiais (Bope) avançaria pela parte alta e a Polícia Civil pela parte baixa, buscando cumprir dezenas de mandados contra a estrutura comandada por Edgar Alves de Andrade, o Doca, apontado como líder máximo do CV em liberdade.
O plano origina à megaoperação, porém, ruiu quando policiais civis foram alvejados na região da Vacaria. Os depoimentos afirmam que os criminosos montaram uma emboscada, atraindo equipes para terrenos vulneráveis e impossíveis de estabilizar. O Bope então deixou de atuar na contenção e passou a executar resgates sob fogo intenso — momento em que integrantes da tropa de elite foram mortos.
As forças de segurança reforçam que a resistência encontrada superou qualquer padrão anterior. Imagens aéreas mostraram traficantes usando roupas camufladas, coletes, mochilas e centenas de carregadores, operando em formação tática. Estima-se que mais de cinco mil disparos tenham sido feitos contra as equipes.
Delegados afirmam que o Complexo da Penha se consolidou como um território de soberania paralela, com líderes do crime de vários estados abrigados sob proteção de Doca. Segundo o MPRJ, criminosos monitoram a movimentação policial em tempo real, inclusive na Cidade da Polícia, alterando e adiando operações sempre que percebem movimentações atípicas.
A megaoperação terminou, além dos quatro policiais mortos, outros 13 feridos. Entre os relatos mais dramáticos, está o do delegado Bernardo Leal, que teve a perna amputada, e só sobreviveu graças a um torniquete e ao resgate que levou quase uma hora. O sargento do Bope Cleiton Serafim Gonçalves morreu ao ser atingido na mata, e o policial civil Marcus Vinícius Cardoso foi morto em um beco nos arredores da casa de Doca, território dominado por dezenas de criminosos armados.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/o-que-os-policiais-revelaram-sobre-a-megaoperacao-que-virou-cenario-de-guerra-no-rio/
