O empresário José Marcos de Moura, dirigente do União Brasil conhecido como o “Rei do Lixo” na Bahia e com influência política em diversos estados do país, permaneceu em silêncio durante o primeiro depoimento à Polícia Federal (PF).
Desde sua prisão, no último dia 10, políticos da Bahia e de Brasília tem demonstrado temor nos bastidores de que o empresário decida fazer um acordo de delação premiada ou forneça mais detalhes do esquema de desvio de verbas de emendas parlamentares e fraudes licitatórias.
Por ora, contudo, Moura continua calado, e não aparenta grande abatimento quando circula pelo Centro de Observação Penal em Salvador, onde está preso.
Para fontes da PF, a postura silente do empresário é parte de uma estratégia para adiar ao máximo qualquer sinalização de que colaborará com o caso, enquanto ganha tempo para compreender a dimensão da apuração da Polícia Federal e desenhar uma estratégia. Pode servir, também, para valorizar “seu passe” conforme a investigação avança e alcança figuras mais graúdas da política.
O Rei do Lixo foi preso na operação Everclean junto de outros 15 alvos, que também permaneceram em silêncio.
O relatório da PF que embasou a ação policial aponta o empresário como parte do núcleo central de uma quadrilha que desviava emendas destinadas ao Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS) e a prefeituras através de licitações fraudulentas e superfaturadas.
Procurado, o advogado José Eduardo Alckmin, que representa o empresário, não retornou o contato.
Ligado a uma ampla gama de políticos do União Brasil, incluindo o presidente, Antonio Rueda, e o vice, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, Moura é dono da MM Limpeza Urbana, que integra ao lado de outras duas empresas um consórcio responsável pelo contrato de R$ 1,3 bilhão da coleta de lixo na capital baiana.
Segundo fontes ligadas à investigação, seu esquema alcançava 17 estados e dezenas de municípios governados ou sob influência do partido – entre eles Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e entre outros.
Questionado sobre o avanço das apurações, Rueda não quis comentar.
Segundo as investigações, o grupo movimentou R$ 1,4 bilhão nos últimos quatro anos, dos quais R$ 824 milhões apenas em certames firmados em 2024. O dinheiro seria lavado através de empresas de fachada. A Moura caberia a cooptação de servidores públicos com pagamento de propina para a assinatura de contratos com gestões municipais.
A PF apreendeu na última terça-feira um jatinho com R$ 1,5 milhão a bordo prestes a decolar de Salvador rumo a Brasília. Os investigadores encontraram indícios que o voo foi facilitado por Moura, mas o destinatário do montante não foi identificado. Foi na aeronave que os policiais apreenderam centenas de planilhas detalhando valores e personagens potencialmente atrelados ao esquema criminoso.
Proximidade com políticos
Embora o contrato de sua empresa, a MM Limpeza Urbana, com a prefeitura soteropolitana não seja objeto da investigação, a proximidade com ACM, potencial candidato ao governo em 2026, lançou dúvidas sobre a extensão das investigações da PF e seus possíveis desdobramentos.
O relatório da PF cita brevemente o ex-prefeito no contexto da conversa de um comparsa de Moura, Alex Rezende e o diretor administrativo da Secretaria de Educação de Salvador, Flávio Pimenta, obtida pelos investigadores. Na ocasião, a quadrilha almejava assinar um contrato na pasta.
Além de citar a proximidade de José Marcos de Moura com o secretário Thiago Dantas, Alex também relata ao interlocutor que o Rei do Lixo interviu junto ao “zero um antigo”. Os investigadores acreditam se tratar de Neto, que lançou o atual prefeito, Bruno Reis, como seu sucessor político em 2020.
De acordo com correligionários ouvidos sob reserva, o empresário frequenta regularmente os escritórios do União Brasil em Brasília, São Paulo e Salvador. Antes de assumir cargos no diretório e na executiva, participou ativamente da costura de chapas na Bahia nas eleições de 2022 e na disputa municipal deste ano.
Outro indício dessa proximidade é a sociedade entre o Rei do Lixo e a irmã de Neto, Renata de Magalhães Correia, na propriedade de um jato Hawker 400. Renata adquiriu do empresário 33,4% da aeronave por R$ 1 milhão, segundo registros da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
O avião também conta com uma cota de 33,3% de João Gualberto, ex-prefeito de Mata de São João (BA), na Grande Salvador, aliado próximo de ACM que chegou a ser cotado para a vice na chapa do político na corrida pelo governo em 2022.
Moura ingressou formalmente na cúpula do União em junho passado por indicação de ACM Neto, após a eleição de Rueda para o comando do partido em uma guerra travada com o antigo cacique do partido, deputado Luciano Bivar (PE). O empresário, segundo relatos, se aproximou do dirigente partidário, com quem passou a conviver nas sedes da sigla, em festas e celebrações entre amigos.
Informações da repórter Malu Gaspar, em O Globo
Fonte: https://agendadopoder.com.br/para-alivio-geral-na-bahia-e-brasilia-rei-do-lixo-ficou-em-silencio-no-primeiro-depoimento-apos-prisao-pela-pf/