30 de julho de 2025
Para PGR plano de atentado de ‘kids pretos’ ficou comprovado
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A Procuradoria-Geral da República (PGR) considera provado que integrantes da tropa de elite do Exército, conhecidos como kids pretos, participaram de uma operação para eliminar fisicamente autoridades e permitir a consumação de um golpe de Estado. Para os investigadores, os depoimentos prestados por três militares nesta segunda-feira (28), ao Supremo Tribunal Federal (STF), confirmam elementos-chave da acusação, como o uso de celulares funcionais, codinomes, técnicas de ocultação e estruturas do próprio Estado para fins criminosos.

Os interrogatórios encerraram a fase de instrução das ações penais que investigam a tentativa de golpe atribuída ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. Para a PGR, os réus confirmaram pontos essenciais, ainda que tenham negado envolvimento direto. Um dos exemplos é o do major Rodrigo Bezerra de Azevedo, que admitiu ter utilizado um telefone das Forças Especiais do Exército na operação clandestina. Outro, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, reconheceu ter elaborado dentro de uma unidade militar um plano que previa a prisão de autoridades do Judiciário e do Executivo, sob pretexto de fraude eleitoral.

Para a PGR, esses fatos demonstram que a trama golpista não se limitou a intenções ou retórica: tratou-se de um plano articulado, com divisão de tarefas, participação de militares da ativa e uso indevido de recursos públicos. O grupo dos kids pretos, formado por especialistas em inteligência, infiltração e sabotagem, teria atuado como braço executor do atentado contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF e então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A missão, conforme a acusação, previa o assassinato de Moraes e a eliminação de outras autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin — alvos classificados como “dano colateral”.

O plano de atentado deveria ser executado no dia 15 de dezembro de 2022, mas foi abortado durante a fase inicial de implementação. A Polícia Federal identificou seis militares envolvidos diretamente, todos ligados ao tenente-coronel Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

A reconstituição dos fatos foi baseada em cruzamentos de dados de telefonia, mensagens interceptadas, quebras de sigilos e documentos apreendidos — entre eles, o “Plano Punhal Verde e Amarelo”, que chegou a ser impresso na Secretaria-Geral da Presidência, sob responsabilidade do general Mario Fernandes. O texto previa uma intervenção no TSE e a suspensão da posse de Lula, então recém-eleito.

Foram ouvidos nesta segunda os militares Rafael Martins de Oliveira (major, codinomes “Japão”, “Alemanha” e “rafaelbast”), Hélio Ferreira Lima (tenente-coronel, “Gana”) e Rodrigo Bezerra de Azevedo (major, “Brasil”). Presos desde novembro de 2024, eles negaram envolvimento no plano e alegaram que a Polícia Federal interpretou de forma equivocada os dados reunidos nas investigações. Também rejeitaram o uso de codinomes, celulares “frios”, armas e meios estatais em ações clandestinas.

Apesar disso, para a PGR, os depoimentos fortalecem a narrativa de que houve organização criminosa, tentativa de golpe de Estado e uso deliberado da estrutura militar e administrativa para fins ilegais. Os três foram denunciados por cinco crimes: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Durante os interrogatórios, os réus criticaram o processo. “Sou um preso político de guerra”, afirmou Oliveira. “Estou sendo acusado injustamente”, disse Azevedo.

Com os depoimentos desta segunda-feira, o STF conclui a fase de instrução dos quatro processos penais abertos contra os 34 acusados. As ações estão sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes e deverão ser julgadas ainda no segundo semestre deste ano pela Primeira Turma da Corte. Bolsonaro é um dos principais réus e pode enfrentar uma pena de até 50 anos de prisão, conforme pedido da PGR.

Os acusados foram divididos em quatro núcleos — político, operacional, militar e financeiro. Os kids pretos compõem o núcleo militar, apontado como responsável por executar ações de força para viabilizar o golpe.Ferramentas

Fonte: https://agendadopoder.com.br/para-pgr-plano-de-atentado-de-kids-pretos-ficou-comprovado-nos-depoimentos-ao-stf/