A pesquisa Genial/Quaest divulgada na noite de sábado foi a mais recente de uma série de sondagens com a população do Rio de Janeiro sobre a megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, na terça-feira, dia 28, e que terminou com a morte de cerca de 120 suspeitos, a prisão de outros 123 bandidos e a apreensão de mais de 100 fuzis. Todas as pesquisas convergem no sentido de que os cariocas, em sua grande maioria, aprovaram a ação policial, e muitos gostariam de ver novas operações nos mesmos moldes da que ocorreu na semana passada contra o Comando Vermelho.
Carioca – especialmente o morador das favelas – aprovou operação
A aprovação geral da operação foi de 69,6% no levantamento do Paraná Pesquisas, 64% na pesquisa Genial/Quaest e 62% na pesquisa AtlasIntel (esta última também entrevistou pessoas fora do Rio de Janeiro). O Datafolha usou uma formulação diferente, perguntando se os entrevistados concordavam com o governador do Rio, Cláudio Castro, quando ele afirmou que operação havia sido um sucesso: 57% concordaram, ao menos em parte. Dentre todos os grupos analisados pelos institutos de pesquisa, os únicos que manifestaram desaprovação maciça à ação policial foram os dos lulistas (desaprovação de 59%) e os “esquerdistas não lulistas” (70%), na pesquisa Genial/Quaest – neste recorte, mesmo os eleitores independentes foram majoritariamente favoráveis à Operação Contenção, com 61% de aprovação.
Quando os institutos de pesquisa entrevistam os moradores das favelas – as áreas que mais sofrem com o poder paralelo exercido pelas facções criminosas –, os números indicam um apoio ainda maior à operação policial: a AtlasIntel encontrou 87,6% de aprovação entre os entrevistados nas favelas do Rio, e 80,9% entre os moradores de favelas em todo o país. A Genial/Quaest optou por recortes de renda e geográficos: a operação policial foi aprovada por 58% dos moradores do estado do Rio que ganham até 2 salários mínimos, 69% dos que recebem de 2 a 5 salários mínimos, e 63% dos que recebem acima desse valor. No recorte geográfico, a maior aprovação está entre os moradores da Baixada Fluminense (73%), seguidos pelos que vivem no município do Rio (68%).
Maioria dos entrevistados aprovou o grau de uso da força policial
Enquanto a reação imediata da esquerda, nas redes sociais, na imprensa, nas ONGs e no Congresso, foi criticar a operação com acusações de “genocídio” ou “massacre”, os entrevistados pelos institutos de pesquisa tiveram percepção diferente. No levantamento do Paraná Pesquisas, 60,1% dos cariocas afirmaram não ter havido excessos por parte das polícias; na pesquisa Datafolha, 48% consideraram a operação “muito bem executada” e outros 21% afirmaram que houve uma “execução regular, com falhas”; na AtlasIntel, 52,5% dos brasileiros e 62,3% dos cariocas consideraram adequado o nível de uso da força pelas forças de segurança – o número sobe para avassaladores 89,5% entre os moradores de favelas cariocas.
A Genial/Quaest perguntou aos entrevistados qual deveria ser a primeira reação de um policial que encontrasse uma pessoa com fuzil na mão: 50% afirmaram que ele deveria primeiro tentar prender o bandido sem atirar, enquanto 45% afirmaram que ele deveria disparar de imediato. A formulação da pergunta não deixa claro se o bandido hipotético estaria em algum tipo de “posição de repouso” ou se já estaria manifestando alguma intenção de usar a arma. No sábado, a cientista política Jacqueline Muniz, professora da Universidade Federal Fluminense, viralizou nas mídias sociais ao dizer que seria possível “neutralizar facilmente” bandidos portando fuzis “até por uma pedra na cabeça”.
Cariocas querem mais operações semelhantes, mesmo cientes de que problema ainda está longe de ser resolvido
Os institutos de pesquisa perguntaram aos entrevistados se as forças de segurança deveriam realizar novas operações semelhantes à Contenção contra as facções criminosas. No levantamento do Paraná Pesquisas, 67,9% dos cariocas ouvidos foram favoráveis; na AtlasIntel, 55,9% dos brasileiros e 62% dos cariocas apoiam a ideia; na Genial/Quaest, 73% dos moradores do estado do Rio disseram que a polícia deveria fazer mais operações em comunidades – mesmo entre entrevistados lulistas ou da esquerda não lulista o número dos que apoiam novas operações supera o dos que reprovam a ideia (51% a 46% e 50% a 44%, respectivamente).
Os entrevistados, no entanto, também afirmam que apenas a repetição de operações policiais não resolverá o problema do domínio das facções sobre os morros cariocas. Na pesquisa Genial/Quaest, há praticamente um empate quando se pergunta quem está mais preparado para um conflito armado no Rio: 48% apontaram as forças policiais, e 44% indicaram as facções – que, durante a operação de terça-feira, usaram até drones para lançar granadas sobre a polícia. Além disso, 62% responderam que o governo do Rio, sozinho, não tem capacidade de vencer o crime organizado. Isso explica que a maioria dos entrevistados (52%) tenha dito que o Rio ficou menos seguro após a Operação Contenção; 74% temem retaliações do tráfico. O Paraná Pesquisas também identificou posições mais divididas: enquanto 53,1% disseram que operações como a Contenção ajudam a reduzir a criminalidade, 41,6% responderam que elas agravam a violência.
Lula e o governo federal não convencem quando o assunto é combate ao crime
A segunda parte da pesquisa Genial/Quaest, divulgada na manhã deste domingo, traz dados nada bons para Lula e o governo federal. Para mais da metade (53%) dos entrevistados, o governo federal não tem ajudado os estados no combate às facções, e 60% deles avaliam negativamente o governo Lula na área da segurança pública. A aprovação do governo Lula caiu de 37% em agosto para 34% em outubro, mas o diretor da Quaest, Felipe Nunes, afirmou no X que “muita coisa aconteceu entre agosto e outubro; vários efeitos positivos podem ter sido anulados com a operação, ou a população não premia/pune o presidente por esse caso”.
Entrevistados em outras pesquisas manifestaram percepção semelhante: no levantamento Paraná Pesquisas, apenas 14,2% acham “ótimo” ou “bom” o trabalho do governo Lula no combate ao tráfico, contra 56,1% que o consideram “ruim” ou “péssimo” – na pesquisa AtlasIntel, esse número sobe para 59%. Em uma outra sondagem do Paraná Pesquisas, realizada ainda antes da Operação Contenção, 45,8% dos entrevistados já diziam que a segurança pública piorou desde que Lula iniciou seu terceiro mandato.
A Quaest também ouviu os moradores do estado do Rio sobre uma fala de Lula na Indonésia, dias atrás. “Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”, disse o petista no dia 23, bem antes da Operação Contenção. Mesmo com a retratação do petista, 60% dos ouvidos pela Quaest ainda consideram que a frase original reflete a opinião real de Lula, contra 33% que a consideraram um mal-entendido. Além disso, 84% discordam da ideia em si, contra 13% que de fato concordam que os traficantes são “vítimas”.
A reação inicial de Lula à Operação Contenção também foi criticada depois de o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, ter dito que o presidente da República estava “estarrecido com o número de ocorrências fatais”. No dia seguinte à ação policial, Guilherme Boulos, por exemplo, em sua posse como ministro da Secretaria-Geral da Presidência, chegou a pedir um minuto de silêncio pelas “vítimas” da operação.
Mas, percebendo rapidamente para onde o vento sopra, Lula passou a adotar um discurso bem mais moderado que seus colegas de esquerda. Apenas na noite do dia 29 ele falou pela primeira vez sobre a operação policial, dizendo que “não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades”. O governo ainda enviou ao Congresso um projeto de lei contra as facções, que no entanto tem itens considerados negativos pelo senador Sergio Moro.
Metodologias das pesquisas
Paraná Pesquisas: 800 entrevistados pelo Paraná Pesquisas no município do Rio de Janeiro em 30 de outubro. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 3,5 pontos porcentuais. Datafolha: 626 eleitores ouvidos por telefone entre quinta (dia 30) e sexta-feira (dia 31). Margem de erro: 4 pontos porcentuais para mais ou para menos. AtlasIntel: 1.089 pessoas entrevistadas por meios digitais entre 29 e 30 de outubro. Margem de erro: 3 pontos porcentuais para mais ou para menos. Nível de confiança: 95%. Genial/Quaest: 1,5 mil moradores do estado do Rio de Janeiro entrevistados presencialmente entre 30 e 31 de outubro. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos porcentuais para mais ou para menos.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/pesquisas-operacao-comando-vermelho-distanciam-populacao-esquerda/
