A Polícia Federal identificou um vínculo entre a investigação do plano de golpe atribuído ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os fatos apurados sobre uma suposta ação criminosa da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para dificultar o voto de eleitores do Nordeste — região onde Lula era o favorito — no segundo turno das eleições de 2022.
Segundo informa o colunista do UOL Aguirre Talento, essa conexão foi destacada no relatório final do inquérito que resultou no indiciamento do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e do ex-diretor da PRF Silvinei Vasques, entre outros. O documento foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em dezembro e encaminhado ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, para análise em conjunto com as investigações relacionadas ao plano de golpe.
O relatório descreveu não apenas atos ilícitos envolvendo a cúpula da PRF, mas também revelou pressões exercidas por Anderson Torres para que a Polícia Federal intensificasse o policiamento no dia do segundo turno, com foco especial na Bahia — estado onde o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, obteve uma das maiores votações.
Embora essa investigação tenha tramitado separadamente do inquérito sobre o plano de golpe articulado pelo ex-presidente Bolsonaro após sua derrota eleitoral, a Polícia Federal considera que os envolvidos podem formar outro núcleo criminoso vinculado ao plano, cujo objetivo seria a “alteração criminosa do resultado das eleições presidenciais”.
Os atos aqui descritos podem ser interpretados como parte da tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e parte da tentativa de golpe de Estado, previstos nos arts. 359-L e 359-M do Código Penal, atos estes investigados no bojo da Pet 12.100/DF do Supremo Tribunal Federal, como um núcleo especialmente dedicado à alteração criminosa do resultado das eleições presidenciais”, diz um trecho do relatório final da Polícia Federal.
As pressões para uma atuação ilegal da PRF e da PF ocorreram nas semanas anteriores ao segundo turno da eleição presidencial de 2022 e se concentraram na figura de Anderson Torres, segundo a investigação. Nessa mesma época, parte dos atos realizados no plano de golpe também estavam em curso, como os ataques ao sistema eleitoral.
“Houve uma atuação orquestrada deliberada pelo ministro da Justiça, empregando recursos materiais e humanos do Ministério da Justiça, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal como força armada para criar óbices e intimidação aos eleitores do Nordeste, com a finalidade de alterar o resultado das eleições presidenciais de 2022 e favorecer a manutenção na Presidência da República de Jair Messias Bolsonaro”, escreveu a PF, na conclusão do relatório.
Anderson Torres também foi indiciado no inquérito relacionado ao plano de golpe, acusado de atuar como um dos conselheiros jurídicos de Jair Bolsonaro sobre o tema. Durante buscas em sua residência, a Polícia Federal apreendeu uma minuta golpista que visava alterar o resultado das eleições.
A defesa do ex-ministro informou à reportagem que não comentaria a acusação, alegando não ter tido acesso ao relatório final da PF. Já a defesa de Silvinei Vasques afirmou que não se manifestaria por não ter conhecimento dos fatos ligados ao outro inquérito. A defesa de Jair Bolsonaro não apresentou posicionamento.
Nesta quarta-feira (22), a PF indiciou ex-diretores e ex-coordenadores da PRF sob acusação de ter atuado para impedir a votação de eleitores do Nordeste no segundo turno da última eleição presidencial, segundo informou o portal UOL.
Núcleos golpistas
Na investigação sobre o plano de golpe que indiciou Bolsonaro e outras 36 pessoas finalizada em novembro, a PF descreveu a existência de seis núcleos de uma organização criminosa. Foram eles:
- núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral
- núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de estado
- núcleo jurídico
- núcleo operacional de apoio às ações golpistas
- núcleo de inteligência paralela
- núcleo operacional para cumprimento de medidas coercitivas
O relatório sobre a atuação do ex-ministro da Justiça e de seus subordinados foi enviado ao STF apenas no mês seguinte, sugerindo a possível inclusão de um novo núcleo a esse grupo.
Ao encaminhar o material à Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro do STF Alexandre de Moraes destacou a possibilidade de conexão entre os casos.
Atualmente, a equipe do procurador-geral da República, Paulo Gonet, analisa as provas apresentadas pela Polícia Federal para decidir sobre a apresentação da denúncia no caso do plano de golpe. Cabe ao procurador-geral determinar se os atos relacionados às blitze da PRF serão tratados na mesma acusação ou se resultarão em uma denúncia separada.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/pf-identifica-ligacao-entre-blitze-irregular-da-prf-nas-eleicoes-de-2022-e-trama-golpista-de-bolsonaro/