A Polícia Federal abriu, em 2020, dois inquéritos para investigar ameaças contra servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que atuavam na fiscalização de descontos aplicados sobre benefícios de aposentados e pensionistas. No entanto, as investigações se limitaram às intimidações e não avançaram sobre o cerne das denúncias: os desvios ilegais que ocorriam por meio de acordos de desconto em folha firmados entre o INSS e entidades associativas. As informações são da coluna de Bela Megale no jornal O GLOBO.
O inquérito que investiga diretamente os desvios só foi instaurado em 2023, três anos após os primeiros alertas feitos pelos próprios servidores ao órgão policial. Na gestão de Jair Bolsonaro, os dois inquéritos que chegaram a ser instaurados não trataram das irregularidades nos descontos que atingiam milhares de beneficiários.
A reportagem teve acesso aos dois procedimentos abertos em 2020. Um deles foi iniciado após um servidor do INSS relatar à PF que recebeu mensagens ameaçadoras via WhatsApp. Entre elas, estava a frase “Estamos de olho”, acompanhada do nome de sua mãe. O mesmo servidor contou ainda que recebeu alertas para ter “cuidado com seu Fiat”, veículo que já possuíra, e que os remetentes diziam estar acompanhando seus endereços.
A segunda investigação também se originou da denúncia de outro servidor da mesma área. Ele relatou que um desconhecido tentou obter sua localização e, posteriormente, entrou em contato com sua mãe, se passando por um antigo amigo, numa tentativa de conseguir seu endereço residencial.
As mensagens encaminhadas aos dois funcionários vieram do mesmo número, com prefixo do Paraná, e foram enviadas em um intervalo de poucos dias. Ambos afirmaram à PF que as ameaças estavam ligadas à suspensão ou cancelamento de acordos de cooperação técnica entre o INSS e associações, usados para viabilizar descontos em folha considerados abusivos ou fraudulentos.
A reportagem localizou um dos servidores ameaçados, que aceitou dar entrevista sob condição de anonimato. Ele reiterou que as intimidações recebidas por ele e seu colega estavam claramente relacionadas às medidas que suspenderam os repasses para associações que atuavam de forma irregular.
— Em uma área com mais de mil funcionários no INSS, os dois envolvidos na fiscalização e nos relatórios que embasavam os cancelamentos receberam as ameaças em uma diferença de três dias. Não enxergamos outro motivo — disse o servidor.
Ele relatou ainda que, cerca de um ano após a denúncia, recebeu um e-mail da Polícia Federal, mas nunca mais teve notícias sobre o andamento do caso.
— A PF não fez nada nos dois casos. E não teve interesse em saber desses desvios — afirmou.
Ambas as investigações foram arquivadas, sem que a Polícia Federal chegasse à autoria das ameaças.
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Fonte: https://agendadopoder.com.br/pf-ignorou-desvios-de-beneficios-no-inss-ao-investigar-ameacas-a-servidores-no-governo-bolsonaro/
