
A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a condenação de nove dos dez integrantes do chamado “núcleo 3” da tentativa de golpe de Estado. O grupo é composto por militares das forças especiais do Exército Brasileiro, conhecidos como “kids pretos”, treinados para atuar em missões sigilosas e politicamente sensíveis.
O pedido foi formalizado com a entrega das alegações finais do processo pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Entre os acusados estão coronéis, tenentes-coronéis e até um agente da Polícia Federal, que, segundo a PGR, atuaram na articulação e execução de planos operacionais da conspiração.
Planejamento violento e ameaça a autoridades
De acordo com a denúncia, o grupo ficou responsável por desenvolver a estratégia operacional do plano golpista, incluindo a elaboração da chamada “Operação Punhal Verde e Amarelo”, que previa ações violentas e ataques a autoridades públicas. O objetivo era forçar a adesão do alto comando militar ao plano antidemocrático.
Gonet destacou que a atuação dos acusados foi fundamental para pressionar setores das Forças Armadas a apoiarem a ruptura institucional. Ele afirmou que o grupo chegou a mobilizar tropas terrestres e planejou atentados contra figuras públicas, numa escalada perigosa que só não avançou devido à resistência interna do Exército e da Aeronáutica.
Militares de alta patente na lista de réus
Entre os denunciados estão figuras de alta patente, como o general da reserva Estevam Theophilo, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter), e coronéis como Bernardo Correa Netto, Fabrício Moreira de Bastos e Márcio Nunes de Resende Júnior. Também foram citados tenentes-coronéis ligados ao grupo de operações especiais, além do agente da Polícia Federal Wladimir Matos Soares.
A PGR sustenta que os acusados integravam o núcleo encarregado das ações mais duras da organização criminosa. Segundo o Ministério Público, a tentativa de golpe foi meticulosamente documentada em gravações, manuscritos, arquivos digitais e mensagens eletrônicas, o que reforça as evidências contra os réus.
Exceção no grupo: conduta reclassificada
O único integrante que não teve sua condenação pedida foi o tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo Junior. No entendimento de Gonet, não há provas suficientes para confirmar sua participação ativa na organização criminosa. O militar é acusado de participar de discussões sobre uma minuta golpista, mas não teria se envolvido nas ações posteriores.
Por isso, o procurador-geral solicitou a reclassificação da conduta de Ronald, enquadrando-a como incitação ao crime, devido à sua participação pontual na disseminação de conteúdo com teor golpista, sem envolvimento direto com os demais planos do grupo.
Trama foi interrompida pela resistência institucional
No documento, Gonet reforça que o núcleo operacional desempenhou um papel central na empreitada golpista, sendo responsável pelas medidas táticas mais graves. Ele argumenta que a tentativa de ruptura institucional só não foi levada a cabo por completo graças à firme oposição dos comandos do Exército e da Aeronáutica, que resistiram à adesão à trama.
A Procuradoria conclui que a gravidade das ações e o detalhamento do planejamento deixam clara a materialidade dos crimes cometidos pelos envolvidos — agora à espera do julgamento final no STF.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/pgr-quer-condenacao-de-nove-kids-pretos-por-envolvimento-na-trama-golpista-de-bolsonaro/