No arquipélago do Marajó, no Pará, os búfalos vão além da imponência física e assumem um papel único na mobilidade local. A população usa esses animais como meio de transporte, humano e de cargas. Entre essas funções, uma utilização surpreende quem visita a região: os búfalos servem como veículos “oficiais” da polícia.
“Nós utilizamos os búfalos em parte do policiamento urbano e em algumas áreas rurais, onde eles são nossos tanques de guerra”, afirma o capitão do 8º Batalhão da Polícia Militar (8º BPM) do Marajó, Mario Nascimento Marques. De acordo com ele, os policiais preferem os búfalos aos cavalos pela maior tração e melhor desempenho nas áreas pantanosas.
“O búfalo é um animal mais forte, tem maior força para levar equipamentos mais pesados. Além disso, na região alagada, ele anda na mesma velocidade que nas ruas”, explica o capitão.
Búfalos oferecem tração que permite patrulhar onde veículos não chegam
De acordo com o capitão da polícia, a região do arquipélago do Marajó, extensa e recortada por rios, exige soluções adaptadas ao ambiente. Assim, os búfalos cumprem um papel crucial: atravessam áreas alagadas com facilidade e chegam onde viaturas e cavalos não alcançam.
“No Marajó, quem dita as regras é a água”, resume o capitão. De acordo com ele, o búfalo é um animal que se adapta melhor no pântano, tem maior tração e consegue sair mais rápido das áreas alagadas. “No Marajó, 60% das áreas são de mangue e, com o cavalo, a locomoção é difícil”, acrescenta o capitão.
O uso policial começou em 1992, época em que quatro búfalos integravam a tropa. Desde então, segundo o capitão, não houve acidentes.
“Temos policiais cuidando deles na bufalaria e temos parceria com veterinários e outros profissionais para nos ajudar no trato com os animais. Além da ração, adquirida pela PM, policiais da reserva ajudam no cultivo do pasto para a alimentação”, afirma Marques.
Resistência e boa adaptação fizeram dos búfalos o símbolo da PM no Marajó
A resistência dos animais é um dos critérios decisivos para o manejo nas patrulhas. “Os cascos resistentes dos búfalos não apodrecem com a umidade e garantem resistência em longos percursos. Além disso, eles conseguem buscar alimento submerso, o que lhes confere energia constante durante as patrulhas”.
Além da força, o porte impressiona. Um búfalo adulto pesa cerca de 590 quilos. “O búfalo pesa entre 300 a 400 quilos a mais que um cavalo. Ele corre 40 km/h, não é tão menos que um cavalo, que em média corre 50 km/h”, explica o capitão.
O uso dos animais nas patrulhas, somado ao de cavalos, contribui para os resultados no combate ao crime na região, segundo a PM. “Estamos em uma região privilegiada. A taxa de homicídios é praticamente zero”, diz o policial. A adesão ao uso dos animais é tal que o brasão do 8º Batalhão de Polícia Militar, sediado no município de Soure, exibe um búfalo em posição de destaque.
Com maior tração que cavalos, búfalos permitem à polícia se deslocar pelos mangues que ocupam 60% do Marajó. (Foto: Santos Sousa/8º BPM Marajó)Búfalos contribuem com transporte, entregas e alimento no Marajó
A chegada dos búfalos ao Brasil remonta ao século XIX, quando os animais aportaram na ilha com fugitivos da Guiana Francesa e, depois, com criadores italianos, segundo a Associação Brasileira de Criadores de Búfalos. Com o tempo, o país passou a abrigar o maior rebanho de búfalos do Ocidente.
O emprego dos animais no policiamento foi uma consequência natural do uso que a população faz na região. Os animais integram a economia e a rotina de maneira variada no Marajó: puxam carroças usadas na coleta de lixo, participam de sistemas de entrega e ajudam no transporte em áreas onde veículos convencionais dificilmente avançam.
Dessa forma, sustentam rotinas domésticas e atividades comerciais. Além dessa função, produtos derivados dos búfalos — carne e leite — sustentam parte da culinária regional. O couro, por sua vez, inspira artesãos locais e aparece em roupas, bolsas e acessórios tradicionais.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/policia-marajo-usa-bufalos-como-tanques-de-guerra-combate-ao-crime/
