23 de novembro de 2025
Por que as casas de madeira vão ser a nova
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A casa de madeira impulsiona uma tendência silenciosa na construção civil brasileira. O avanço combina pré-fabricação, tecnologia e manejo florestal e cria um modelo que une rapidez, precisão e sustentabilidade. Esse movimento lembra tendências consolidadas na Europa, onde a madeira domina projetos residenciais e públicos com alta performance.

A retomada do material acompanha uma mudança cultural. A casa de madeira voltou a ser valorizada em linhas do norte da Europa, que priorizam eficiência térmica e simplicidade estética. Países como Suécia e Finlândia adotaram essa lógica por inovação e respeito ambiental. Assim, o conceito se consolida globalmente e chega ao Brasil com adaptações que preservam conforto e visual limpo.

A arquiteta Karin Lauer, especialista em construções com madeira, no Rio Grande do Sul, observa esse processo com naturalidade. “Há 30 anos, falar de madeira na academia era algo impensável. O fato é que ao longo do tempo, com a evolução da tecnologia, houve o reconhecimento da madeira como material sustentável”, ressalta.

Lauer lembra que a madeira sofria com o antigo estigma de produto visto como ultrapassado, sem possibilidade de retorno ao mercado. “Casas de madeira eram vistas como um bem de começo de vida, enquanto não se tinha recurso até poder fazer uma de alvenaria”, compara.

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Casas de madeira estão na memória afetiva e tradição familiar no Sul

De acordo com a arquiteta, as estruturas com madeira oferecem desempenho acústico robusto e funcionam bem em climas variados. Essa performance amplia a aceitação do modelo em regiões tropicais. Por isso, a casa de madeira se fortalece ao unir conforto técnico e funcionalidade, além de resgatar as raízes familiares.

“É uma questão cultural que a gente traz das imigrações europeias, com os alemães, italianos e poloneses”, diz Lauer, que é neta de um carpinteiro. Ela afirma que essa memória molda vínculos afetivos e favorece a procura pelas casas de madeira. “Está em nosso DNA. As gerações se sucedem e as lembranças da casa do avô ou de um parente se passam dentro de uma casa de madeira.”

O design inspirado no Norte da Europa impulsiona a casa de madeira, que combina conforto térmico, desempenho acústico e estética contemporânea.
O design inspirado no norte da Europa impulsiona a procura por casas de madeira (Foto: Karin Lauer/Acervo Wunder Haus)

Pinus e garapeira são as madeiras mais usadas em construções no Sul do Brasil

A casa de madeira depende de matéria-prima certificada e processos rigorosos de secagem. Na Europa, madeiras como pinho nórdico e abeto escandinavo se destacam por resistência e acabamento.

No Brasil, o uso da madeira muda conforme as regiões. No Rio Grande do Sul, onde a madeira geralmente chega de Rondônia, Pará e Mato Grosso, a garapeira é utilizada em larga escala. “É uma madeira clara, mas muito resistente. Possui taninos que a tornam resistente a cupins e fungos”, explica a arquiteta.

Para o empresário do setor de madeira em Santa Catarina, Jesiel Cardoso, a primeira opção no Sul do país é o pinus tratado, por possuir maior demanda e acesso, devido a abundância e o custo benefício. “Em seguida vem a angelim-pedra, por ser considerada madeira nobre e também por ser encontrada com facilidade em todas as madeireiras. Já a garapeira e o cumarú são madeiras de maior custo, porém entregam mais qualidade para áreas externas e atendem um público mais exigente e de maior poder aquisitivo”, comenta.

No Paraná é comum o uso de pinus e eucalipto. Segundo dados da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), a área de árvores plantadas no estado corresponde a 1,16 milhão de hectares. Do total, 61% é pinus e 38% é eucalipto. O Paraná responde por mais de 54% do volume nacional de pinus. Além disso, para cada hectare de floresta plantada no estado, 1,06 hectare de florestas nativas é preservado.

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Madeira laminada cruzada ampliou opções do uso do material nas residências

A cultura da casa de madeira também avança com a popularização do CLT, sigla do nome em inglês Cross Laminated Timber, técnica formada por lamelas cruzadas e coladas em camadas sucessivas. O processo reaproveita sobras de madeira e reduz desperdícios.

Ao mesmo tempo, o CLT recebe prensagem cruzada, isolamento térmico e acústico, tratamento contra cupins e proteção contra fogo e umidade. A peça vira painel estrutural de alta resistência. A montagem ocorre em poucos dias e permite aplicações em casas, escolas e obras públicas. “Em muitos casos, o processo pode terminar em até sete dias”, disse a arquiteta Karin Lauer.

A casa de madeira pré-fabricada se destaca pela rapidez e pelo ambiente controlado, que reduz falhas e encurta prazos. Enquanto obras tradicionais levam meses, estruturas pré-fabricadas podem ser concluídas em semanas.

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Laminação oferece outras opções para o uso da madeira e precisão de corte

Em projetos com CLT, a montagem lembra um sistema de encaixe e exige precisão milimétrica. Esse formato diminui custos, evita imprevistos e traz previsibilidade ao orçamento. “A madeira laminada colada fez com que o setor passasse a ver outras possibilidades”, ressalta Lauer.

A arquiteta explica que o material ganhou novas aplicações. “Mesmo em uma casa que não seja de madeira, ela pode estar muito presente. […] Pode ser na forma de revestimentos, pisos, forros ou mobiliário”, acrescenta.

O movimento também alcança projetos maiores com soluções voltadas para residências em grandes cidades. “Nós temos revestimentos de uso externo em madeira em prédios. A partir do CLT passamos a ter prédios em madeira.”

A casa de madeira avança no Brasil com sistemas pré-fabricados e painéis de CLT que aceleram obras e ampliam a precisão estrutural.A casa de madeira avança no Brasil com sistemas pré-fabricados e painéis de CLT que aceleram obras. (Foto: Karin Lauer/Acervo Wunder Haus)

Casas de madeira são reservatórios de gás carbono

A casa de madeira funciona como depósito de carbono. Árvores absorvem CO₂ durante o crescimento e liberam oxigênio. Quando maduras, armazenam carbono na madeira. Com isso, o manejo racional colhe árvores prontas, abre espaço para novas mudas e fortalece florestas ativas. Árvores jovens, por sua vez, absorvem até 30% mais CO₂. “Essa ideia de sustentabilidade estará cada vez mais em alta e vai conquistando o mercado”, afirma a arquiteta.

Para Lauer, esse conjunto reforça uma ideia essencial sobre o morar, sempre associada a sustentabilidade e conforto. “Acredito muito que o espaço, principalmente a casa, precisa receber o morador”, afirma. De acordo com a arquiteta, esse princípio define conforto. “Ela precisa acolher. Ela precisa ser uma fonte de beleza.”

Entre os atributos, o que mais define a tendência, segundo a arquiteta, é o gosto brasileiro pela madeira. “As casas de madeira sempre despertam identificação. Existe hoje alumínio, porcelanato e vinil que imitam madeira, porque as pessoas gostam de madeira de verdade. Quanto mais eu observo lançamentos em tons de cinza e ambientes sem detalhes, mais eu percebo que muitos vão buscar algo que rompa com essa sensação fria”, conclui.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/por-que-as-casas-de-madeira-nobre-vao-ser-a-nova-febre-da-arquitetura/