18 de dezembro de 2025
Aldo Rebelo diz que houve acordo secreto para derrubar Magnitsky
Compartilhe:

A revogação das sanções impostas com base na Lei Magnitsky reacendeu, no debate político brasileiro, suspeitas sobre negociações reservadas entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os Estados Unidos. Para o ex-ministro e recentemente lançado pré-candidato à Presidência da República Aldo Rebelo (DC), a mudança de posição do governo americano não ocorreu por acaso.

Segundo ele, houve “acordos reservados ou secretos” que explicariam o recuo das punições, possivelmente envolvendo interesses estratégicos, sem destacar o acesso a terras raras brasileiras.

“Não tenho dúvida nenhuma de que há acordos reservados ou secretos para explicar essa mudança de posição do governo dos Estados Unidos”, afirmou Rebelo em entrevista à Gazeta do Povo. Para ele, aliados do ex-presidente Donald Trump subestimaram a capacidade do governo brasileiro de entregar o que Washington desejava. “Tudo aquilo que eles podiam prometer, o Lula podia entregar.”

Questionado sobre a possível cessão de terras raras por meio de fundos, Rebelo lembrou que já há investimento americano em propriedades desse tipo no país. “O Brasil não é a segunda reserva mundial de terras raras do mundo, é de longe a primeira reserva, muitas vezes mais que a China”, ressalta Rebelo.

“É que essas terras raras ainda não estão todas identificadas, porque o mapeamento geológico do Brasil é muito precário e muito parcial. Mas o Serviço Nacional de Geologia, do Ministério de Minas e Energia, tem certeza de que o Brasil tem mais reservas de terras raras do que a China. Os americanos sabem disso, então a conversa deve ter girado em torno desses interesses”, completa.

VEJA TAMBÉM:

  • “Alexandre de Moraes tentou me intimidar e me deve desculpas”

Aldo Rebelo lança pré-candidatura à Presidência pelo Democracia Cristã

A crítica à dependência de soluções externas para conflitos internos é uma das marcas do discurso de Aldo Rebelo, que agora tenta reposicionar sua trajetória política ao lançar uma pré-candidatura ao Palácio do Planalto pelo Democracia Cristã (DC).

Ex-comunista, Rebelo construiu sua carreira política na esquerda tradicional. Foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), deputado federal por sete mandatos, presidente da Câmara e ministro em diferentes governos petistas.

Nos últimos anos, no entanto, passou a se afastar do campo progressista. Segundo ele, a guinada identitária e o abandono de bandeiras como nacionalismo, soberania e desenvolvimento do Brasil afastaram a esquerda de suas origens.

Esse deslocamento o levou a transitar fora dos grandes partidos. Em São Paulo, assumiu a Secretaria Municipal de Relações Internacionais na gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), durante o período pré-eleitoral. Chegou a ser cogitado como possível vice na chapa de Nunes, em uma articulação que contaria com o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A candidatura presidencial, porém, só se tornou concreta após o convite formal do Democracia Cristã. “O MDB nunca descartou a minha candidatura, mas também nunca me fez um convite formal, como fez o Democracia Cristã”, comenta. No DC, além da legenda, recebeu algo que não teve em outras siglas: autonomia e protagonismo.

“O partido é pequeno, não dispõe de recursos, não tem fundo partidário, não tem bancada, mas tem uma grande vantagem: é independente. Não é tutelado pelo STF, não é tutelado pela Faria Lima, não é tutelado pela mídia nem pelos esquemas da política profissional de Brasília”, disse.

VEJA TAMBÉM:

  • Terras raras

    Terras raras: a joia da coroa que o Brasil pode entregar para a China

O novo lema “fé no Brasil” e a reformulação do DC

O Democracia Cristã passa por uma reformulação desde julho, quando João Caldas assumiu a presidência nacional da sigla. Fundado em 1985 como PSDC, o partido ficou por décadas sob a liderança de José Maria Eymael, figura conhecida pelo slogan “um democrata cristão”.

“Ele tinha convicções diferentes das nossas. Poderia ter feito alianças, mas não fez”, disse Caldas. Segundo ele, o partido se define como de centro, aberto a composições e sem patrulhamento ideológico. “O Brasil virou uma Faixa de Gaza. O radical não conversa, não negocia. Nós não queremos radicais.”

Uma das mudanças simbólicas é a substituição do slogan histórico por “fé no Brasil”. O objetivo, segundo Caldas, é despertar a fé em Deus e no Brasil. Caldas se define como um cristão que já foi ao Muro das Lamentações e transita no catolicismo, em igrejas evangélicas e no espiritismo de Allan Kardec.

VEJA TAMBÉM:

  • Gazeta do Povo lança especial sobre perseguição a cristãos pelo mundo

Partido visa lançar ao menos 20 candidaturas a deputados federais

Sem representantes eleitos no Congresso Nacional, o DC não tem acesso ao fundo partidário e à propaganda gratuita em rádio e televisão, recebendo uma parcela mínima do fundo eleitoral.

A estratégia de financiamento será baseada em doações de pessoas físicas. Segundo Caldas, a legislação permite que eleitores destinem até 10% do imposto de renda devido no ano seguinte para doações eleitorais.

“O partido vai pedir ajuda das pessoas físicas que encamparem a bandeira do Aldo, vai ser o único jeito. Vai ser uma campanha franciscana”, disse Caldas, referindo-se à condição de pobreza material em que vivem os frades franciscanos.

A estrutura partidária ainda está em formação. O DC afirma estar presente com pré-candidaturas em 17 estados e projeta lançar chapas completas para deputado federal em todo o país.

A meta, segundo o presidente nacional, é alcançar ao menos 20 deputados federais, número necessário para ultrapassar a cláusula de barreira, também conhecida como cláusula de desempenho.

Em relação a quem o partido apoiaria no segundo turno, Caldas não quer se antecipar. Aldo Rebelo, por sua vez, diz não se sentir representado pelos principais nomes colocados hoje na disputa presidencial, como Lula, Flávio Bolsonaro (PL), Ratinho Junior (PSD), Ronaldo Caiado (União) e Romeu Zema (Novo). “Respeito as candidaturas, mas as minhas ideias são distintas.”

VEJA TAMBÉM:

  • A candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência reorganiza o centrão e reforça Ratinho Junior como opção para 2026.

    Entrada de Flávio Bolsonaro redesenha cenário para Ratinho Junior em 2026

O marqueteiro “sou eu”

Rebelo tem aproveitado o hábito de percorrer o país de carro em viagens que duram dias para parar em cidades e conversar com eleitores. Na última terça-feira (16), antes de iniciar o percurso de São Paulo a Alagoas, publicou nas redes sociais imagens no Mercado Municipal de São Paulo comendo sanduíche de mortadela. Questionado se teria um marqueteiro para campanha, respondeu: “Tenho, sim. Eu mesmo.”

Sobre financiamento, voltou à própria trajetória política. “Se eu me preocupasse com dinheiro, não teria entrado no movimento estudantil para reconstruir a UNE, que não tinha recursos nem era legalizada”, disse.

Críticas às decisões do STF

A pré-candidatura também carrega posições firmes em temas sensíveis. Rebelo tem feito críticas duras ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao que chama de “governo de corresponsabilidade” entre o STF e o Palácio do Planalto.

“Aquilo que o Lula sofre derrotas no Congresso, o Supremo ajuda, e aquilo que o governo aprova no Congresso, o Supremo referenda. É uma espécie de cumplicidade entre o Executivo e o Judiciário via Supremo Tribunal Federal”, analisa.

Quando questionado sobre o real alcance do Senado e do poder Executivo para limitar possíveis excessos do Judiciário, Rebelo defendeu que apenas um Executivo forte poderia reequilibrar a relação entre os Poderes.

“Quem tem que enfrentar o STF é um Executivo forte que defenda a segurança institucional, que não existe mais. Hoje está tudo completamente embaralhado pelo Supremo. Não será o Senado, que é um poder muito fragilizado pelas chamadas emendas secretas”, disse.

Outro tema recorrente em suas falas é a crítica à atuação de ONGs internacionais no Brasil. O pré-candidato afirma que há uma ameaça à soberania nacional, especialmente na Amazônia.

Em relação à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Rebelo faz críticas às demarcações indígenas consideradas desproporcionais e acusa o órgão ligado ao governo federal de estar a serviço de ONGs financiadas no exterior e interessadas em recursos estratégicos brasileiros.

Aldo Rebelo comenta viagem a Lima com ministro do STF e advogado do Banco Master

Questionado sobre a viagem a Lima para assistir à final da Libertadores entre Flamengo e Palmeiras no mesmo jatinho que transportou o ministro do STF Dias Toffoli e Augusto Arruda Botelho, advogado do ex-diretor de Compliance do Banco Master, Rebelo negou qualquer relação política ou institucional.

“Não sou advogado no Supremo, não sou réu no Supremo, não sou sócio nem advogado do Banco Master. Sou apenas amigo de um palmeirense que me convidou para ver um jogo do Palmeiras, como tantos outros que nós já vimos juntos”, disse, afirmando que as conversas se restringiram ao esporte.

“Tudo sobre futebol. Eu não tinha outro assunto a tratar, porque nessa condição de não ser nem advogado e nem parte interessada, nem no Supremo, nem no Banco Master, não tinha o que conversar sobre esse assunto”, rebate.

VEJA TAMBÉM:

  • Malafaia critica candidatura de Flávio e defende chapa de Tarcísio com Michelle

  • A candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência reorganiza o centrão e reforça Ratinho Junior como opção para 2026.

    Entrada de Flávio Bolsonaro redesenha cenário para Ratinho Junior em 2026

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/pre-candidato-presidente-aldo-rebelo-dc-acordo-secreto-magnitsky/