
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), não apenas empregou em seu gabinete servidoras com rotinas incompatíveis com o exercício da função legislativa, como também contratou, ao longo dos anos, cinco parentes dessas funcionárias. A revelação foi feita pela Folha de S.Paulo nesta terça-feira (15), e levou o deputado a demitir duas das três servidoras envolvidas no caso.
Foram dispensadas a fisioterapeuta Gabriela Pagidis — que atuava em clínicas no Distrito Federal enquanto recebia salário de R$ 11,4 mil como secretária parlamentar — e Monique Magno, que acumulava o cargo no gabinete de Motta com o de assistente social na Prefeitura de João Pessoa (PB), o que é proibido pelas regras da Câmara.
Além de Gabriela, que ingressou no gabinete em junho de 2017, também integraram o quadro de funcionários a mãe dela, Athina Pagidis (que foi chefe de gabinete entre 2011 e 2019), a tia Adriana Pagidis, a irmã Barbara Pagidis e o primo Felipe Pagidis. Entre 2021 e 2022, os quatro atuavam simultaneamente no escritório de Motta em Brasília. Hoje, Felipe consta como servidor do deputado Wellington Roberto (PL-PB), mas, segundo relatos, não estaria atuando presencialmente na capital federal.
Procurado, Motta não comentou as contratações familiares. Sobre as funcionárias fantasmas, limitou-se a afirmar que “preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações dos funcionários de seu gabinete, incluindo os que atuam de forma remota e são dispensados do ponto dentro das regras estabelecidas pela Câmara”.
Funcionários com vínculos paralelos e acúmulo de funções
A atuação simultânea em funções públicas e privadas foi o que motivou a exoneração de Monique Magno, contratada pelo gabinete desde junho de 2019 com salário de R$ 1.800. Ela também consta como assistente social na prefeitura de João Pessoa desde 2021, com jornada de 30 horas semanais e salário de R$ 2.000.
Ao ser confrontada pela reportagem da Folha, Monique desligou a ligação. Dias depois, respondeu por mensagem: “Cumpro os horários certinho e ainda acumulo ser mãe solo de uma criança”. Segundo a Câmara, o acúmulo de cargos públicos é vedado, salvo em situações excepcionais previstas em lei — o que não se aplica ao caso.
A mãe de Monique, a advogada Márcia Agra de Souza, também trabalhou no gabinete de Motta entre 2011 e 2015, com salário de R$ 845 à época. Atualmente, Márcia é funcionária do deputado João Carlos Bacelar (PL-BA), embora mantenha um escritório profissional na Paraíba, seu estado de origem. A legislação interna da Câmara determina que secretários parlamentares devem estar lotados no Distrito Federal ou no estado do deputado contratante — o que não é o caso.
Questionado, Bacelar disse, por meio de assessoria, que Márcia “presta assessoria jurídica para processos legislativos”. Ela, por sua vez, preferiu não comentar onde reside atualmente. Sobre a filha, declarou: “É uma pessoa honrada, dedicada, excelente profissional, competente e requisitada no mercado de trabalho. As atividades profissionais que ela exerce são por mérito dela, não por indicação.”
Presença familiar no gabinete de Motta remonta ao início do mandato
A mãe de Gabriela Pagidis, Athina, foi uma das primeiras a integrar a equipe de Hugo Motta, contratada no primeiro dia do mandato em 2011 e permanecendo por quase nove anos. Já Adriana Pagidis, tia da fisioterapeuta, deixou o gabinete em 2022, mas segundo assessores e familiares, continuaria prestando serviços ao deputado, de maneira informal. A reportagem tentou contato com Athina e Adriana, mas não obteve retorno.
Felipe Pagidis, filho de Adriana e primo de Gabriela, aparece atualmente na folha de pagamento de Wellington Roberto. Ao ser procurado pela reportagem, um secretário do gabinete afirmou desconhecer a presença de Felipe em Brasília e sugeriu que ele poderia estar atuando a partir da Paraíba.
Prática é tolerada, mas expõe fragilidades nas regras internas
A contratação de familiares no mesmo gabinete não é ilegal, desde que não sejam parentes diretos do parlamentar. No entanto, os casos revelados pela reportagem evidenciam a fragilidade no controle de frequência, a tolerância com vínculos paralelos em diferentes esferas do poder público e a sobreposição de interesses privados em funções públicas.
As demissões anunciadas por Hugo Motta ocorreram apenas após os questionamentos da imprensa. As revelações podem ampliar a pressão sobre o presidente da Câmara, que vem enfrentando críticas em meio a outras polêmicas envolvendo o uso da estrutura do Legislativo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/presidente-da-camara-empregou-cinco-parentes-de-funcionarias-fantasmas-em-seu-gabinete/