
A crise provocada por descontos irregulares em benefícios do INSS aumentou a pressão sobre o ministro da Previdência, Carlos Lupi, e já levou assessores próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a admitirem a possibilidade real de sua demissão. Segundo a Folha de S.Paulo, Lula tem demonstrado crescente insatisfação com a atuação de Lupi diante do escândalo, que fragilizou a imagem do governo em um momento de recuperação de popularidade.
A avaliação no Palácio do Planalto é de que, passados mais de sete dias da revelação do esquema, Lupi ainda não apresentou respostas eficazes. A irritação de Lula ficou ainda mais evidente com a nomeação, nesta quarta-feira (30), do procurador federal Gilberto Waller Júnior como novo presidente do INSS — uma decisão articulada diretamente com os ministros da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Controladoria-Geral da União (CGU), sem a intermediação de Lupi.
Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, antecipou a escolha de Lula. A indicação de Waller, com perfil técnico e considerado um “xerife” nos bastidores, foi também acompanhada de uma carta branca para reformar a estrutura da autarquia. Segundo interlocutores do Planalto, o episódio simboliza o esvaziamento da influência do ministro sobre a área.
Na terça-feira (29), em audiência na Câmara dos Deputados, Carlos Lupi defendeu que o INSS não deveria ser o responsável por mediar os vínculos entre aposentados e associações que promovem descontos em folha. “É mais cômodo [para as associações] o desconto em folha do que ter que ir atrás do aposentado todo mês”, declarou. Ele também afirmou ser contra que o credenciamento dessas entidades continue sob responsabilidade do INSS, mas reconheceu que essa é uma “opinião pessoal” e que precisaria ser discutida dentro do governo.
A gestão do ministro vem sendo criticada inclusive pela demora em afastar o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, que foi substituído apenas após pressão direta do presidente. A permanência de Lupi no cargo agora depende das conversas reservadas que Lula passou a realizar com membros da equipe envolvida na apuração da fraude. Embora não haja qualquer indício de envolvimento direto de Lupi, o Planalto já trata sua eventual saída como um gesto político necessário para estancar o desgaste.
O ministro da Previdência chegou a listar ações adotadas por sua pasta desde o início do mandato, como auditorias e exigência de biometria para novos descontos, mas essas medidas não impediram a proliferação dos abusos. Como revelou a Folha, as primeiras providências efetivas só foram tomadas após auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) em 2023.
Nos bastidores, um auxiliar presidencial lembra que Lupi não era a primeira escolha de Lula para a pasta. O nome preferido era o do atual secretário-executivo, Wolney Queiroz. Ainda assim, integrantes do governo reforçam que as investigações contra os abusos foram iniciadas durante a atual gestão e que o governo está empenhado em reparar os danos às vítimas.
Durante pronunciamento em rede nacional no Dia do Trabalhador, Lula abordou pela primeira vez a fraude:
“Na última semana, o nosso governo, por meio da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal, desmontou um esquema criminoso de cobrança indevida contra aposentados e pensionistas, que vinha operando desde 2019. Determinei à Advocacia-Geral da União que as associações que praticaram cobranças ilegais sejam processadas e obrigadas a ressarcir as pessoas que foram lesadas.”
O esquema, alvo da Operação Sem Desconto deflagrada pela PF e CGU no dia 23 de abril, investiga a atuação de sindicatos e associações que assinaram Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS. Esses acordos permitiam descontos diretos nos benefícios mediante autorização dos beneficiários. Contudo, auditorias da CGU apontaram que 72% dessas entidades não entregaram a documentação exigida e que muitas sequer tinham estrutura para oferecer os serviços prometidos.
O valor total dos descontos, entre 2019 e 2024, é estimado em R$ 6,3 bilhões. Ainda está sendo apurado o quanto foi efetivamente desviado de forma ilegal. Em um dos alvos da operação, foram apreendidos bens de alto valor, incluindo carros de luxo como uma Ferrari e um Rolls-Royce, além de US$ 350 mil em espécie, joias e obras de arte.
Apesar da gravidade do caso, fontes do Planalto destacam que não há qualquer evidência de envolvimento pessoal de Lupi no esquema, mas o enfraquecimento político do ministro pode torná-lo insustentável no cargo. A decisão final sobre sua permanência deve sair nos próximos dias.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/pressao-sobre-lupi-cresce-e-lula-ja-admite-sua-demissao-em-meio-a-crise-do-inss/