
Interlocutores de Hugo Motta e Davi Alcolumbre, presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, preveem uma crise sem precedentes com a reabertura do Congresso, prevista para a próxima semana. Ambos foram eleitos com apoio do PT de Lula e do PL de Jair Bolsonaro, e agora estão sob forte pressão de aliados dos dois polos para reagir às sanções da Lei Magnitsky e ao tarifaço impostos pelos Estados Unidos.
No campo bolsonarista, o clima é de ofensiva. Sob ordens do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, lideranças da legenda tentarão se reunir com Motta e Alcolumbre para pressionar pelo avanço de pautas como a anistia e a proposta que extingue o foro privilegiado em casos de crimes comuns, enfraquecendo a atuação do Supremo Tribunal Federal. No mesmo dia em que as sanções foram anunciadas pela Casa Branca, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) protocolou novo pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes.
A reação mais dura veio do deputado Sóstenes Cavalcante, líder do PL, que acusou o Senado de omissão: “Se o Senado tivesse cumprido o papel no freio e contrapeso das arbitrariedades, não chegaria a esse ponto. Mas eles são chantageados. O sistema político brasileiro permite que os presidentes das Casas fiquem sofrendo chantagens do Supremo”.
O isolamento de Eduardo Bolsonaro
Outro foco de tensão é o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se mudou para os Estados Unidos com o objetivo declarado de pressionar por sanções contra Alexandre de Moraes. Após a inclusão do ministro na lista da Lei Magnitsky, o parlamentar declarou em redes sociais que sentia “missão cumprida”, mas prometeu que esse seria apenas o começo.
Em tom de ameaça, Eduardo afirmou: “Temos a certeza de que os Estados Unidos estarão atentos às reações públicas, institucionais – ou até privadas – de cada autoridade brasileira. O custo de apoiar Alexandre de Moraes, seja por omissão, cumplicidade ou conveniência, será insuportável. Para os indivíduos e também para suas famílias. Chegou a hora da escolha: estar com Moraes ou com o Brasil”.
Investigado no STF por tentativa de obstrução das apurações contra o pai, o deputado já ultrapassou o prazo de afastamento da Câmara e pode ter o mandato cassado por excesso de faltas. Em conversas reservadas, ele teria admitido que não pretende retornar ao Brasil por temer ser preso.
O comportamento do chamado “Zero Três”, tido como o principal articulador das sanções americanas, provocou fissuras na base bolsonarista. Nos últimos dias, ele entrou em confronto com o deputado Nikolas Ferreira e com os governadores Ratinho Júnior (Paraná) e Tarcísio de Freitas (São Paulo). Líderes do Centrão, por ora, indicam que não devem embarcar em movimentos para defendê-lo.
Governo Lula tenta aproveitar o cenário
Para auxiliares do presidente Lula, o momento de instabilidade pode se transformar em oportunidade. A expectativa é que o espírito de corpo entre os presidentes do Congresso e o Judiciário se fortaleça, sobretudo após Eduardo Bolsonaro sugerir que Motta e Alcolumbre também poderiam ser alvos das sanções americanas.
No Planalto, a leitura é de que esse desgaste pode abrir caminho para reconstruir relações com o Parlamento, que saíram fragilizadas após crises como a do IOF e o veto ao aumento do número de deputados. Faltando pouco mais de um ano para as eleições, o governo tenta destravar pautas como a PEC da Segurança, a ampliação da faixa de isenção do imposto de renda e uma proposta que busca mitigar os impactos do tarifaço de Donald Trump.
As respostas dos presidentes das Casas
Em nota oficial, o presidente da Câmara, Hugo Motta, declarou: “Como país soberano, não podemos apoiar nenhum tipo de sanção por parte de nações estrangeiras dirigida a membros de qualquer Poder constituído da República. Isso vale para todos os parlamentares, membros do Executivo e ministros dos Tribunais Superiores”.
Davi Alcolumbre, presidente do Senado, reforçou o tom institucional. “Reafirmo a confiança no fortalecimento das nossas instituições, entre elas o Poder Judiciário, elemento essencial para a preservação da soberania nacional, que é inegociável. O Congresso Nacional não admite interferências na atuação dos nossos Poderes”, afirmou.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/pressao-sobre-motta-e-alcolumbre-cresce-e-congresso-pode-entrar-em-crise-na-volta-do-recesso/