Na semana em que se prepara para representar o Brasil na presidência da cúpula de chefes de Estado do G20, Lula reitera as críticas que vem fazendo à capacidade de mobilização internacional dos países, sobretudo por meio da ONU, informa Lauro Jardim em sua coluna no jornal O GLOBO. Numa reunião a portas fechadas ontem no Palácio do Planalto, em Brasília, o presidente afirmou que falta representatividade às Nações Unidas. Em relação à organização, ele também disse que, hoje, “não há nenhuma decisão que seja cumprida mais”.
A fala, que reitera o discurso feito por Lula na própria Assembleia Geral da ONU, em setembro, foi direcionada a integrantes brasileiros do G20 Social. Eles estiveram com o petista para dialogar antes do encontro com representantes dos outros 20 países do bloco, previsto para o fim da semana, no Rio de Janeiro. Essa frente de trabalho está sendo inaugurada pelo governo federal como um instrumento de ampliação da participação popular nas discussões do grupo. Ela é inédita na história do G20.
Disse Lula, ao introduzir sua crítica à ONU:
— A partir desse G20, a gente tem algumas tarefas que a gente tem que brigar. Por exemplo, por que a gente tá colocando governança global (para ser discutida)? Porque é preciso mudar as regras pelas quais a ONU foi criada. Quando a ONU foi criada, participou apenas 56 países. Hoje, só 190 e pouco que participam. Ou seja, a gente mantém o mesmo sistema, mesmo funcionamento, com seis países mandando e desmandando.
Entre os seis países a que Lula se referiu sem citá-los diretamente, estão EUA, Rússia, França, Reino Unido, China — os integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Seguiu o presidente:
— São os seis que participam do Conselho de Segurança da ONU. São os seis que são fabricantes de armas. São os seis entre os quais nascem as guerras. São os seis que não respeitam o Conselho de Segurança. Quando o (George W.) Bush resolveu invadir o Iraque, não passou por discussão dentro da ONU. Foi uma decisão unilateral dos EUA. O Putin resolveu invadir a Ucrânia e também foi unilateral.
Entre outros exemplos de movimentos unilaterais desses países, Lula citou a invasão da Líbia por forças da Otan, em 2011, e a recente incursão de Israel na Faixa de Gaza. Na sequência, ele pediu:
— O que nós queremos? Que a ONU mude. Que se tenha mais representação continental. Por exemplo, nós não temos nenhum país africano (no Conselho de Segurança) (…). Além da África do Sul, você tem a Alemanha que não tá. O Japão que não tá. A Índia que não tá. E você tem o Brasil que não tá. E o México que não tá. Você pode ter a Argentina, a Colômbia…
Ainda sobre o tema, Lula repetiu sua cobrança não só pela mudança na composição do colegiado em questão, mas também pelo fim do poder de veto garantido aos países que nele estão fixos.
— O que nós queremos é que o Conselho da ONU mude. Que tenha uma representação geográfica muito maior e que mude o Conselho de Segurança, inclusive pra acabar com o direito de veto.Porque hoje, quando tomam uma decisão, se a China não concordar, sabe, pode aprovar o que você quiser, que não vai andar. Se os EUA não concordar, não vai andar. E assim por diante (…).
Por fim, Lula ressaltou a falta de ação a partir das discussões feitas pela ONU:
— São uma turma de seis, que participaram da criação da ONU, que entraram primeiro e não querem repartir a proeza de ser do Conselho de Segurança com ninguém. E nós achamos que se não for assim (com mudanças), a ONU está perdendo muita representatividade, muita. Não há nenhuma decisão da ONU que seja cumprida mais. Nenhuma.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/prestes-a-comandar-o-g20-no-rio-lula-volta-a-criticar-a-onu-nenhuma-decisao-e-cumprida/