6 de novembro de 2025
Motiva segura obra da terceira pista do Afonso Pena
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A nova pista de pouso e decolagem do aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, corre o risco de não ficar pronta dentro do prazo de dezembro de 2026, como consta em contrato assinado entre a Motiva (ex-CCR) e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). E está sob a possibilidade de sequer ser executada pela concessionária, que colocou à venda todos os seus 17 aeroportos no Brasil.

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Pelo cronograma apresentado pela Motiva, a obra orçada em R$ 200 milhões demora cerca de 14 meses. E para ser concluída a tempo, deveria estar começando neste mês de novembro. Entretanto, não há canteiro de obras, máquinas ou nada do tipo que indique um início iminente da construção da pista de 3 mil metros de comprimento.

A principal pendência é a Licença de Instalação (LI), que precisa ser emitida pelo Instituto Água e Terra (IAT), órgão vinculado ao governo paranaense, e que autoriza o início das obras. Prevista inicialmente para novembro deste ano, deve ficar somente para março de 2026 — o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), adiantou essa informação durante o anúncio do voo direto de Lisboa para Curitiba pela TAP no último dia 3 de novembro.

Caso a licença saia em março do ano que vem e a construção comece no mesmo mês, a pista deverá ficar pronta somente no segundo trimestre de 2027. Segundo a Motiva, “assim que essa for emitida pelo órgão ambiental, as obras de implantação da nova Pista de Pousos e Decolagens do Aeroporto Internacional Afonso Pena poderão ser iniciadas”. A concessionária não quis conceder entrevista para a Gazeta do Povo.

Motiva não pretende começar obra antes de definir venda de aeroportos

A construção da nova pista nunca foi um desejo da Motiva. Assim que assumiu o Bloco Sul, no fim de 2021, a concessionária tentou convencer a Anac a retirar do contrato a construção de uma nova pista. A justificativa apresentada era de que a ampliação da atual pista principal, que tem 2.218 metros de comprimento, seria cerca de 50% mais barata. A área para desapropriar, por outro lado, seria maior.

No final de 2023, a Anac respondeu e decidiu não acatar o pedido da Motiva. “Dessa forma, a obrigação contratual da eventual construção de uma terceira pista está mantida”, comunicou a agência na época.

A construção da nova pista do Afonso Pena é a obra mais complexa e cara de todos os aeroportos que fazem parte do Bloco Sul. A inclusão dela no contrato, aliás, foi mais uma resposta da pressão de políticos e do setor produtivo do Paraná do que uma obra essencial. Tanto que, para acomodá-la, a Anac precisou retirar investimentos previstos no início do processo de licitação para os outros terminais do bloco.

A Motiva tanto fez que é possível que fique sem a obrigação de construir a pista, repassando essa questão para outra empresa. Isso porque a concessionária está vendendo seus 17 aeroportos no Brasil e outros três estrangeiros. Ou seja, caso alguém leve o Afonso Pena, vai precisar assumir a responsabilidade pela obra da nova pista.

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No início de outubro, a companhia informou que entrou na etapa de propostas vinculantes de potenciais compradores. A espanhola Aena, que administra Congonhas e outros 16 aeroportos no Brasil, é a mais interessada no negócio, apesar de não querer levar o pacote todo, e sim alguns terminais específicos.

Segundo pessoas ouvidas pela reportagem da Gazeta do Povo, a Motiva tem segurado os investimentos diretos na construção da nova pista exatamente para não precisar aportar recursos significativos em um momento de negociações com outras concessionárias. O entendimento é de que não vale a pena começar algo que não vai precisar concluir.

Prefeitura e Câmara de São José dos Pinhais aguardam

A construção da terceira pista ficou mais próxima de se tornar realidade após um acordo entre a concessionária, o governo do Paraná e a prefeitura de São José dos Pinhais. Pelo projeto, a pista precisará cortar uma importante rua que liga os bairros Quississana e Costeira, dificultando a ligação de centenas de pessoas todos os dias — 380 metros se transformarão em 6,1 quilômetros.

Para driblar essa questão e viabilizar a obra, a Motiva aceitou bancar projetos básicos e executivos de obras viárias para compensar o fechamento da rua. O governo do estado, por sua vez, investirá R$ 200 milhões para executar as intervenções e ainda construir uma escola estadual e outra municipal.

Construção da nova pista do Afonso Pena é a obra mais complexa e cara de todos os aeroportos que integram o Bloco Sul.

De acordo com a prefeitura de São José dos Pinhais, “os projetos de reestruturação viária estão em fase final de elaboração, desenvolvidos pela empresa contratada pela concessionária e acompanhados pela equipe técnica da prefeitura”. A expectativa é de que sejam licitadas e iniciadas no primeiro semestre de 2026 — o cronograma original era de início ainda em 2025.

Serão cerca de 13 quilômetros de intervenções viárias, que incluem novas vias de ligação, calçadas, drenagem, traçados, iluminação e pavimentação. Em nota, o município informou que “permanece acompanhando o processo e colaborando dentro de suas atribuições legais.”

A Câmara Municipal de São José dos Pinhais também comunicou que está em dia com suas obrigações em relação à construção da nova pista do aeroporto Afonso Pena. A principal iniciativa foi a aprovação do Projeto de Lei Complementar nº 3/2025, que revisa o sistema viário da cidade e permite a execução das intervenções. Ao mesmo tempo, assegura que nenhuma via seja fechada antes da execução das novas rotas de acesso.

“A Câmara cumpriu seu papel de garantir que o desenvolvimento avance de forma equilibrada, respeitando a comunidade e a cidade. O diálogo aberto com a população e a atuação técnica dos vereadores resultaram em um aprimoramento importante para a segurança e mobilidade de todos”, declarou o presidente da Câmara de São José dos Pinhais, vereador Professor Wellington Leitão (PSB).

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Nova pista permitirá voos diretos para Estados Unidos e Europa

O principal ganho do aeroporto Afonso Pena com a nova pista é a possibilidade de decolagens de aviões de cargas e de passageiros para destinos na Europa e nos Estados Unidos sem a necessidade de escalas técnicas para reabastecimento em outros aeroportos do país.

A nova pista permitiria, por exemplo, que o recém-anunciado voo da TAP de Lisboa, em Portugal, para Curitiba pudesse ter a volta direta também, sem a necessidade de uma escala no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. A pista principal atual, com 2.218 metros de comprimento, a uma altitude de 911 metros, é um fator limitante para decolagens de aviões de grande porte.

A expectativa do governo do Paraná é viabilizar outros voos internacionais quando a nova pista estiver pronta. Uma das rotas mais esperada é a ligação direta para a Cidade do Panamá, pela Copa Airlines, que abre a possibilidade para destinos no Caribe e nos Estados Unidos.

No passado, já houve operação de voos entre Curitiba e Miami, durante quase três anos. Neste caso, a American Airlines voava direto para Curitiba, mas o retorno era feito via Porto Alegre, que tinha uma pista maior em uma altitude menor — hoje a pista do Salgado Filho é ainda mais comprida, com 3,2 mil metros.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/parana/prestes-a-vender-aeroportos-motiva-segura-obra-terceira-pista-afonso-pena/