22 de julho de 2025
Principal aliado de Eduardo na articulação contra Moraes foi sócio
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Figura-chave na ofensiva internacional contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo acumula um histórico controverso com os Estados Unidos, informa a coluna de Letícia Casado no portal UOL. Dez anos antes de atuar como articulador da campanha do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para que o magistrado seja sancionado com base na Lei Magnitsky — legislação estadunidense que pune violações de direitos humanos —, Figueiredo foi sócio do ex-presidente Donald Trump em um empreendimento hoteleiro no Rio de Janeiro que acabou envolvido em suspeitas de corrupção.

O projeto, anunciado em 2013, previa a construção do Trump Rio de Janeiro Hotel, na Barra da Tijuca, com ambição de explorar o boom da rede hoteleira às vésperas dos Jogos Olímpicos de 2016. Segundo Figueiredo, o plano ainda incluía a criação de um cassino no hotel, caso avançasse no Congresso Nacional o projeto que visava legalizar casas de jogos no país.

No entanto, as obras não saíram como o previsto. Atrasos no cronograma e suspeitas em torno do financiamento por fundos de pensão brasileiros levaram o negócio a ser investigado por possível corrupção. Em dezembro de 2016, semanas antes de assumir seu primeiro mandato na presidência dos EUA, Trump decidiu remover seu nome do empreendimento.

Figueiredo, que ocupava o cargo de diretor-executivo da empresa responsável pelo projeto, deixou o negócio no fim de 2015 e se mudou para os Estados Unidos. Ele alegou que Trump “não tinha como saber” se havia irregularidades, pois os fundos não eram de capital aberto. A investigação, no entanto, prosseguiu. Em 2019, Figueiredo foi preso em Miami, após seu nome constar na lista de procurados da Interpol, acusado de envolvimento num suposto esquema de pagamento de propina a dirigentes do BRB (Banco de Brasília), estatal do governo do Distrito Federal, em troca de aportes financeiros ao hotel.

Ele passou 17 dias no centro de detenção Krome, em Miami, e cumpriu dois anos de medidas cautelares na Flórida. Em 2021, o processo foi trancado. “Gastei uma fortuna de advogados e fiquei no limbo empresarial, com contas bloqueadas”, declarou à coluna. “Minhas filhas de 2 e 3 anos perguntavam quando eu ia voltar para casa.” Na ocasião, foi defendido pelo advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, hoje próximo do presidente Lula (PT).

“Este caso aí foi minha ‘preparação’ para enfrentar o que passo hoje”, afirma Figueiredo, em referência à atuação atual contra Moraes.

Hoje, o ex-comentarista é considerado o principal elo entre o bolsonarismo e os setores trumpistas em Washington. Ele acompanha Eduardo Bolsonaro em reuniões com parlamentares republicanos e setores conservadores da política estadunidense. A articulação teve como resultado prático a revogação dos vistos de entrada nos EUA de ministros do STF, incluindo o próprio Moraes.

A ligação com a família Trump começou por intermédio de Ivanka Trump, filha do ex-presidente. Figueiredo relata que o encontro ocorreu em Palm Beach, na Flórida, em um almoço no campo de golfe da família. “Ela perguntou se eu gostaria de conhecê-lo, e eu disse que sim”, relembra. “Ele falou comigo rapidamente até que ela disse que eu era neto do ex-presidente do Brasil. Então ele imediatamente ficou interessado, sentou e ficamos falando sobre política. Já naquela época ele estava claramente mais interessado em política do que em negócios.”

Paulo Figueiredo é neto do general João Baptista Figueiredo, último presidente do regime militar brasileiro (1979–1985). Segundo ele, o projeto do hotel na Barra foi conduzido em parceria com Ivanka e com Donald Trump Jr., filho mais velho do magnata.

Além do hotel, outro projeto associado ao conglomerado de Trump também naufragou na mesma época: o Trump Towers Rio, um conjunto de torres corporativas que seria construído na região central da cidade, nunca saiu do papel.

Hoje, passados dez anos do fiasco no mercado imobiliário, Figueiredo ressurge como figura central em uma ofensiva que reacende a tensão entre instituições brasileiras e alas conservadoras dos EUA, colocando novamente seu nome no centro de uma disputa internacional — agora, com fortes conotações políticas.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/principal-aliado-de-eduardo-na-articulacao-contra-moraes-foi-socio-de-trump-em-hotel-fracassado-no-rio-e-preso-em-miami/