
O plano nacional de Ratinho Junior (PSD) está na rua. Governador do Paraná desde janeiro de 2019 e sem possibilidade de uma nova reeleição, ele não esconde mais que suas ambições extrapolam o estado e que o alvo é a Presidência da República nas eleições em 2026.
Entrevistas para veículos nacionais e podcasts, encontros na Faria Lima — o principal centro econômico do país — e o tom em postagens recentes nas redes sociais demonstram a guinada da hesitação para a ação.
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Desde quando o campo da direita começou a se organizar para o embate contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ano que vem, o nome de Ratinho Junior era cogitado, bem como dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO). Mesmo assim, Ratinho Junior nunca cravou publicamente que o desejo é tentar o Palácio do Planalto — a decisão, segundo ele, depende do seu partido, mais precisamente do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab.
O aval de Kassab ele já tem, mesmo que ainda seja tratado como “plano B” do cacique do Centrão. Na ponta está o governador paulista, de quem Kassab é secretário de Governo e Relações Institucionais, mas Tarcísio vem jurando fidelidade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), resistindo à ideia de enfrentar Lula e parece estar mais disposto a percorrer um caminho mais certo em 2026 com a reeleição estadual.
Enquanto isso, nas últimas semanas o governador paranaense tem priorizado uma agenda para falar com um público que pouco ou nada o conhece, apresentando o que tem feito no Paraná nos últimos anos e compartilhando as ideias dele sobre gestão e como poderia transportá-las para âmbito nacional. “Mais do que ideologia, eu me preocupo com metodologia”, disse ao programa Inteligência Ltda, no YouTube.
Acenando também para o mercado financeiro, Ratinho Junior tem falado em fóruns e espaços de grandes corretoras e entidades empresariais. Nesses encontros têm priorizado temas caros ao setor financeiro, como privatizações e grandes investimentos. Esse gesto tem sido suficiente para o mercado financeiro classificá-lo como “viável” contra Lula.
Nas redes sociais, mais do que as ações do governo estadual, há cada vez mais conteúdos com foco pessoal: quem é Ratinho Junior, com fotos e vídeos do dia a dia. Tem ele jogando futebol, brincando com os filhos, mostrando objetos do gabinete no Palácio Iguaçu (sede do governo paranaense) — incluindo uma foto com o pai, o apresentador Ratinho —, e se apresentando de fato, contando a trajetória pessoal e política.
Há também acenos diretos para o Brasil. Na última semana, ao alcançar 1 milhão de seguidores no Instagram, Ratinho Junior publicou um vídeo com a seguinte legenda: “1 milhão de motivos para o Brasil virar a página e se transformar em um país moderno, inovador e com visão de futuro”.
Outro vídeo, feito com auxílio de inteligência artificial, coloca ele no papel de Jedi, da franquia Star Wars, “combatendo” as mazelas do país, como contas no vermelho, desemprego e mordomias. “A força do trabalho de todos os paranaenses está fazendo com que o nosso estado avance cada vez mais. O que deu certo aqui, vai dar certo para o Brasil”, diz o texto que acompanha a animação.

Desafio de Ratinho Junior é nacionalizar nome a tempo da eleição
O primeiro turno da eleição de 2026 está a um ano de distância. Isso, em termos de estratégia eleitoral, é um período curto. Dessa forma, sem uma definição de quem será o candidato que herdará o espólio de Bolsonaro, Ratinho Junior tenta se adiantar para chegar ao período eleitoral com um grau de disseminação de sua imagem suficiente para ser competitivo ao pleito.
As pesquisas de opinião mostram que ele vem fazendo isso. E dando resultado. Um levantamento da Genial/Quaest, publicado em 18 de setembro, mostrou que Ratinho Junior é conhecido por 58% do eleitorado, 9 pontos percentuais a mais do que registrara em janeiro deste ano em pesquisa do mesmo instituto.
“A candidatura à Presidência não depende de uma vontade individual. Mas essa movimentação, para além do desejo, é estratégica. Ela ajuda a movimentar o cenário como um todo”, analisa o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino. “O desafio é vencer a nacionalização do nome. O Paraná não é um dos estados com maior colégio eleitoral do país. Não é impossível, mas é um desafio”, complementa.
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Na comparação com Tarcísio de Freitas, o governador paranaense perde terreno em grau de conhecimento por parte da população — 66% dizem conhecer o mandatário paulista. Ao se colocar na rua e se apresentar, neste momento, como um potencial candidato mais moderado e de centro-direita, Ratinho Junior pode acelerar sua nacionalização e sem a necessidade de atrelar seu nome a nenhum puxador de voto, como Tarcísio com Bolsonaro.
Isso daria a ele mais entrada, inclusive, entre o eleitorado de esquerda: segundo a pesquisa Quaest, 11% dos lulistas e 13% dos esquerdistas não lulistas considerariam votar nele para presidente. “O Ratinho Junior não tem esse compromisso com os bolsonaristas. Ele acaba tendo mais facilidade para se apresentar, para se articular e se mostrar para setores mais amplos”, opina o cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Mário Sérgio Lepre.
Além disso, o governador do Paraná tem o trunfo de poder usar a popularidade do pai, o apresentador Ratinho, que fala diretamente para uma parcela do eleitorado que tenderia a votar em Lula. Seguindo os passos do pai, Ratinho Junior também trilhou pela comunicação, o que lhe daria mais possibilidades para conquistar votos em todo o Brasil.
“Ele tem um perfil extremamente nacionalizável. Ele era radialista, tem capacidade de articulação e de falar diretamente com o grosso do eleitorado brasileiro”, acrescenta Lepre.
A idade dele também é apontada como um ponto favorável. Ratinho Junior tem 44 anos e consegue trazer a ideia da renovação na política, mesmo que tenha começado essa trajetória aos 21 anos, quando se elegeu deputado estadual com 189.739 votos, sendo o mais votado daquele pleito para a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
“Ele é desconhecido por boa parte dos brasileiros, mas o perfil que ele projeta é muito importante para mudar isso. Tem a característica da juventude e, num momento de polarização, com o atual presidente na casa dos 80 anos, acenar com a ideia de renovação e juventude é importante”, complementa Consentino, do Insper.
- Metodologia da pesquisa de setembro de 2025: 2.004 entrevistados pela Quaest em 120 municípios do Brasil, entre os dias 12 e 14 de setembro de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 2 pontos percentuais.
- Metodologia da pesquisa de janeiro de 2025: 4.500 entrevistados pela Quaest em 250 municípios do Brasil, entre os dias 121 e 23 de janeiro de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 1 ponto percentual.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/parana/ratinho-junior-muda-postura-sinais-mais-claros-disputa-presidencia/