
Faltando menos de uma semana para o início do Debate Geral da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, parte da delegação oficial brasileira ainda não recebeu os vistos necessários para viajar aos Estados Unidos. A equipe acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já tem seu visto garantido. A situação é vista por diplomatas como uma forma de pressão do governo de Donald Trump sobre o Brasil, em um gesto que busca constranger Lula e seu entorno.
ONU considera caso “preocupante”
Nesta segunda-feira (15), a Organização das Nações Unidas manifestou preocupação com o impasse. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil afirmou que, caso as restrições persistam, poderá ser aberto um processo de arbitragem dentro da própria ONU, com base no acordo de sede que obriga os EUA a garantir o acesso de delegações estrangeiras para atividades oficiais.
Atrito político com fundo ideológico
A tensão ocorre em meio a uma crescente disputa ideológica entre os governos de Trump e Lula. Há dez dias, o presidente americano afirmou que a concessão de vistos diplomáticos ao Brasil estava em avaliação. Questionado se haveria um eventual bloqueio à delegação brasileira, limitou-se a dizer: “Veremos. O governo brasileiro mudou radicalmente para a esquerda. Isso está fazendo muito mal.”
Possível violação de acordo internacional
O acordo de sede entre os Estados Unidos e a ONU estabelece que o país anfitrião deve permitir a entrada de autoridades estrangeiras para participarem de eventos oficiais na organização. Apesar disso, a administração Trump já negou vistos recentemente a representantes da Palestina e sinalizou restrições semelhantes a países como Irã, Sudão, Zimbábue e agora o Brasil. Segundo a Associated Press, as medidas fazem parte de um plano de endurecimento diplomático revelado por um memorando do Departamento de Estado americano.
Itamaraty confirma pendências
O Itamaraty confirmou que ainda há vistos pendentes, mas não informou quantos integrantes da comitiva seguem sem autorização para viajar. Funcionários do governo federal, incluindo servidores da Presidência, do Ministério das Relações Exteriores e de outras pastas, foram orientados a preencher os formulários e iniciar o processo individual de solicitação.
Vistos diferenciados para autoridades
Para representantes que participam temporariamente de eventos na ONU, os Estados Unidos emitem o visto G2, com validade de até dois anos. Já chefes de Estado, ministros e altas autoridades utilizam o visto A1. De acordo com o governo brasileiro, os pedidos estão “em processamento”, o que causa preocupação devido à proximidade da viagem. A expectativa inicial era que Lula embarcasse no sábado (20), com uma equipe técnica partindo antes para organizar a logística.
Diplomacia mantém esperança
Apesar do cenário incerto, o governo brasileiro demonstra cautela. “Nossa expectativa é que correrá bem”, disse o ministro Marcelo Viegas, diretor do Departamento de Organismos Internacionais do Itamaraty. Ele ressaltou que, embora o visto não garanta automaticamente a entrada, não há elementos concretos para supor uma negativa.
Brasil já protestou formalmente
Na última sexta-feira (12), o Brasil protestou formalmente em reunião na ONU com os Estados Unidos. O encontro foi convocado para debater a negativa de credenciamento da comitiva da Palestina. Embora não seja membro do comitê que discutiu o caso, o Brasil participou da sessão e alertou sobre possíveis violações ao acordo de sede por parte dos EUA.
Ministros punidos com cancelamento de vistos
Além do atraso nos vistos da comitiva, diplomatas brasileiros confirmaram que dois ministros — Alexandre Padilha (Saúde) e Ricardo Lewandowski (Justiça) — tiveram seus vistos pessoais ou de familiares cancelados nas últimas semanas. A medida é interpretada como uma retaliação direta de Washington. Por outro lado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve sua entrada autorizada pelos EUA, o que evidencia uma aplicação seletiva das restrições.
Lula publica artigo direto a Trump
Como resposta política, o presidente Lula publicou um artigo no New York Times afirmando que a soberania do Brasil é inegociável. O gesto é visto como um recado direto ao governo americano, que tem utilizado a diplomacia como instrumento de pressão geopolítica.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/restricao-de-vistos-pelo-governo-trump-causa-problemas-a-viagem-de-lula-a-onu/