
As incertezas sobre o cenário eleitoral de 2026 e os riscos de uma nova vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltaram ao centro das conversas entre a elite do empresariado brasileiro, que busca uma terceira via capaz de enfrentar o petista nas urnas. O tema foi tratado em uma reunião ocorrida nesta semana na capital paulista, restrita a cerca de 40 convidados, entre empresários influentes e caciques políticos.
Ao longo do encontro, participantes apontaram que Lula deve chegar fortalecido à disputa, impulsionado pela ampliação de programas de apelo popular e pela crise diplomática com Donald Trump, que reforçou o discurso de soberania nacional adotado pelo governo federal e arrefeceu a inflação no país.
Apesar de divergências sobre as estratégias, entre o empresariado da maior economia do país prevaleceu a preferência por uma candidatura de centro com chance real de romper a polarização política. Entre os possíveis nomes, o do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), foi o mais citado como alternativa viável para unir diferentes campos do espectro político.
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Decepção com Tarcísio e busca por candidatura sem “radicalismo” de Bolsonaro
Ainda que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seja visto como o candidato mais preparado para enfrentar Lula, as críticas a ele apareceram de forma contundente na reunião. “Houve uma decepção muito grande com o Tarcísio”, afirmou um importante empresário ligado à indústria.
“São Paulo não gosta dessa submissão e se incomoda em ver um governador bem preparado discutindo de igual para igual com Eduardo Bolsonaro, ou tomando esporro de Silas Malafaia na Paulista”, complementou. A Gazeta do Povo tentou contato com o governador Tarcísio, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
A reiterada negativa do governador paulista em entrar na disputa nacional reforçou o nome de Ratinho Junior como o mais viável entre os governadores de oposição ao governo federal. Também foram citados Ronaldo Caiado (União), de Goiás, e os riscos de que o bolsonarismo lance um candidato próprio para administrar o espólio político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Vamos admitir que esse quadro se consolide. Tenho muita expectativa na candidatura de Ratinho. Apesar de jovem, revela maturidade e habilidade política”, disse um dos participantes. Houve também o alerta de que uma fragmentação excessiva pode repetir o cenário da última eleição presidencial, abrindo espaço para uma reedição do segundo turno entre Lula e um representante de Bolsonaro.
Aposta em terceira via para 2026 mira disputa para quatro anos depois
Entre os participantes, ganhou força a ideia de que a articulação de uma candidatura considerada como de centro deve começar “imediatamente”, ainda que o objetivo principal seja pavimentar o caminho para 2030. “É melhor definir um nome e prepará-lo desde já para que, ainda que perca em 2026, seja competitivo no próximo ciclo”, resumiu um dos presentes.
A lembrança da eleição passada pairou sobre a mesa. Em 2022, boa parte do empresariado apostou em Simone Tebet (MDB) como símbolo da terceira via, com a promessa de que o MDB daria toda a estrutura nacional para a candidata se tornar conhecida no país.
A decepção veio com o segundo turno, quando ela se aliou a Lula e, com a vitória do PT, passou a integrar o governo, à frente da pasta de Planejamento e Orçamento. “O próprio MDB, vale lembrar, não queria que ela fosse candidata”, comentou um dos interlocutores, recordando que o partido prefere evitar lançar candidatos próprios na disputa pela Presidência da República.
Também se destacou a importância de um candidato com estrutura partidária sólida. “Não basta vontade. É preciso partido, coligação, dinheiro, tempo de rádio e TV, e fundo eleitoral”, avaliou um político. Ratinho Junior foi apontado como um dos poucos que já reúne essas condições, além de ter a vantagem de estar em um partido com comando definido e articulação política experiente, sob a liderança de Gilberto Kassab.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/sao-paulo/reuniao-elite-empresarial-caciques-politicos-terceira-via-2026/