O coração da cerveja brasileira bate no campo — mais precisamente nas lavouras de cevada. Entre elas, destacam-se as localizadas na região norte do estado do Rio Grande do Sul. É dali que sai boa parte do grão que dá origem à bebida alcoólica mais consumida pelos brasileiros.
Com tecnologia, pesquisa e parcerias entre produtores e indústria, a cevada nacional vem ganhando espaço e qualidade com uma cultivar 16% mais produtiva e resistente a doenças. Em Muitos Capões (RS), um dos municípios em que produtores investem no cultivo dessa cevada, a Ambev realiza há mais de 20 anos um encontro para apresentar as cultivares e marcar o início da safra.
Na última terça-feira (28), a empresa reuniu quem planta e quem transforma o grão em produto. Mais de 600 agricultores gaúchos cultivam cevada em parceria com a companhia, movimentando cerca de 100 mil toneladas por ano.
“O campo é o ponto de partida de toda a nossa cadeia produtiva. Investir em tecnologia, sustentabilidade e no desenvolvimento das famílias agricultoras é investir na qualidade da cerveja que chega ao copo dos brasileiros”, afirmou o vice-presidente de Suprimentos e Sustentabilidade da Ambev, Felipe Baruque.
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Pesquisa transforma cevada em símbolo de inovação no campo
O salto da cevada brasileira está interligado ao investimento em pesquisa e desenvolvimento. Em outubro, a Ambev homologou oficialmente a ABI Valente, uma nova cultivar criada no Brasil após 12 anos de estudos. A variedade apresenta um rendimento 16% superior ao padrão comercial e grãos 15% maiores, além de maior resistência às doenças típicas da cultura.
A pesquisa que originou a cultivar é extensa. Foram mais de 3 mil linhagens testadas, 10 mil parcelas experimentais e 4 mil dados agronômicos avaliados anualmente até chegar à variedade ideal para as condições do país. “As nossas cultivares representam um grande salto de qualidade para o agronegócio brasileiro. Garantir a melhor matéria-prima é o começo de tudo”, apontou a gerente regional de Pesquisa e Desenvolvimento da Ambev, Adriana Favaretto.
Com essas inovações, o Brasil avança no domínio da genética aplicada à agricultura e reforça sua capacidade de competir com grandes produtores internacionais. A cevada passa a simbolizar não apenas tradição rural, como também o potencial científico e tecnológico do agronegócio nacional.
Produtores gaúchos investem em tecnologia e genética para aumentar a produtividade e qualidade da cevada (Foto: Lucas Tomazzzoni/Nada Coletivo)Produtores de cevada reforçam laços com a indústria e ampliam a produção
Em Muitos Capões, Rafael Zamban cultiva o grão há 35 anos e mantém parceria com a Ambev há mais de 15. São 3,5 mil hectares de lavouras, grande parte dedicada para a cultivar ABI Valente.
“A cevada é um desafio, e todo desafio acaba virando paixão. Ela se encaixa bem na nossa região, e a cada safra a gente aprende mais com ela”, afirmou Zamban.
O produtor também é responsável pela produção de sementes usadas em boa parte das lavouras gaúchas, o que contribui no fornecimento para novas áreas de plantio e o avanço da cultura no estado. Segundo ele, o trabalho com a cevada exige atenção constante às condições climáticas, mas traz grande satisfação.
“O agro é uma indústria a céu aberto. A gente depende do clima, mas quando tudo dá certo, o resultado aparece e é motivo de orgulho”, completou.
O avanço nas lavouras também aparece nos números nacionais. Em 2024, a produção de cevada no Brasil atingiu 427 mil toneladas, cultivadas em 117 mil hectares, com produtividade média de 3,6 toneladas por hectare, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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Indústria aposta em cevada nacional para reduzir dependência externa e custos logísticos
A maltaria Passo Fundo, da Ambev, inaugurada em 2012, é um dos elos primordiais dessa cadeia produtiva. A unidade produz cerca de 150 mil toneladas de malte por ano, abastecendo quatro das 30 cervejarias da companhia — o equivalente a 34% do volume total de produção.
De acordo com a gerente da fábrica, Marina Pezzini, de 20% a 30% da cevada utilizada é nacional, e o objetivo é ampliar essa participação. “Quando a cevada é brasileira, além de reduzir custos logísticos, a gente valoriza o trabalho do produtor local e garante competitividade para toda a cadeia”, afirmou.
Na unidade de Passo Fundo, a Ambev processa 150 mil toneladas de malte por ano. (Foto: Ranieri Dallago/Nada Coletivo)A gerente da fábrica diz que a qualidade do grão produzido no país vem crescendo. “A cada safra, a cevada nacional chega à indústria mais resistente, produtiva e adaptada ao nosso clima. Esse avanço garante uma base sólida para expandir a produção e aumentar a autossuficiência do Brasil”, explicou.
O crescimento dessa base agrícola fortalece diretamente o setor cervejeiro nacional, que vive um momento de expansão. Segundo o Anuário da Cerveja 2025, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Brasil soma 1.949 cervejarias registradas.
O ranking é liderado por São Paulo com 427 fabricantes, seguido por Rio Grande do Sul (349) e Santa Catarina (250). Os três estados concentram mais da metade das cervejarias do país.
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O impacto da cevada vai além das lavouras e das maltarias. O setor cervejeiro representa 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, gera mais de 2 milhões de empregos e movimenta R$ 27 bilhões em salários por ano. Nos últimos três anos, a Ambev destinou R$ 10 bilhões em investimentos no Brasil, parte deles voltados à modernização da cadeia da cevada e ao apoio direto a produtores rurais.
Setor cervejeiro nacional vive momento de expansão.
“Cada avanço genético e cada semente aprimorada representam mais produtividade para o agricultor e mais qualidade para o consumidor final”, resumiu o vice-presidente de Supply da Ambev, Valdecir Duarte. Com o aumento da produção nacional, o Brasil também reduz dependência de importações vindas do Uruguai e da Argentina, conquistando mais autonomia e competitividade no mercado internacional.
*A repórter viajou a Muitos Capões (RS) a convite da Ambev.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/revolucao-no-campo-que-esta-tornando-cerveja-brasileira-mais-competitiva/
