23 de novembro de 2024
‘Se for para seguir Jesus, melhor estar com Lula’, diz
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O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), em seu gabinete, durante entrevista à Folha –

O prefeito reeleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), afirmou nesta terça-feira (8), em entrevista à Folha, que vê meios de o presidente Lula (PT) se reaproximar do eleitorado evangélico e de lideranças do segmento.

Após uma vitória com o apoio de pastores e fiéis, apesar de ter enfrentado o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL), Paes afirma ver proximidade entre as políticas públicas defendidas pelo petista e o interesse dos evangélicos.

“Ele sempre defendeu o Bolsa Família, transporte para as pessoas mais pobres, o Minha Casa, Minha Vida, em que a maioria das pessoas são evangélicas. […] O valor cristão ensina que você tem que cuidar dos mais pobres, ser mais solidário, mais humano. Então se for para seguir Jesus, é melhor estar com o Lula”, afirmou em seu gabinete na prefeitura.

Paes garantiu apoio à reeleição de Lula e minimizou a dubiedade na atuação do PSD e de seu presidente nacional, Gilberto Kassab. Afirmou que o PT “queimou cartucho” ao apoiar sua reeleição sob condição de apoio ao presidente em 2026, abrindo mão de exigir a vice na chapa.

“Se isso para eles foi condição, eles perderam uma ótima oportunidade de escolher outras condições. […] Já ia no automático. Não tinha a menor necessidade de gastar esse cartucho.”

Foi uma reeleição mais difícil do que em 2012?
A eleição de 2012 não tinha tantos fatores que poderiam mudar o jogo. O apoio do Bolsonaro e a máquina do estado a favor da candidatura do Ramagem eram fatores que estavam menos no meu controle do que em 2012. Sob esse aspecto, foi mais difícil, sim.

Quais serão as variáveis para decidir se sai para disputar a eleição em 2026?
A decisão está tomada: eu fico na prefeitura. O que eu vou fazer é participar ativamente e ajudar na construção de um projeto decente para o estado.

O sr. vê quadros no Rio que possam disputar com seu apoio?
Se eu não visse, eu ia precisar de uma terapia para abaixar a minha bola. E olha que eu sou um sujeito que até me acho um cara ok, mas seria demais. Claro que tem alternativas. Talvez não sejam os quadros tão evidentes que têm surgido nos últimos tempos.

O PSD saiu como um dos vitoriosos dessa eleição. Como o sr. avalia o resultado do partido?
O PSD não cometeu o erro de ficar subordinado a qualquer das forças protagonistas da política nacional. Essa foi a grande diferença. Uns se subordinaram totalmente ao [ex-]presidente [Jair] Bolsonaro, e outros à liderança do presidente Lula.

O PSD manteve a sua identidade, sem ter características de centrão. O centrão, para mim, é um sujeito que estava no governo do Bolsonaro e está no Lula também. O PSD não estava no governo Bolsonaro e está no governo Lula.

Todo mundo sabe que eu sou aliado do presidente Lula, mas eu não sou PT. Eu sou PSD. Temos as nossas discordâncias, nossas visões distintas do mundo. Isso é um pouco a característica do PSD. Manteve uma certa postura independente, de um centro pragmático que busca a solução para os problemas do Brasil, das cidades e dos estados que governam.

Mas, para o futuro, o PSD está com um pé em cada canoa. O Kassab está com o governador Tarcísio [de Freitas] e o sr., com o Lula.
Vamos esperar a dinâmica de 2026 se consolidar. Acho tudo muito prematuro. O Kassab tem sido honesto. O favorito é o incumbente. O Lula é um talento na política, sabe governar. Se ele for candidato à reeleição, é porque vai estar em boas condições físicas e de popularidade. Eu tenho certeza que o presidente Lula vai ser candidato e vai se reeleger com o meu apoio.

O PT apoiou o sr. aqui sob essa condição. É um apoio condicionado ou convicto?
Se isso para eles foi condição, eles perderam uma ótima oportunidade de escolher outras condições. Porque, dado o grau de identidade que eu tenho com o presidente Lula, eles não precisavam nem ter condicionado porque já ia no automático. Se foi uma das condições, gastaram o cartucho à toa.

No discurso de vitória, o sr. falou que sua aliança seria um exemplo para o Brasil. Por quê?
Ela mostra que é possível, com forças distintas, que pensam diferente, construir consensos para melhorar a vida das pessoas.

A aliança com lideranças evangélicas é reproduzível em escala nacional?
Acho que sim. A igreja não é de um homem, é de Deus. Então, não é o bem contra o mal, nessa visão maniqueísta do mundo, “eu sou Deus, você é o diabo”. Acho que tem um meio-termo.

O PT e o Lula têm capacidade de se reconectar com essas lideranças religiosas?
Totalmente. O presidente Lula não é um sujeito de pautas anticristãs. Nunca foi. É defensor da liberdade religiosa. Nunca oprimiu nenhum evangélico. Cuida dos assuntos da vida real dos evangélicos, isso é uma prioridade dele. Ele sempre defendeu o Bolsa Família, transporte para as pessoas mais pobres, o Minha Casa, Minha Vida, em que a maioria das pessoas são evangélicas. É um sujeito que trabalha muito com os evangélicos.

O sr. imagina [o deputado] Otoni de Paula fazendo campanha para o presidente Lula?
Imagino ser possível. O valor cristão ensina que você tem que cuidar dos mais pobres, melhorar a vida das pessoas, ser mais solidário, mais humano. Então, se for para seguir Jesus, é melhor estar com o Lula.
As elites brasileiras, incluindo-se aí a imprensa, tratam os evangélicos como se eles fossem seres de outro mundo. Têm sido objeto de estudos e leituras um tanto quanto complexas. A minha experiência é de relação de absoluta normalidade. Estão fantasiando esse personagem evangélico no Brasil como se fosse um ser de outro mundo. Não é. Ouvem lá o pastor deles também, mas influenciam mais o pastor do que o pastor a eles.

E a sua relação aqui com o governador Cláudio Castro, como fica?
Ele me ligou para dar os parabéns. Acabou a eleição, vamos para o institucional. Ele errou muito na eleição. Foi cúmplice do [Alexandre] Ramagem na tentativa de jogar sobre mim a responsabilidade das questões da segurança pública. Como eu não tiro print das minhas conversas com ele, quero crer que ele cometeu um erro de avaliação achando que na eleição vale tudo. Não vale, principalmente para quem está na função como ele está.

Com informações de entrevista exclusiva à Folha de São Paulo

Fonte: https://agendadopoder.com.br/se-for-para-seguir-jesus-melhor-estar-com-lula-diz-paes-ao-ver-proximidade-entre-as-politicas-do-presidente-e-o-interesse-dos-evangelicos/