17 de novembro de 2025
Mello Araújo ganha força para o Senado em 2026
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Em meio à confusão na Câmara dos Deputados com as idas e vindas do texto do PL antifacção enviado ao Congresso Nacional pelo governo Lula e relatado pelo deputado federal Guilherme Derrite (Progressistas-SP), ganha força nos bastidores entre os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) o nome do coronel Ricardo Mello Araújo (PL) para concorrer a uma das duas vagas que estarão em disputa no Senado pelo estado paulista nas eleições de 2026.

Mello Araújo foi o escolhido pelo próprio Bolsonaro para compor a chapa como vice de Ricardo Nunes (MDB) nas eleições à prefeitura da capital paulista no ano passado. Já Derrite voltou a se licenciar do cargo de secretário da Segurança Pública de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo para dedicar-se exclusivamente à missão em Brasília, com aval do governador paulista.

De acordo com aliados de Mello Araújo e de Derrite, em conversas reservadas com a reportagem da Gazeta do Povo, não se trata de promover uma concorrência a mais dentro do campo da direita em 2026 para Derrite, que se filiou ao Progressistas como pré-candidato ao Senado, e sim de tentar garantir ao menos mais um nome competitivo no pleito.

Com a candidatura ao Senado cada vez mais improvável do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL), aliados próximos do ex-presidente buscam mais uma opção de candidatura que represente o “núcleo duro” dos apoiadores de Bolsonaro. Até o final de julho, a situação da direita para a eleição ao Senado no ano que vem por São Paulo parecia bem encaminhada.

Eduardo Bolsonaro era apontado como praticamente eleito nas sondagens eleitorais até então, com Derrite aparecendo invariavelmente em segundo junto com alguns nomes da esquerda que, no entanto, até agora não são pré-candidatos pelo estado — como o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Assim, uma vaga estava praticamente garantida, com chances reais de conseguir a outra com a dobradinha Derrite e Eduardo, a depender dos nomes escolhidos para disputar mais ao centro e à esquerda.

No início daquele mês, sondagem do Instituto Paraná Pesquisas, por exemplo, colocava Eduardo Bolsonaro em primeiro na preferência do eleitor, com 36,4% das intenções de voto para o Senado em São Paulo, seguido por Alckmin com 35,4%. Em outro cenário, Haddad surgia em segundo, com 32,8% das intenções de voto, atrás de Eduardo, com 36,7%.

O debate é saudável para o fortalecimento do projeto do Partido Liberal no estado.

Rosana Valle (PL), deputada federal

Em ambos os cenários, Derrite vinha em terceiro, com 22,3% e 22,9% de preferência do eleitorado, respectivamente. Como Haddad e Alckmin até agora não sinalizam disposição de concorrer no ano que vem, as perspectivas eleitorais para a direita paulista no Senado são boas.

Desde o final de julho, no entanto, o cenário tem mudado rapidamente. Com o tarifaço imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre diversos produtos brasileiros e a criminalização da atuação de Eduardo nos Estados Unidos pelo STF (Supremo Tribunal Federal) — que o tornou réu pela influência na aplicação do tarifaço e da Lei Magnitsky contra magistrados da Corte — Eduardo dificilmente deve voltar ao Brasil antes das eleições do ano que vem. Fora isso, com o processo no STF caminhando de maneira célere, dificilmente ele conseguiria levar uma candidatura ao Senado até o final sem ser declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Sondagem eleitoral do instituto Paraná Pesquisas de outubro aponta para a tendência de perda de tração do nome do filho do ex-presidente com os eleitores. Em um dos cenários testados, Haddad alcança 37,8% das intenções de votos e Eduardo 32,4%. Na sequência, o deputado Capitão Derrite aparece com 20,8%. Empatados tecnicamente, os deputados Paulinho da Força (Solidariedade-SP) e Baleia Rossi (MDB-SP) somam 12,4% e 12,3%, respectivamente.

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Derrite tem perdido oportunidade de se posicionar como nome forte, avaliam aliados

Derrite, por sua vez, tem desperdiçado uma oportunidade de se posicionar como uma liderança natural e inquestionável quando o assunto é segurança pública, avaliam alguns aliados em São Paulo. Oriundo da Polícia Militar paulista e enviado a Brasília por Tarcísio na condição de especialista no tema para ser “a cara” da direita nos debates sobre as respostas do Congresso à emergência da segurança pública, apresentou um parecer para o PL antifacção que foi criticado não só pela esquerda e pelo governo federal, mas inclusive por autoridades e instituições que atuam contra o crime organizado.

Após a repercussão pelo texto inicial, Derrite protocolou na última quarta-feira (12) aquela que é a quarta versão do substitutivo para o projeto de lei antifacção. O relator pediu ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que a votação ocorra nesta terça-feira (18).

O novo parecer atende parte das críticas do governo e das autoridades, prevê a destinação de bens apreendidos para a Polícia Federal e define facções, afastando a equiparação com o crime de terrorismo e a limitação para atuação da PF e dos Ministérios Públicos sem autorização dos governadores. Apagado o incêndio, o receio do grupo próximo a Derrite é que as controvérsias da última semana em Brasília respinguem em seu projeto eleitoral de maneira negativa.

“É natural que, à medida que se aproximam as eleições de 2026, surjam nomes com trajetória sólida e experiência pública”, afirma à Gazeta do Povo a deputada federal Rosana Valle (PL). “São Paulo tem lideranças expressivas na segurança pública, na gestão e na política. O debate é saudável para o fortalecimento do projeto do Partido Liberal no estado”, diz a deputada.

De acordo com ela, o importante é que a sigla apresente nomes comprometidos com resultados e princípios. “E com o que realmente importa aos paulistas: segurança, eficiência, respeito aos valores da direita, e, principalmente,  comprometimento com os cidadãos”, acrescenta Rosana Valle.

Neste cenário de incertezas surge a lembrança do nome de Mello Araújo para concorrer ao Senado em 2026. No levantamento do Paraná Pesquisas de outubro, o vice-prefeito de São Paulo surge em um dos cenários estimulados (sem Haddad nem Eduardo): em sexto lugar, com 11,4%, embolado com Baleia Rossi (MDB) com 12,5%; Paulinho da Força (Solidariedade) 12,9%; Ricardo Salles (Novo) com 14,3% — todos empatados na margem dentro da margem de erro. Alckmin (48%) e Derrite (23,5%) despontam. Foram entrevistados 1.680 eleitores paulistas em 86 municípios, entre os dias 9 e 12 de outubro. A margem de erro é de 2,4 pontos percentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

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Mello Araújo nega a possibilidade para 2026: mas tudo pode mudar a depender de Bolsonaro

Quando questionado sobre o tema em eventos públicos, o vice-prefeito de São Paulo tem negado a possibilidade, mas diz que pode concorrer se for para atender a um pedido do ex-presidente Bolsonaro. Ele conta com o bônus de não perder o cargo na maior prefeitura do país caso a proposta eleitoral não dê certo, desde que não tenha ocupado o posto do titular nos seis meses anteriores ao pleito, conforme prevê a legislação.

O vereador paulistano Adrilles Jorge (União Brasil) lembra que a costura política para a candidatura depende de diversos fatores. “Caso o governador Tarcísio de Freitas dispute a Presidência da República ao invés da reeleição em 2026, e Ricardo Nunes ocupe a vaga da cabeça de chapa majoritária da direita nas eleições ao governo do estado, Mello Araújo assume a prefeitura de São Paulo”, afirma o vereador à Gazeta do Povo.

Eduardo ainda é nosso candidato ao Senado e grande puxador de votos. O Derrite chega na sequência e também é um nome muito forte.

Adrilles Jorge (União Brasil), vereador em São Paulo

“Não haveria sentido trocar isso por uma disputa pelo Senado, então ainda depende de uma série de articulações que ainda estão em curso, é muito prematuro”, pontua Adrilles Jorge. “Posto isso, acho sim que o Mello Araújo poderia ser um bom nome para deputado ou senador, mas não acho que Eduardo Bolsonaro já esteja fora dessa eleição”, acrescenta ele.

“Eduardo ainda é nosso candidato ao Senado e grande puxador de votos. O Derrite chega na sequência e também é um nome muito forte”, avalia o vereador.

Outro aliado de ambos, o deputado estadual Tenente Coimbra (PL) gosta do nome de Mello Araújo para o pleito do ano que vem e não concorda com as críticas ao texto do deputado federal. “Nosso grande nome para o Senado é justamente o do Guilherme Derrite, e se a outra vaga for disputada pelo coronel Mello Araújo, que tem a confiança do presidente Bolsonaro e mostrou ser um cara muito íntegro na gestão do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), temos tudo para consegui-la também”, afirma à Gazeta do Povo.

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Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/sao-paulo/sem-eduardo-bolsonaro-recuos-derrite-pl-antifaccao-mello-araujo-ganha-forca-senado-2026/