A missão oficial de senadores brasileiros aos Estados Unidos para tentar conter os efeitos do tarifaço imposto por Donald Trump ao Brasil começou com frustrações. O principal revés foi a ausência inesperada do senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul, em uma reunião considerada estratégica pela comitiva brasileira. O parlamentar, um dos poucos com interlocução junto à Casa Branca, simplesmente não apareceu ao encontro e tampouco justificou sua falta, segundo informa Malu Gaspar em sua coluna no jornal O Globo.
A expectativa em torno da reunião era alta. Além de ser próximo ao governo Trump, Graham havia defendido punições ao Brasil pelo aumento das importações de petróleo russo, em entrevista à Fox News no último dia 21. A ausência surpreendeu os parlamentares brasileiros, que souberam da desistência apenas no momento da reunião.
“Ele ficou de ir e não foi, agora vai saber o que aconteceu? Ali ninguém conseguiu informar para nós o que houve”, disse o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), coordenador da comitiva, em tom irônico durante coletiva de imprensa em Washington.
Segundo apuração do blog com fontes ligadas à Casa Branca, Graham teria sido orientado por aliados republicanos no Senado a cancelar a reunião para evitar desgastes com o presidente Trump. A ausência do senador acabou simbolizando o isolamento da comitiva brasileira em sua tentativa de diálogo com a ala trumpista do Congresso dos EUA.
Dos nove parlamentares com quem os senadores brasileiros se reuniram durante a missão, oito são do Partido Democrata — opositor de Trump. O único republicano presente foi Thom Tillis, da Carolina do Norte, que tem pouca influência junto ao atual governo. Tillis, inclusive, já anunciou que não buscará a reeleição após votar contra o pacote orçamentário proposto por Trump, o que o deixou em situação política delicada.
Nos bastidores, aliados de Jair Bolsonaro também atuaram para esvaziar a visita. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) usou as redes sociais para declarar que estaria trabalhando para impedir avanços no diálogo entre a comitiva e lideranças ligadas a Trump.
Veterano no Senado, Lindsey Graham enfrentava um dilema político. Apesar de ter sido um dos primeiros críticos de Trump nas primárias republicanas de 2016, tornou-se um apoiador fiel durante o mandato presidencial do republicano. Ainda assim, nunca foi totalmente aceito pela base do “MAGA”, movimento conservador que impulsiona Trump.
Graham planeja disputar um quinto mandato em 2026, mas enfrentará concorrência nas primárias republicanas de nomes ligados diretamente ao trumpismo, como o ex-vice-governador da Carolina do Sul, André Bauer, e Paul Dans, articulador do Projeto 2025 — plataforma que norteia as ações do governo atual. Ambos questionam a fidelidade de Graham à pauta conservadora.
Segundo aliados, a ausência do senador no encontro com os brasileiros foi uma forma de evitar exposição pública ao lado de parlamentares considerados próximos da oposição a Trump, o que poderia comprometer sua posição interna no partido.
Entre os senadores democratas que receberam a comitiva brasileira estão Tim Kaine (Virgínia), ex-candidato a vice de Hillary Clinton; Mark Kelly (Arizona), Ed Markey (Massachusetts), Michael Bennett (Colorado), Martin Heinrich (Novo México), Chris Coons (Delaware) e Jeanne Shaheen (New Hampshire). A deputada Sydney Kamlager-Dove (Califórnia) também participou.
De acordo com nota oficial da comitiva, os democratas manifestaram apoio ao Brasil e condenaram as tarifas impostas por Trump, mas também criticaram a compra de petróleo da Rússia, repetindo o discurso já feito por Graham.
A missão oficial aos EUA, até aqui, tem revelado mais os limites da diplomacia parlamentar brasileira diante da nova configuração política estadunidense do que qualquer avanço concreto nas negociações sobre o tarifaço. A ausência de Graham, articulada por pressões internas, reforça o cenário de distanciamento entre Brasília e Washington sob o novo governo Trump.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/senadores-brasileiros-levam-bolo-de-republicano-aliado-de-trump-em-missao-nos-eua/
