
A neve é um cartão-postal de algumas cidades de Santa Catarina. Neste ano, por exemplo, o branco já caiu sobre São Joaquim, Urupema, Bom Jardim da Serra e Urubici. E os turistas que rumaram para lá garantiram suas imagens pessoais no cenário peculiar. Mas os 18 municípios que fazem parte da serra catarinense querem mostrar que há muito mais para ver, sentir, beber e comer. Com ou sem neve.
A serra catarinense não tem a mesma fama que a vizinha gaúcha, consolidada há décadas como destino turístico e que carrega milhões de visitantes todos os anos. Um pouco mais ao norte o estilo é de conexão com a terra. Não há grandes monumentos ou parques temáticos. Em compensação, as paisagens naturais e o que é produzido ali mesmo fazem a diferença.
Esse aspecto mais natural, aliás, foi determinante para o crescimento turístico na região — mais de 1 milhão de pessoas visitam a serra catarinense por ano. O ponto de virada foi a pandemia da Covid-19, quando os turistas fugiram de aglomerações e buscaram destinos mais ligados à natureza.
“Na pandemia voltou-se muito o olhar para espaços que fogem da multidão e para um turismo mais sustentável, com menor carga de pessoas. E nós temos isso”, aponta o gerente regional do Sebrae, Altenir Agostini. “Os principais atrativos da serra são naturais. E por ser natural, mais contemplativo, não cabe o turismo de massa”, acrescenta.
Aquele momento e o que a região tem para oferecer combinaram perfeitamente. As pousadas com seus chalés distantes uns dos outros, os pequenos restaurantes, as vinícolas, as estradas em caracol, os cânions, as cachoeiras. Tudo se encaixou e mudou de vez os 18 municípios da serra catarinense:
- Anita Garibaldi
- Bocaina do Sul
- Bom Jardim da Serra
- Bom Retiro
- Campo Belo do Sul
- Capão Alto
- Cerro Negro
- Correia Pinto
- Lages
- Otacílio Costa
- Painel
- Palmeira
- Ponte Alta
- Rio Rufino
- São Joaquim
- São José do Cerrito
- Urubici
- Urupema
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Serra catarinense prepara estrutura para receber os turistas
Não que a região não viesse se preparando para o aumento no número dos turistas. Esse movimento começou há alguns anos, quando os municípios perceberam que trabalhar em conjunto traria mais benefícios do que preparar estratégias individualizadas. E assim montaram um plano de turismo que foi sendo ajustado para que a região como um todo se tornasse um destino turístico de fato.
Esse plano contou, e conta, com o apoio do governo de Santa Catarina. Além da promoção do destino em feiras nacionais e internacionais e apoio ao setor hoteleiro e gastronômico, o estado tem investido em infraestrutura, notadamente rodoviária, com a melhoria do “Caminho da Neve”, que liga Florianópolis a São Joaquim, na divisa com o Rio Grande do Sul. Segundo o governo do estado, faltam dez quilômetros para serem asfaltados. A estrada segue até Gramado, no estado vizinho, mas por lá ainda faltam mais de 40 quilômetros de asfaltamento.
Na questão aeroportuária, o governo catarinense está investindo R$ 5 milhões no aeroporto de Correia Pinto, incluindo a revitalização do terminal de passageiros. Com isso, a Gol vai começar a voar de Congonhas (São Paulo) três vezes por semana para a cidade a partir de novembro. Além disso, o estado está tentando viabilizar voos comerciais no aeroporto de São Joaquim.
“Isso tem contribuído para aumentar o movimento, mas cria a necessidade de um novo dever de casa, de fazer com que a serra seja atrativa o ano todo. Precisamos conseguir criar atrativos para todas as estações”, comenta Agostini, do Sebrae-SC. “Imaginamos que vai ter um crescimento um pouco acima da média do estado porque temos bastante espaço para crescer, especialmente fora da época do inverno”, complementa.
Quando o turismo começou a crescer de vez na serra catarinense, o público geralmente era formado por visitantes do próprio estado. Na pandemia, gaúchos e paranaenses expandiram as divisas que, hoje, se estendem para o todo o Brasil. E pode ir além.
O governo estadual, os municípios e o Sebrae-SC estão trabalhando para atrair os turistas argentinos. “Essa é uma oportunidade que estamos discutindo, de trazer esses turistas argentinos que vão para as praias catarinenses. Seria muito bom se eles passassem também alguns dias na serra”, adianta Agostini.
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Enoturismo entra como opção para o ano todo na serra catarinense
Ao contrário da serra gaúcha, onde a produção de vinho começou nos anos 1600 e se expandiu com os imigrantes europeus no século XIX, a serra catarinense é jovem na vitivinicultura. Apesar de começar nos anos 1990, a consolidação dos chamados vinhos de altitude é mais recente, especialmente depois do selo de Indicação Geográfica (IG) em 2020.
Em pouco tempo, porém, os vinhos da região ganharam notabilidade. Neste ano, quatro rótulos da serra catarinense foram premiados na 10ª edição da Grande Prova Vinhos do Brasil. Entre 1.007 vinhos de dez estados brasileiros, em 51 categorias distintas, quatro vinhos da região foram premiados:
- Anima Brut – Vinícola Thera (Bom Retiro): Melhor Espumante Brut Branco-Método Charmat
- Sangiovese 24 Meses – Vinícola Serra do Sol (Urubici): Melhor Espumante Brut Rosé – Método Champenoise
- Refosco Dal Peduncolo Rosso 2021 – Vinícola Leone di Venezia (São Joaquim): Melhor Tinto de outras castas
- Liquore 34 Ribolla Gialla – Vinícola Serra do Sol (Urubici): Melhor doce e fortificado

Mais do que produzir os vinhos, as vinícolas da serra catarinense estão mais preparadas para receber os turistas. O enoturismo, muito comum em outras regiões do mundo, é uma realidade na região, com visitas aos vinhedos, piqueniques, passeios de bicicletas, gastronomia e outras experiências.
“São constantes os novos projetos dentro das vinícolas, com receptivos para mostrar o potencial da estrutura física e da natureza. Há também um apelo forte de gastronomia aliado”, referenda o presidente da Associação Vinhos de Altitude Produtores Associados, Diego Censi.
Com isso, os 28 produtores da associação, que têm seus vinhedos entre 900 e 1,4 mil metros de altitude, vêm trabalhando para expandir as ofertas de experiências para os visitantes. E não só em épocas tradicionais, como em março e abril, durante a vindima. “Estamos diminuindo a sazonalidade nos últimos anos e a nossa serra está começando a ter esse equilíbrio. O vinhedo, por exemplo, tem vários momentos lindos no ano”, sugere Censi.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/santa-catarina/serra-catarinense-atracao-turistas/