
Em entrevista à agência Reuters nesta quarta-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Supremo Tribunal Federal (STF) não se deixa influenciar por declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A fala ocorre após o norte-americano anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, justificando a medida com críticas ao tratamento judicial dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“A Suprema Corte nossa não está dando a mínima para o que fala o Trump e nem pode dar. Como a Suprema Corte americana não vai dar a mínima se eu estiver fazendo uma crítica a eles”, afirmou Lula, ao comentar a acusação de Trump de que Bolsonaro estaria sendo perseguido pela Justiça brasileira, especialmente pelo ministro Alexandre de Moraes.
Lula descarta tese de perseguição política
Lula defendeu a atuação do Supremo no caso envolvendo Bolsonaro e rechaçou a tese de perseguição política. Segundo o presidente, os julgamentos estão baseados em provas e delações de aliados próximos do ex-presidente. “A Suprema Corte está julgando Bolsonaro com base nos autos e nas falas das pessoas que trabalharam com Bolsonaro. Não é a oposição que está acusando Bolsonaro, não é o Exército de outro país, são os militares que trabalharam com ele que estão fazendo a delação”, explicou.
Durante a entrevista, Lula também fez uma grave acusação ao relembrar denúncias que surgiram nas investigações sobre a tentativa de golpe em 2022. “É importante citar que no governo Bolsonaro ele tinha arquitetado matar a mim, ao Alckmin e o juiz que está cuidando do caso dele”, disse o presidente, sem entrar em detalhes sobre a apuração.
“Exijo respeito comigo”, diz Lula
Questionado se pretendia telefonar a Trump para tratar do tarifaço, Lula descartou a possibilidade e afirmou que um chefe de Estado não deve se submeter a esse tipo de gesto. “Um presidente da República não pode ficar se humilhando para outro. Eu respeito todo mundo, exijo respeito comigo. Adoro respeitar as pessoas e adoro ser respeitado”, disse.
A negativa de Lula ocorre dias após Trump sinalizar que estaria aberto a uma conversa, dizendo que Lula poderia ligar “quando quisesse”. Na véspera da entrevista, o presidente brasileiro já havia mencionado, em tom crítico, que não faria contato porque “o governo não quer”.
Lula conversará com primeiro-ministro da Índia
Em resposta à medida norte-americana, o Brasil acionou oficialmente os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC) nesta quarta-feira. O pedido de consultas, entregue à missão americana junto à entidade, é um passo formal para contestar a elevação das tarifas, embora o governo reconheça que o processo dificilmente terá efeito prático, já que a instância de apelação da OMC está paralisada. Ainda assim, o gesto é interpretado pelo Palácio do Planalto como uma defesa do sistema multilateral de comércio e das regras internacionais.
A Índia, aliada do Brasil no grupo Brics, também foi atingida pelo aumento das tarifas, que subiram de 25% para 50%. Segundo o governo brasileiro, Lula deve conversar por telefone com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, nesta quinta-feira (7). A ligação já estava agendada antes do anúncio de Trump, mas a questão comercial deverá ser discutida entre os dois líderes.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/stf-nao-da-a-minima-para-o-que-trump-fala-afirma-lula-em-meio-a-crise-do-tarifaco/