
Cotado para a disputa ao Palácio do Planalto em 2026, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) classificou de “forçação de barra” e “revanchismo” a denúncia envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sob acusação de tramar um golpe de Estado.
“Não faz sentido nenhum, é uma forçação de barra, o que você tem hoje é uma questão de revanchismo”, disse o governador paulista e ex-ministro da gestão Bolsonaro.
Tarcísio afirmou que ainda ouviu os áudios obtidos pela Polícia Federal e que “nada que é apresentado mostra uma conexão”. As declarações foram dadas em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, onde o chefe do Executivo estadual participou da entrega de uma praça.
“Está se criando uma maneira de responsabilizar pessoas que não tem responsabilidade. A gente não pode partir para esse tipo de vulgarização, isso é perigoso, isso cabe para o inimigo público número 1 hoje, vai caber para o inimigo número 1 de amanhã”, declarou o governador.
Até esta terça-feira, Tarcísio só havia se manifestado sobre o tema pelas redes sociais. Na última quinta-feira, em publicação no Instagram, ele defendeu Bolsonaro e afirmou que o ex-presidente “nunca se envolveu com qualquer movimento antidemocrático”.
O ex-presidente foi acusado pela PGR de praticar os crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e de golpe de Estado, de dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União, deterioração de patrimônio tombado e participação em uma organização criminosa.
Somadas, as penas máximas chegam a 43 anos de prisão, sem contar os agravantes, além da possibilidade de ele ficar inelegível por mais tempo do que os oito anos pelos quais foi condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Enquanto ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio endossou a postura negacionista do então presidente. O agora governador estava ao lado de Bolsonaro na live em que o ex-presidente ri ao comentar um suposto aumento de suicídios na pandemia.
Nas últimas semanas, ao defender Bolsonaro, Tarcísio tem acumulado distorções e omissões sobre o golpismo do ex-presidente. O governador já disse, por exemplo, que o ex-presidente jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do estado democrático de direito.
Ao longo de seu mandato, Bolsonaro tentou minar a credibilidade do processo eleitoral, sem apresentar indícios de irregularidades, e insuflou apoiadores que pediam golpe. Ele também consultou chefes das Forças Armadas sobre a possibilidade de ações golpistas após a derrota eleitoral em 2022, segundo depoimento dos próprios.
O ex-presidente também proferiu seguidos ataques e ameaças contra o STF, numa aparente tentativa de minar o sistema de freios e contrapesos que limitavam seu poder. Além disso, recusou-se a reconhecer o resultado da eleição, mesmo sem haver indícios de irregularidades, e a passar a faixa para seu sucessor.
Nas 272 páginas da denúncia da PGR, há robusta evidência em relação aos episódios relacionados à chamada “minuta do golpe” e ao conjunto de ações e declarações de Bolsonaro e aliados contra as urnas eletrônicas —sem que houvesse indicativo mínimo de fraude.
No casos desses dois temas, documentos, atos públicos, ações concretas e depoimentos reduzem a margem para interpretações diversas.
Versões da “minuta do golpe”, os documentos preparados para sacramentar a ruptura institucional e evitar a posse de Lula (PT), foram encontradas na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, na sala em que Bolsonaro usa no PL, seu partido, e em dispositivo eletrônico de Mauro Cid, ex-chefe da ajudância de ordens de Bolsonaro e delator da trama.
Além dos documentos, a delação de Cid e os depoimentos dos então comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Baptista Junior, apontam que essa minuta foi apresentada aos chefes das Forças Armadas, em busca de adesão, em ao menos duas reuniões —em 7 de dezembro de 2022, pelo próprio Bolsonaro, e em 14 de dezembro, pelo ministro da Defesa, o general da reserva Paulo Sérgio.
O próprio Bolsonaro admitiu em entrevistas mais recentes que chegaram a ser propostos e avaliados estados de defesa e de sítio, que em sua visão seriam instrumentos legítimos que, se fossem levados adiante, passariam pelo crivo de instituições como o Congresso e os conselhos da República e da Defesa.
Os instrumentos e conselhos, porém, estão previstos na legislação para serem acionados em casos excepcionalíssimos, como guerra ou grave convulsão social, situações que não se apresentavam no final de 2022.
Outros pontos da denúncia de Gonet dão margem a uma maior controvérsia.
O procurador-geral, por exemplo, afirma que Bolsonaro sabia e concordou com o plano de assassinato de autoridades, sendo que a investigação traz indícios, mas nenhum elemento cabal nesse sentido.
Gonet também foi além do que a própria polícia concluiu em alguns pontos, entre eles a ligação direta do ex-presidente com o ataque de 8 de janeiro de 2023. A PF não o indiciou por crimes relacionados ao episódio. Já Gonet o denunciou pelos ataques.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/tarcisio-diz-que-denuncia-da-pgr-contra-bolsonaro-e-forcacao-de-barra-e-revanchismo/