13 de julho de 2025
Tarcísio enfrenta desconfiança de aliados de Bolsonaro e se distancia
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A postura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem provocado desconforto crescente entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para lideranças bolsonaristas, a conduta do ex-ministro da Infraestrutura indica um afastamento da base mais fiel ao bolsonarismo, especialmente após sua reação considerada tímida à tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros.

As informações são da colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo. Apesar de Tarcísio reafirmar publicamente sua lealdade a Bolsonaro, setores influentes do entorno do ex-presidente o rotulam como um “bolsonarista de ocasião”.

A crítica central é que o governador tem buscado equilibrar sua proximidade com Bolsonaro e uma imagem mais institucional, evitando embates com o Supremo Tribunal Federal (STF) e se ausentando de pautas caras à base bolsonarista — como o projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Um deputado estadual próximo à família Bolsonaro, que falou sob condição de anonimato, afirmou que Tarcísio só comentou a sobretaxa de Trump após ser instigado pelo governo Lula, e com objetivos políticos próprios. “Ele não aproveitou o episódio para culpar o STF, como fazem os bolsonaristas, e tampouco defendeu o ex-presidente. Perdeu uma oportunidade”, avaliou.

No núcleo próximo de Bolsonaro, a avaliação é que a publicação feita por Tarcísio nas redes sociais, na qual compartilhou críticas de Trump ao Judiciário brasileiro, foi um gesto calculado para não parecer omisso. Ainda assim, o movimento foi considerado insuficiente por lideranças que esperavam uma reação mais contundente.

O desconforto aumentou com a participação de Tarcísio na manifestação convocada por Bolsonaro na avenida Paulista, em 29 de junho. Durante o evento, o governador discursou, mas evitou criticar o STF — ao contrário de outros participantes — e teria, inclusive, interrompido o coro de “Fora, PT”, atitude vista como oportunismo eleitoral por aliados do ex-presidente.

Segundo interlocutores, Tarcísio argumenta que precisa manter uma postura de estadista e preservar os canais institucionais, especialmente com o STF. No entanto, essa tentativa de moderação tem gerado insatisfação, inclusive na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), onde deputados do PL vêm se distanciando do governador.

Parlamentares como Lucas Bove e Gil Diniz, ambos bolsonaristas, têm adotado posições críticas ao governo estadual. Dos 20 deputados do PL na Alesp, metade mantém alinhamento com a ala mais radical. A deputada estadual Mônica Seixas (PSOL) comentou: “O bolsonarismo não está fechado com o Tarcísio, e isso a gente vê de camarote na Assembleia. Na última votação da LDO, o Gil ficou do nosso lado e contra o governo”.

O líder do PT na Alesp, deputado Antonio Donato, também apontou ambiguidade na conduta do governador. “Ele é moderado entre os moradores, mas radical entre os bolsonaristas”, disse, destacando o dilema de Tarcísio, que busca ampliar sua base política e viabilizar uma eventual candidatura presidencial em 2026, sem romper de vez com o bolsonarismo.

Outro ponto de cobrança entre aliados de Bolsonaro é a ausência de pressão por parte de Tarcísio sobre a cúpula do Republicanos para pautar o projeto de anistia aos investigados pelos atos antidemocráticos. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não tem demonstrado interesse em avançar com a proposta, e o partido de Tarcísio, liderado por Hugo Motta (Republicanos-PB), tampouco tem atuado com ênfase nesse sentido.

Nesse cenário, a relação entre o governador de São Paulo e o bolsonarismo segue marcada por ruídos e incertezas, refletindo o desafio de conciliar pragmatismo institucional com fidelidade a um campo político cada vez mais polarizado.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/tarcisio-enfrenta-desconfianca-de-aliados-de-bolsonaro-e-se-distancia-da-base-mais-radical/