4 de agosto de 2025
PF investiga doadora da campanha de Tarcísio por suspeita de
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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem acompanhado com atenção o movimento coordenado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para desgastá-lo junto ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O pano de fundo é a crise provocada pelo tarifaço de 50% imposto contra produtos brasileiros por ordem executiva de Trump, medida que atingiu fortemente as exportações paulistas.

A atuação de Eduardo, que acusa Tarcísio de adotar uma postura “servil” diante da Casa Branca, já gerou impactos perceptíveis na imagem do governador nos círculos próximos ao presidente dos EUA. No entanto, segundo informa a coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo, Tarcísio conta com aliados de peso no esforço de contenção de danos: o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mauricio Claver-Carone, ambos com boa interlocução em Washington.

Segundo interlocutores do Palácio dos Bandeirantes, a dupla tem atuado para contextualizar as movimentações políticas internas do Brasil, explicando que o governador não representa uma ruptura com o legado bolsonarista. A estratégia busca desarmar resistências e manter as portas abertas com o entorno de Trump.

Comparações com DeSantis e a sombra de 2026

Nos bastidores, há incômodo com as ações de Eduardo Bolsonaro, mas o núcleo político de Tarcísio avalia que o desgaste junto a Trump não compromete, no momento, sua popularidade em São Paulo — tampouco inviabiliza uma eventual candidatura presidencial em 2026.

Em Washington, porém, o impacto da ofensiva já é sentido. Durante missão oficial de senadores brasileiros aos EUA, parlamentares constataram que Tarcísio tem sido descrito como “traidor” do ex-presidente Jair Bolsonaro. A comparação mais recorrente nos bastidores da política estadunidense é com Ron DeSantis, governador da Flórida, que também foi alçado por Trump em 2018 e depois tentou disputar o protagonismo com o mentor político, acabando isolado e derrotado nas primárias republicanas.

A percepção negativa se intensificou após Tarcísio atuar para tentar mitigar os impactos do tarifaço, em articulações com autoridades dos EUA. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 19% das exportações paulistas têm como destino os Estados Unidos, o que torna São Paulo um dos estados mais afetados pela medida.

Choque público e trégua instável

Desde o anúncio das tarifas, em 3 de julho, Eduardo e Tarcísio protagonizam uma série de embates públicos. O filho 03 de Bolsonaro chegou a afirmar que não há possibilidade de negociação com os EUA sem uma anistia “geral, ampla e irrestrita” aos aliados do ex-presidente. Ele também criticou o encontro entre Tarcísio e Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada estadunidense no Brasil.

O ex-presidente Jair Bolsonaro tentou intervir para conter a escalada. Aconselhou o filho a buscar uma reaproximação com o governador paulista. Eduardo chegou a fazer acenos nas redes sociais, mas deixou claro que as divergências estratégicas permanecem, sobretudo no que diz respeito à relação com o Supremo Tribunal Federal (STF) e à condução do enfrentamento institucional no exterior.

A trégua foi breve. Na semana passada, Eduardo ironizou declarações de Tarcísio durante evento promovido pela XP Investimentos, em que o governador defendia uma saída negociada para as novas taxas impostas pelos EUA.

Ambições cruzadas no horizonte de 2026

Em junho, em entrevista à revista Veja, Eduardo Bolsonaro admitiu pela primeira vez a intenção de disputar a presidência caso seu pai permaneça inelegível pelos próximos oito anos — situação determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Desde então, tem repetido o plano em entrevistas nos Estados Unidos e em lives nas redes sociais.

A ambição conta com apoio internacional: Steve Bannon, estrategista da campanha de Trump em 2016 e figura de influência no conservadorismo estadunidense, tem apresentado Eduardo como “o próximo presidente do Brasil” em seu podcast War Room, amplamente ouvido pela direita dos EUA.

Tarcísio, por sua vez, mantém o discurso de que buscará a reeleição em São Paulo. Apesar disso, setores da elite financeira e empresarial, como a Faria Lima, têm pressionado por sua candidatura ao Planalto como nome viável da direita moderada.

A postura do governador tem gerado desconfiança entre bolsonaristas mais radicais. Entre os pontos de atrito estão sua ausência de críticas públicas ao ministro Alexandre de Moraes e ao STF, e sua participação em eventos internacionais com perfil presidencial, como a Brazil Week em Nova York, onde se reuniu com investidores e banqueiros.

Com o cenário de 2026 ainda em formação, Tarcísio e Eduardo parecem seguir trajetórias paralelas, mas cada vez mais concorrentes. A disputa pelo espólio político de Jair Bolsonaro já se desenha como um dos principais embates internos da direita brasileira nos próximos anos. E, ao que tudo indica, a Casa Branca de Trump se tornará um dos principais palcos dessa disputa.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/tarcisio-enfrenta-ofensiva-de-eduardo-bolsonaro-e-tenta-conter-desgaste-acionando-avalistas-influentes-nos-bastidores/