25 de novembro de 2025
Como a esquerda tenta minar Tarcísio em caso da Coca-Cola
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Uma frase conhecida na política, repetida por Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1988, diz que a política é como as nuvens: você olha, está de um jeito; olha de novo, já mudou. E a próxima eleição presidencial brasileira começa a refletir esse movimento.

A prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) intensificou as conversas dentro do Centrão e da direita sobre a sucessão de 2026. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que atua nos bastidores para viabilizar a prisão domiciliar do ex-presidente e acompanha de perto articulações por uma proposta de anistia, segue sendo o nome mais citado para herdar o capital político de Bolsonaro.

Mesmo com a relutância dele próprio e de aliados como Gilberto Kassab (PSD), Tarcísio é apontado como a principal aposta da direita para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas em 2026. E um fator considerado peça-chave no impulso a essa projeção continua sendo a segurança pública.

O posicionamento — e a estagnação — do governo federal na operação Contenção, no Rio de Janeiro, reorganizou o tabuleiro e e deu visibilidade à atuação do governador paulista, tanto entre eleitores moderados quanto no núcleo duro do eleitorado antipetista. Tarcísio é afilhado político do ex-presidente Bolsonaro, que está preso e inelegível para disputar o pleito do ano que vem.

A Gazeta do Povo confirmou com entrevistados diversos a percepção que pairava no ar. Além dos próprios políticos, executivos do mercado financeiro, banqueiros e especialistas em ciência política fazem um diagnóstico comum: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subestimou o apelo da segurança pública junto ao eleitorado.

A conclusão é de que Lula errou na condução e na comunicação do tema, especialmente quando responsabilizou o usuário de drogas pelo traficante. E o resultado foi rápido: a popularidade dele despencou com discurso e práticas considerados desastrosos na área da segurança pública.

A interpretação dominante é que a “direita foi recolada no jogo”. Até então, o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), nome mais próximo do centro, vinha sendo ventilado como presidenciável, já que a reeleição de Tarcísio ao governo do estado de São Paulo é vista como um caminho mais seguro.

Caiado teria sinalizado que abre mão de uma candidatura própria caso Tarcísio dispute a Presidência.

Naquele momento, Lula estava fortalecido após o posicionamento diante do tarifaço imposto pelo presidente norte-americano, Donald Trump, a uma série de produtos brasileiros. Agora, Tarcísio volta a aparecer mais confiante para uma eventual disputa presidencial, sobretudo porque a avaliação negativa do governo federal voltou a subir.

Tarcísio é visto como o pré-candidato capaz de unir setores distintos da direita e dialogar com o eleitor moderado. Em conversas reservadas, até o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), teria sinalizado que abriria mão de uma candidatura própria caso Tarcísio decida disputar o Planalto.

O próprio Lula, desde setembro, considera que Tarcísio será seu adversário nas urnas em 2026, inclusive com recado claro a seu time de ministros. “O Tarcísio vai fazer o que o Bolsonaro quiser. Até porque sem o Bolsonaro ele não é nada. Ele sabe disso”, declarou o presidente.

No mercado financeiro, há o desejo de que o caminho seja definido até dezembro — só falta combinar com a estratégia própria da família Bolsonaro. A avaliação é que chapas consolidadas com antecedência tendem a ganhar mais musculatura política, financeira e territorial.

Apesar desse anseio, a definição em torno de uma candidatura no campo da direita pode não sair tão cedo. O próprio Tarcísio continua reforçando que é pré-candidato à reeleição ao governo de São Paulo no próximo ano.

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Popularidade de Lula foi abatida após operação no Rio de Janeiro

A piora da avaliação de Lula após a operação Contenção foi confirmada pela pesquisa Quaest* divulgada no último dia 12. O levantamento mostra que 50% dos brasileiros desaprovam o governo, contra 47% de aprovação.

A operação de segurança no Rio, criticada por Lula, afetou diretamente a opinião do eleitorado sobre as políticas públicas do governo federal destinadas à área, tendo em perspectiva que a criminalidade afeta diretamente a população, em seus mais diversos nichos.

Especificamente no Rio de Janeiro, com o crime organizado impondo domínio territorial à população, junto com barricadas bloqueando a passagem pelas ruas. E foi nesse contexto que o eleitorado rejeitou a fala de Lula, que classificou a operação do governo estadual de Cláudio Castro (PL) como “desastrosa”: 57% discordaram da posição do presidente, enquanto 67% avaliaram positivamente a ação policial. Entre eleitores que se classificam como independentes (que não se identificam com a esquerda ou com a direita), a desaprovação ao governo Lula subiu de 48% para 52%.

*Metodologia da pesquisa: A Quaest ouviu 2.004 pessoas, presencialmente. As entrevistas ocorreram entre os dias 6 e 9 de novembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.

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Apoio de Bolsonaro leva candidato ao segundo turno

A análise do cientista político Marco Antonio Teixeira, professor de Ciência Política da FGV (Fundação Getúlio Vergas), indica que Jair Bolsonaro mantém um papel decisivo no tabuleiro eleitoral, no que pese a capacidade dele de transferência de votos — que seriam destinados a Tarcísio.

Segundo Teixeira, o ex-presidente segue como ativo eleitoral capaz de impulsionar seu candidato ao segundo turno, seja pela força da base de apoiadores, seja pela necessidade de setores da direita de mantê-lo mobilizado no processo. O analista também observa que Bolsonaro tem interesse em preservar protagonismo na sucessão presidencial, inclusive por expectativas relacionadas à possibilidade de receber indulto de quem assumir o Planalto em 2027 — embora o STF já tenha rejeitado pedidos semelhantes.

Na avaliação do professor, o nome “Bolsonaro” teve a imagem sacudida em determinados segmentos do eleitorado, especialmente após movimentos do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) que aumentaram resistências no campo conservador. Teixeira também cita episódios que afetaram Tarcísio nacionalmente. Entre eles, a fala do governador paulista em meio à crise do metanol no consumo de bebidas alcoólicas: “No dia em que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar”, disse ele então.

A imagem de Tarcísio usando um boné do movimento “Make America Great Again”, de alinhamento a Trump, foi resgatada e causou controvérsias no momento em que empresários paulistas criticavam o presidente dos EUA pelo aumento de tarifas sobre produtos brasileiros.

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Flávio Bolsonaro é ventilado para vice de Tarcísio em 2026

Além disso, houve desgaste com os diversos capítulos fruto da articulação do secretário paulista da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP) no PL (projeto de lei) antifacção. Derrite afastou-se do cargo no Executivo paulista para retomar o cargo de deputado federal em Brasília durante a preparação e votação da proposta.

“Teria sido um golaço se Derrite tivesse feito um bom serviço. Ele surfaria na onda da segurança pública, que entrou de vez na agenda após a operação do Rio de Janeiro”, considera Teixeira.

Para ele, quem mais se capitalizou politicamente com a operação Contenção até agora foi o governador do Rio, Cláudio Castro. Mas, com a segurança pública dominando a agenda nacional, o debate eleitoral vem sendo reorganizado, alterando a relação entre governadores e o Palácio do Planalto e ampliando o espaço de nomes competitivos para 2026, como Tarcísio.

Nessa alternativa ao campo da direita, cresce a expectativa de que o filho do ex-presidente e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) possa ser definido como vice em uma eventual chapa de Tarcísio à Presidência em 2026, movimento visto como peça-chave para unir a família Bolsonaro ao projeto do governador paulista.

Antes da prisão preventiva de Bolsonaro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes tinha autorizado Bolsonaro a receber visita do governador de São Paulo no próximo dia 10 de dezembro. A decisão ocorreu após a defesa de Bolsonaro solicitar o encontro “na data mais breve possível”.

Após a prisão, no entanto, o governador Tarcísio deve visitar Bolsonaro em data ainda indefinida, com o objetivo de saber o posicionamento do ex-presidente em relação a composições regionais, estaduais e federais em 2026.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/sao-paulo/tarcisio-impulso-2026-negligencia-lula-seguranca-publica/