Tensão entre Governo e Câmara: Motta se Irrita com críticas, STF busca conciliação

A relação entre o governo Lula e a cúpula do Congresso Nacional vive um novo capítulo de tensão, com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), expressando descontentamento pelas críticas que tem enfrentado, especialmente nas redes sociais, após a votação que suspendeu o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). As informações são da Folha de São Paulo, em reportagem especial.

Motta, que se encontra em Lisboa participando do 13º Fórum de Lisboa, reagiu particularmente às declarações do presidente Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o alegado descumprimento de acordo político. O deputado negou que tenha se comprometido com a proposta do governo, o que gerou o atrito.

A ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) repudiou publicamente os ataques a Motta, destacando que a política democrática deve ser marcada pelo respeito, e não por agressões pessoais. “Nada disso autoriza ataques pessoais e desqualificados contra o presidente da Câmara”, afirmou Gleisi, reforçando sua solidariedade ao aliado. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), também se posicionou em defesa de Motta, lamentando que o revés do governo na votação do IOF tenha servido de justificativa para críticas à sua figura.

Além disso, ministros do STF, como o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, buscaram intervir para suavizar as tensões, propondo um gesto de reconciliação ao presidente da Câmara, especialmente após a postura crítica de Motta frente ao governo e sua decisão de levar à votação o decreto sobre o IOF, sem consultar previamente os interlocutores do Planalto.

A situação se agravou com as declarações de Lula, que classificou a ação de Motta como “absurda” e um descumprimento de acordo, realizado em uma reunião no domingo anterior à votação. Para o presidente da República, a atitude de Motta foi uma traição, o que intensificou a crise.

Apesar das críticas, aliados de Motta defendem que sua estratégia foi uma forma de aumentar sua visibilidade política, uma vez que a votação ganhou repercussão nacional. Contudo, a decisão de não combater diretamente o governo nas redes sociais reflete sua tentativa de manter um mínimo de diálogo, mesmo diante da adversidade. Motta, por sua vez, não comentou publicamente sobre as declarações de Lula, preferindo manter a cautela.

A Crise na Câmara e Seus Desdobramentos

Aliados de Motta acreditam que as tensões com o governo refletem um temor do Planalto sobre possíveis novas derrotas legislativas. Ao menos seis pautas de interesse do governo estão em tramitação na Câmara, e a situação atual ameaça complicar ainda mais o cenário político.

Enquanto isso, o STF segue atuando como mediador, com o ministro Alexandre de Moraes, responsável por relatar o processo sobre o IOF, buscando encontrar um caminho de reconciliação entre o governo e os deputados.

Com o retorno de Motta ao Brasil, um encontro com o presidente Lula deve ser agendado, o que pode ser crucial para restabelecer a relação entre o Executivo e o Legislativo, ou, ao contrário, agravar a crise institucional.