Os limites geográficos de Joinville, Itajaí, Blumenau, Criciúma e outros 160 municípios catarinenses poderão ser corrigidos a partir de 2026. É o que permite a Lei nº 19.495, sancionada pelo governador Jorginho Mello (PL) em 22 de outubro.
A nova regra pretende pôr fim a incertezas, inconsistências históricas na localização exata do traçado e injustiças territoriais antigas envolvendo desde proprietários de imóveis a prefeituras de cidades vizinhas. Entre os casos que justificaram a proposta, estão exemplos como o de terrenos cortados pelo limite intermunicipal, ou de comunidades que são acessadas pelo centro urbano de um município, mas que pertencem a outro com o qual não têm qualquer via de ligação.
Ou, ainda, de localidades que são atendidas na coleta de lixo, água e saúde por administrações que não seriam as responsáveis por prestarem esses serviços. A lista é extensa e o próprio autor do projeto que deu origem à lei, o deputado estadual Tiago Zilli (MDB-SC), teve que enfrentar situação parecida quando foi prefeito de Turvo (SC), entre 2017 e 2020.
“Na época, fizemos asfalto até a ponte que marcava o limite com Jacinto Machado (SC). A comunidade do Último Gole, próxima de Turvo, mas pertencente àquele município, veio cobrar da nossa prefeitura que a obra contemplasse eles também”, contou o deputado, que preside a Comissão de Assuntos Municipais no Legislativo estadual, que será o órgão responsável por mediar e validar os pedidos de mudança dos limites.
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Tecnologia 3D é mais precisa para traçar limites geográficos municipais
As solicitações que buscam entendimento sobre os limites geográficos dos municípios de Santa Catarina estão concentradas na Diretoria de Desenvolvimento Territorial da Secretaria de Estado do Planejamento (Seplan) e serviram de base para a elaboração do projeto de lei 249/2025. Os casos chegam por particulares, por meio dos cartórios ou via pedido de prefeitos na Assembleia Legislativa ou na Casa Civil.
Segundo o gerente de Cartografia Thobias Furlanetti, a mudança vai corrigir imprecisões da Lei nº 13.993/2007, que usava informações processadas até a década de 1980 e dava apenas uma noção do traçado de cada município. “A lei de 2007 usa o termo coordenada geográfica aproximada (c.g.a.) e foi baseada no memorial descritivo fornecido pelos municípios, muitas vezes feito sem um acompanhamento técnico. Isso deixa uma margem de subjetividade sobre onde passa realmente o limite municipal e cada um acaba interpretando de um jeito”, explicou ele.
Paralelamente à regulamentação da nova lei, a Seplan está revisando os limites, em parceria com o Laboratório de Geoprocessamento da Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc), a partir de um Sistema de Informação Geográfica que permite uma visualização 3D do município em escala maior e considerada mais precisa.
Com a nova tecnologia, a imprecisão vai reduzir de 250 metros para 5 metros.
“Com uma base mais atualizada de dados, informações geoespaciais e arquivos históricos, vamos gerar novos mapas para que o proprietário de um terreno ou o prefeito possam entender objetivamente os seus limites”, destacou Furlanetti.
Para que a lei funcione na resolução das divergências existentes, é preciso que esse levantamento da Seplan termine, o que está previsto para ocorrer até dezembro de 2025. Com a nova tecnologia, a imprecisão que hoje é de 250 metros (125 metros para um lado e 125 metros para o outro) vai cair para 5 metros. Além dos 164 municípios com protocolo em andamento na Seplan, todos os 295 municípios catarinenses podem solicitar correções, desde que seguindo os critérios estabelecidos pela lei.
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Municípios precisam concordar com alteração e apresentar abaixo-assinado de moradores
Com a nova legislação estadual, caberá aos municípios de Santa Catarina a responsabilidade por produzir tecnicamente o desenho do limite corrigido, representado por memoriais descritivos e mapas, dentro dos critérios estabelecidos pela Secretaria do Planejamento. Para isso, as prefeituras vizinhas precisam concordar com a mudança, solicitando em conjunto na Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa a alteração, com a seguinte documentação:
- leis municipais que autorizem as prefeituras a corrigirem seus limites;
- relatório técnico com impactos socioeconômicos que justifiquem a mudança;
- mapa da proposta de limite, baseado nos insumos cartográficos mais atuais fornecidos pelo estado, através da Secretaria de Planejamento;
- memorial descritivo atualizado, com redação clara, precisa e concisa, linguagem técnica apropriada, além de justificativa do erro contido na lei anterior (por exemplo: um rio que mudou de curso);
- abaixo-assinado de mais de 50% dos moradores da área a ser retificada, com nome, RG e assinatura.
De acordo com o presidente da Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), deputado Tiago Zilli, as solicitações de mudança vão contar com instrução normativa para tornar o pedido impessoal e objetivo, dentro das regras estabelecidas, e devem ser feitas com acompanhamento técnico.
Não vai haver perdas consideráveis de território, apenas correções pontuais geradas pela imprecisão da lei de 2007.
Deputado Tiago Zilli, presidente da Comissão de Assuntos Municipais da Alesc
“A gente precisa começar a fazer para entender como vai ser a recepção dos municípios para encaminhar essa atualização. Não vai haver perdas consideráveis de território, mas apenas correções pontuais geradas pela imprecisão da lei de 2007”, comentou Zilli. Um dos casos que deverá servir de laboratório para sistematizar a nova lei envolve Garopaba e Imbituba, no sul de Santa Catarina.
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Imprecisões históricas motivaram revisão do limite entre Garopaba e Imbituba
Um dos principais pontos de conflito entre Garopaba e Imbituba envolve o bairro Grama, onde casas e até uma escola apareciam simultaneamente nos registros dos dois municípios — o que gerava bitributação para alguns contribuintes e confusão administrativa sobre a responsabilidade na prestação dos serviços.
O debate incluiu também a comunidade quilombola Aldeia, que, embora pertença formalmente a Imbituba, tem um senso de pertencimento e é atendida por serviços públicos de Garopaba — como saúde e educação. Com base nesses dois critérios — correção técnica e pertencimento comunitário —, os municípios decidiram ajustar oficialmente o limite, em um processo conduzido com respaldo técnico e jurídico.
Agora, cada município vai elaborar seu projeto de lei municipal para formalizar a alteração. O memorial técnico descritivo, com as coordenadas geográficas exatas do novo traçado, será incluído no projeto e servirá de base para a atualização dos mapas oficiais e dos registros imobiliários.
O vereador de Garopaba Felippe de Souza (MDB) explicou à Gazeta do Povo que a etapa mais delicada — a concordância entre os municípios — já foi superada. “Temos uma ata de compromisso assinada pelos vereadores e prefeitos de Garopaba e Imbituba, com atesto dos técnicos da Secretaria de Planejamento e procuradorias. Agora, nosso foco é finalizar toda a documentação técnica e legal”, afirmou.
Na prática, a linha divisória entre o sul de Garopaba e o norte de Imbituba será corrigida em cerca de 250 metros para dentro de Imbituba, especialmente ao leste da rodovia Abílio Manuel de Lima. No lado oeste, Garopaba fará uma compensação, de modo que as áreas fiquem praticamente equivalentes.
Joinville, Itajaí, Blumenau e Criciúma estão entre municípios que podem ter limites geográficos alterados
Dos 295 municípios catarinenses, 164 (55,59%) solicitaram correção do limite territorial com o vizinho na Secretaria de Estado do Planejamento. A lista completa deles contempla:
- Abelardo Luz
- Agronômica
- Água Doce
- Águas Mornas
- Angelina
- Anitápolis
- Antônio Carlos
- Apiúna
- Arabutã
- Araquari
- Araranguá
- Armazém
- Ascurra
- Balneário Arroio do Silva
- Balneário Camboriú
- Balneário Gaivota
- Balneário Rincão
- Benedito Novo
- Biguaçu
- Blumenau
- Bom Jardim da Serra
- Bom Jesus
- Bombinhas
- Botuverá
- Braço do Norte
- Brunópolis
- Brusque
- Caçador
- Camboriú
- Campo Alegre
- Campo Erê
- Campos Novos
- Canelinha
- Capinzal
- Capivari de Baixo
- Catanduvas
- Chapecó
- Cocal do Sul
- Concórdia
- Cordilheira Alta
- Coronel Freitas
- Coronel Martins
- Corupá
- Criciúma
- Curitibanos
- Descanso
- Dionísio Cerqueira
- Doutor Pedrinho
- Entre Rios
- Ermo
- Erval Velho
- Formosa do Sul
- Forquilhinha
- Galvão
- Garopaba
- Garuva
- Gaspar
- Governador Celso Ramos
- Gravatal
- Guaramirim
- Guatambu
- Herval d’Oeste
- Ibicaré
- Ibirama
- Içara
- Ilhota
- Imaruí
- Imbituba
- Indaial
- Ipira
- Iporã do Oeste
- Ipuaçu
- Ipumirim
- Irani
- Irati
- Itajaí
- Itapema
- Itapema
- Itapiranga
- Jaborá
- Jaraguá do Sul
- Jardinópolis
- Joaçaba
- Joinville
- Laguna
- Lajeado Grande
- Laurentino
- Lindóia do Sul
- Luiz Alves
- Maracajá
- Marema
- Massaranduba
- Meleiro
- Monte Carlo
- Morro da Fumaça
- Morro Grande
- Nova Itaberaba
- Nova Trento
- Nova Veneza
- Ouro
- Ouro Verde
- Palhoça
- Palma Sola
- Papanduva
- Passo de Torres
- Paulo Lopes
- Peritiba
- Pescaria Brava
- Pinhalzinho
- Pomerode
- Porto Belo
- Praia Grande
- Presidente Castello Branco
- Presidente Getúlio
- Quilombo
- Rancho Queimado
- Rio do Sul
- Rio dos Cedros
- Rio Fortuna
- Rio Negrinho
- Rio Rufino
- Riqueza
- Rodeio
- Salto Veloso
- Sangão
- Santa Cecília
- Santa Helena
- Santa Rosa do Sul
- Santiago do Sul
- Santo Amaro da Imperatriz
- São Bento do Sul
- São Domingos
- São Francisco do Sul
- São João do Itaperiú
- São João do Oeste
- São José
- São José do Cerrito
- São Lourenço d’Oeste
- São Martinho
- São Miguel d’Oeste
- São Pedro de Alcântara
- Saudades
- Schroeder
- Siderópolis
- Sombrio
- Taió
- Tijucas
- Timbé do Sul
- Timbó
- Treviso
- Treze de Maio
- Treze Tílias
- Trombudo Central
- Tubarão
- Tunápolis
- Turvo
- União do Oeste
- Urupema
- Urussanga
- Vargeão
- Vargem Bonita
- Xanxerê
- Xaxim
- Zortéa
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/santa-catarina/terrenos-escolas-em-dois-municipios-sc-vai-corrigir-limites-geograficos-entre-cidades/
