
O julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), que começa nesta terça-feira (2), ganhou destaque imediato na imprensa internacional. Para veículos de peso como The New York Times, The Guardian, Washington Post, The Economist e BBC, o processo não é apenas o mais importante da história recente do Brasil, mas também um evento com repercussão global por envolver um ex-presidente acusado de tramar um golpe de Estado.
Bolsonaro, atualmente em prisão domiciliar, responde junto a outros sete aliados considerados os principais articuladores da tentativa de ruptura institucional após sua derrota nas eleições de 2022. A expectativa é que a sentença seja definida até 12 de setembro.
New York Times: “plano sinistro”
O New York Times descreveu como Bolsonaro arquitetou, em apenas nove semanas entre a derrota nas urnas e os atos de 8 de janeiro, um “plano sinistro” de golpe de Estado. O jornal afirmou ter revisado dezenas de horas de depoimentos e centenas de páginas de documentos para reconstituir o enredo que teria incluído a disseminação de fake news sobre fraude eleitoral, planos para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, além de um eventual refúgio nos Estados Unidos enquanto apoiadores invadiam os prédios dos Três Poderes.
O jornal destacou que o Brasil está fazendo o que os EUA não conseguiram: levar um ex-presidente a julgamento por tentar permanecer no poder após perder uma eleição.
The Guardian: “velório político”

O britânico The Guardian deu destaque à performance do trompetista Fabiano Leitão, que viralizou ao tocar uma marcha fúnebre e o hino antifascista Bella Ciao em frente ao STF após Bolsonaro se tornar réu.
“Estou fazendo o velório político de Bolsonaro e estarei na frente do Supremo para recebê-lo”, disse Leitão ao jornal. “Vai ser algo alegre! Tem que ser algo alegre!”
A publicação destacou que Leitão é um símbolo de milhões de brasileiros progressistas que aguardam a condenação de Bolsonaro e de seus aliados.
Washington Post: enfrentamento do passado autoritário

O Washington Post avaliou que, com o julgamento, o Brasil enfrenta “seu próprio passado autoritário” e também Donald Trump, que pressiona o país com retaliações econômicas e diplomáticas. Para o jornal, o processo marca “uma reviravolta significativa”, já que historicamente o Brasil preferiu a conciliação à punição em casos de crimes contra o Estado democrático.
“O julgamento de Bolsonaro também é o ápice de uma saga extraordinária que polarizou ainda mais o país, testou a determinação do Judiciário e abriu um abismo cada vez maior com os EUA”, destacou a reportagem.
The Economist: “Trump dos trópicos”

A revista The Economist voltou a chamar Bolsonaro de “Trump dos trópicos” e publicou uma série de reportagens sobre o julgamento, classificando os atos de 8 de janeiro como “esquisitos e bárbaros”, dado o clima festivo nos acampamentos golpistas em Brasília.
A publicação avaliou que o ex-presidente “falhou por incompetência, e não por falta de intenção”, e que seu julgamento marcará o ritmo da recuperação brasileira da onda populista. Em uma edição anterior, a revista afirmou que “o Brasil dá uma lição de democracia aos Estados Unidos”, numa referência ao contraste entre a responsabilização de Bolsonaro e a dificuldade de processar Trump em solo estadunidense.
Segundo a reportagem, até pressões externas foram tentadas, com Eduardo Bolsonaro atuando nos EUA em lobby contra Alexandre de Moraes. “As pressões não funcionaram e acabaram impulsionando a aprovação de Lula”, resumiu a revista.
BBC: julgamento na fase final

A BBC descreveu o julgamento como a fase final do processo contra Bolsonaro e destacou que a causa do ex-presidente “foi abraçada” por Donald Trump, que classificou a ação no STF como uma “caça às bruxas”. Para a rede britânica, o resultado será acompanhado de perto não apenas por brasileiros, mas por observadores internacionais atentos ao impacto do caso.
Julgamento com reflexo global
A cobertura internacional reforça que o julgamento de Bolsonaro ultrapassa os limites do Brasil. Para além da responsabilização de um ex-presidente, o processo é visto como um teste da democracia em um país que, nas últimas décadas, oscilou entre conciliação política e a necessidade de enfrentar crimes contra o Estado de direito.
O ineditismo da situação — um ex-chefe de Estado no banco dos réus por tentativa de golpe — é interpretado como um marco para a democracia brasileira e um espelho incômodo para os Estados Unidos.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/trump-dos-tropicos-imprensa-internacional-repercute-julgamento-de-bolsonaro-e-fala-em-plano-sinistro-veja/