O União Brasil e o Progressistas entraram no holofote das eleições de 2026 ao anunciar, no mês de agosto, a criação da maior federação partidária do país, com 109 deputados federais e 15 senadores. No mês seguinte, o União Progressista desembarcou do governo Lula em busca de protagonismo na centro-direita e na tentativa de liderar as articulações para derrotar o petista nas urnas no próximo ano.
A força política da federação — dirigida pelos caciques Antonio Rueda (União-PE) e Ciro Nogueira (PP-PI) — deve pesar na balança das eleições de 2026, principalmente pelo tempo de televisão na propaganda eleitoral e pelo fundo de financiamento para as campanhas. As duas siglas somam quase R$ 1 bilhão de fundo eleitoral.
Apesar dos números da “superfederação”, o tamanho do União Progressista tem um efeito colateral desafiador: conciliar os interesses estaduais de cada legenda na corrida ao governo e ao Senado, o pode até provocar a debandada de filiados na janela partidária. Sequer a pré-candidatura presidencial é um consenso dentro do União Progressista. O governador goiano, Ronaldo Caiado (União-GO) foi o primeiro a lançar a pré-candidatura em oposição à reeleição de Lula, mas não tem o apoio oficial do União Brasil e do Progressistas.
Recentemente, o senador Ciro Nogueira deu declarações que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) é o nome preferido da centro-direita para disputar as eleições contra Lula. Caso o chefe do Executivo paulista opte pela reeleição estadual, Nogueira revelou a preferência pelo governador paranaense Ratinho Junior (PSD-PR), indicando resistência ao nome de Caiado.
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O deputado federal e integrante da direção nacional do União Progressista Ricardo Barros (PP-PR) afirma que ainda não existe um acordo para o lançamento de Caiado como candidato a presidente da República. “Ele quer ser candidato, mas ainda não há consenso na federação e no próprio União Brasil. Temos muitos meses pela frente até as convenções partidárias e as conversas ainda estão em andamento”, comentou o parlamentar paranaense, em entrevista à Gazeta do Povo.
Ele confirma que a federação estará alinhada em oposição a Lula nas eleições do próximo ano, seja com candidatura própria ou em aliança com outro grupo político. “O União Progressista tem 20% do tempo de televisão, cerca de 1,4 mil prefeitos e as maiores bancadas do Senado e da Câmara. É uma potência política que será decisiva para o campo que apoiar em 2026.”
Em entrevista à CBN Goiânia, o governador de Goiás reforçou que é pré-candidato a presidente e argumentou que a federação União Progressista não está oficialmente constituída pela Justiça Eleitoral. “O União Brasil é um partido e o PP é outro partido. Até o momento, a federação não existe, pois não foi homologada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Eu continuo pré-candidato à Presidência da República pelo União Brasil”, enfatizou Caiado.
Ele destaca a importância do diálogo com os demais partidos para a formação de uma coligação em oposição a Lula nas eleições de 2026. “Ninguém sai candidato a presidente apenas por um partido. A legislação autoriza a coligação de partidos nas eleições majoritárias […] Eu converso com todos os partidos, mas a minha luta e posição é de ser candidato a presidente pelo União Brasil”, afirmou na semana passada.
A declaração de Caiado também indica a possibilidade de o governador goiano deixar o União Brasil para permanecer na corrida presidencial por outra sigla. Um dos cotados como destino de Caiado, caso a federação frustre o projeto nacional, é o Solidariedade.
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Verticalização ameaça pré-candidatos de peso nos estados
A falta de consenso dentro do União Progressista no cenário nacional terá reflexo nas eleições dos governos estaduais. Ao contrário das coligações majoritárias que podem ser costuradas com diferentes legendas nos pleitos municipais e estaduais, as federações são obrigadas a manter uma estrutura vertical nas eleições e também na atividade parlamentar.
“Enquanto a coligação é feita exclusivamente para uma eleição, a federação tem uma existência contínua. A coligação não é verticalizada, ou seja, você pode ter uma coligação nacional para a eleição presidencial e outra completamente diferente nos estados, para governador ou senador”, explica o presidente do Instituto Paranaense de Direito Eleitoral, Paulo Henrique Golambiuk.
Assim, o União Progressista terá o desafio de agregar opositores em alguns estados brasileiros para unificar candidaturas no próximo ano em estados como Paraná, Bahia e Paraíba. O deputado federal Ricardo Barros considera as divergências regionais como naturais e afirma que a presidência do PP deve trabalhar para evitar a saída de filiados.
“Nacionalmente, quem coordena esse processo é o Ciro Nogueira, que busca harmonizar as diferenças para evitar deserções e garantir um resultado positivo ao fim das negociações. Em alguns lugares, será inevitável que grupos saiam, mas também ganharemos novos apoios”, analisa.
No Paraná, a filha de Barros, deputada estadual Maria Victoria, é a presidente do Progressistas e tem se reunido com o senador Sergio Moro — pré-candidato ao governo estadual pelo União Brasil — para resolução do impasse que envolve a família. Esposa de Barros, a ex-governadora Cida Borghetti (PP-PR) foi lançada como pré-candidata ao governo do Paraná pelo Progressistas.
Além disso, a família Barros tem uma boa relação com o governador Ratinho Junior, que articula um sucessor dentro do PSD para fazer frente ao senador Moro. “No momento, nossa posição é lançar Cida Borghetti como candidata. Se houver fatos novos, podemos avaliar, mas até aqui não há ambiente para homologar a candidatura de Moro”, declara o deputado federal.
A Gazeta do Povo apurou que a candidatura de Moro tem o apoio do presidente nacional do União Brasil, Antonio Rueda, que deu aval para que o senador assumisse a presidência estadual da sigla. Em conversas com aliados, nos bastidores, o ex-juiz da operação Lava Jato lembra do histórico de obstáculos superados na corrida ao Senado, em 2022, e a absolvição pela Justiça Eleitoral após ter sido acusado de abuso de poder econômico na campanha, como exemplo de que a candidatura ao governo deve ser mantida.
Procurado pela Gazeta do Povo, o senador confirmou que é pré-candidato pelo União Brasil, que deve formar a chapa ao governo do estado com o PP. “Qualquer dificuldade no âmbito da federação será resolvida até o momento certo”, disse Moro.
O cenário é semelhante na Bahia, onde o vice-presidente do União Brasil, ACM Neto, aparece entre os favoritos ao governo do estado e deve polarizar a disputa contra o PT, que busca a reeleição do governador Jerônimo Rodrigues. O Progressistas é um dos principais partidos da base da atual gestão petista.
Na Paraíba, o cenário político coloca o União Brasil e o PP como principais adversários na corrida ao governo do estado nordestino. Do lado do União Brasil, o pré-candidato é o senador Efraim Filho, que aparece como opositor aos planos do vice-governador Lucas Ribeiro (PP-PB) na sucessão de João Azevêdo (PSB-PB).
“Se o Progressistas e o União Brasil não chegarem a um entendimento, não haverá candidatura registrada pela federação. Esse tipo de situação se repete em outros estados e as decisões finais caberão às instâncias nacionais dos partidos”, adianta Ricardo Barros.
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Lideranças do Norte e Nordeste podem seguir ministros rebeldes
Na avaliação do cientista político e professor da FGV São Paulo Eduardo Grin, a aposta da federação era de unificar a direita e “surfar em um eventual desgaste” do presidente Lula (PT). Mas Grin considera que o cenário nacional mudou nos últimos dois meses, com o recuo de Tarcísio de Freitas como principal pré-candidato da oposição à Presidência da República e a recuperação do governo petista nas pesquisas junto à população.
“Ninguém previa que o Eduardo Bolsonaro, de fora do país, atuaria contra a própria direita, chamando os partidos do grupo de fisiológicos e corruptos. Além disso, fatores externos como o tarifaço do [Donald] Trump ajudaram Lula a se recuperar politicamente”, opina.
Para o cientista político, a tendência é que as lideranças regionais optem por contrariar os caciques da federação, dependendo do interesse político local, com saídas dos partidos ou punições, como no caso dos ministros do governo Lula. Os chefes das pastas do Turismo, Celso Sabino (União-PA), e do Esporte, André Fufuca (PP-MA), podem sofrer sanções das siglas pela permanência na gestão petista, após o desembarque do governo anunciado pelo União Progressista.
“No Norte e Nordeste, principalmente, os políticos preferem se manter próximos ao governo por uma questão de pragmatismo. Fazer oposição ao Lula nessas regiões é perder votos, cargos e acesso a verbas”, analisa Grin.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/uniao-progressista-maior-federacao-do-pais-conflito-interno-2026/
