1 de novembro de 2025
Uso de canetas estabiliza e cirurgias bariátricas voltam a crescer
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Depois de dois anos marcados pela explosão do uso das chamadas “canetas emagrecedoras”, o cenário começa a se equilibrar no Brasil. As medicações injetáveis à base de agonistas do GLP-1, inicialmente vistas como uma revolução no combate à obesidade, provocaram uma queda expressiva na procura por cirurgias bariátricas. Agora, no entanto, a tendência se inverte: o mercado das canetas se mostra em estabilização e os procedimentos cirúrgicos voltam a crescer, retomando protagonismo no tratamento da obesidade.

Desde abril, as farmácias só podem vender o medicamento com a retenção da receita médica e, desde agosto, as canetas manipuladas também estão proibidas pela Anvisa, fatores que culminaram na inibição da procura pela alternativa nas farmácias. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), cirurgião Juliano Blanco Canavarros, o impacto inicial foi perceptível em todo o país.

“No primeiro momento, algumas redes hospitalares em São Paulo chegaram a registrar queda de 30% a 40% na procura. Mas agora já começamos a ver novamente o aumento das cirurgias”, afirma.

Segundo ele, o retorno ocorre à medida que pacientes e profissionais compreendem as limitações e os desafios do uso contínuo das medicações. As canetas emagrecedoras, que imitam a ação do hormônio GLP-1 e ajudam a controlar o apetite, tornaram-se um fenômeno de mercado e conquistaram celebridades, influenciadores e pacientes com sobrepeso.

Contudo, os efeitos adversos, o custo elevado e a necessidade de uso permanente se tornaram barreiras. “Vivemos num país em que a maior parte da população não tem condições de absorver o custo mensal dessas medicações. Além disso, muitos pacientes não se adaptam: têm náuseas, refluxo ou simplesmente não querem depender de uma aplicação semanal para o resto da vida”, analisa Canavarros.

O médico ressalta que, embora as canetas representem um avanço, não substituem as cirurgias bariátricas como tratamento mais definitivo da obesidade. “As medicações são eficazes enquanto o paciente as utiliza. Quando há interrupção, o peso tende a retornar rapidamente. Já a cirurgia tem um efeito mais duradouro e, no longo prazo, melhor custo-benefício”, destaca.

Ele cita estudos internacionais que analisaram mais de 30 mil pacientes e que confirmaram que a cirurgia é mais efetiva, inclusive para os sistemas públicos de saúde. Segundo dados da SBCBM, o Brasil continua sendo o segundo país do mundo que mais realiza cirurgias bariátricas, atrás apenas dos Estados Unidos.

Em anos anteriores, a média anual de procedimentos variava entre 80 mil e 100 mil. Com a chegada das medicações injetáveis, o total caiu para cerca de 60 mil, mas a curva voltou a subir neste ano. “Estamos observando o retorno de muitos pacientes que tentaram as canetas e não tiveram o resultado esperado. Eles perceberam que o tratamento precisa ser duradouro e que a cirurgia, quando bem indicada, oferece essa segurança”, afirma o presidente da SBCBM.

Dados do SUS mostram que Paraná e São Paulo são os estados que mais concentram as cirurgias metabólicas. Entre janeiro e agosto, o Paraná realizou 1.554 cirurgias bariátricas pelo SUS, e São Paulo outras 2.033, além de 1.148 que foram feitas por planos de saúde, segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS).

A acentuada busca pela cirurgia reflete o avanço da obesidade. Dados do Sisvan (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional) mostram que 33,9% dos paranaenses apresentam sobrepeso, 23,48% têm obesidade grau I, 10,19% grau II e 5,43% grau III.

Em Foz do Iguaçu (PR), Canavarros participou do 25º Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. O evento discutiu o avanço da obesidade no país, o acesso às cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a certificação de profissionais e hospitais, além de novas tecnologias e medicamentos.

Segundo o presidente da SBCBM, o tema exige ação urgente. “Os números mostram que a obesidade deixou de ser um problema individual para se tornar uma questão de saúde pública. O Paraná reflete essa realidade nacional, mas também é o segundo estado que mais realiza cirurgias pelo SUS no Brasil”, reiterou ele.

Nesse contexto, a cirurgia continua sendo essencial para os casos mais graves e para quem desenvolveu doenças associadas, como diabetes e hipertensão. O especialista destaca o papel do acompanhamento multidisciplinar, tanto no tratamento medicamentoso quanto no cirúrgico. “Não há solução mágica. A obesidade é uma doença crônica e precisa ser tratada de forma contínua, com suporte médico, psicológico e nutricional”, reforça.

Para o setor, a mensagem é clara: as canetas deixaram de ser novidade e passaram a integrar, junto da bariátrica, o arsenal terapêutico contra uma das doenças mais desafiadoras do século XXI.

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Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/parana/uso-canetas-emagrecedoras-estabiliza-cirurgias-bariatricas-cresce-contra-obesidade/