23 de novembro de 2024
Vítimas de violência policial no estado poderão ganhar um memorial
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As vítimas de violência policial no Rio de Janeiro poderão ser homenageadas com a construção de um memorial. A proposta foi debatida na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), nesta sexta-feira (17/05), durante audiência pública da Comissão de Combate às Discriminações.

O encontro contou com a presença dos familiares de João Pedro Mattos Pinto, morto com um tiro de fuzil, em 2020, durante uma operação das polícias Civil e Federal no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. O adolescente seria uma espécie de representante símbolo do monumento.

O presidente do colegiado, deputado Professor Josemar (Psol), é quem está à frente da iniciativa. Ele informou que enviará um ofício ao governo estadual não apenas para solicitar a construção do memorial, mas também pedindo que seja reconhecida a violação dos agentes no caso do menor.

O dia 18 de maio, data da morte do João Pedro, já entrou no calendário oficial do estado como o Dia de Luta Jovem Petro Vivo, pela Lei 10.298/24. No próximo dia 28, a Comissão realizará uma nova audiência pública sobre as vítimas da violência policial.

“Queremos também que o estado se pronuncie oficialmente com um pedido de desculpas a família. É preciso que o caso avance e tenha um desfecho. Já se passaram quatro anos. Os acusados precisam ir a júri popular, como já solicitou o Ministério Público”, disse o deputado.

A espera de justiça

Segundo testemunhas, o adolescente e mais cinco amigos jogavam videogame, na casa do tio, quando policiais teriam entrado na residência atirando. Os agentes são acusados de homicídio doloso e fraude processual.

“Eles alegam que houve confronto, que entrou bandido na casa, mas eles forjaram essa situação para saírem impunes. Meu filho foi tirado de forma brutal da nossa família e até agora não tivemos resposta da Justiça”, lamentou Neilton Pinto, que é pai do adolescente. Rafaela Santos, mãe de João Pedro, relatou a dor de procurar o corpo do filho por mais de 17 horas.

“A polícia matou o meu filho e ainda tirou o corpo do local sem a família estar presente. Disse que estaria socorrendo o João”, afirmou Rafaela, que se preocupa com a demora do julgamento. “Não sabemos quanto tempo mais vamos ter que esperar”, completou.

Outros casos

Integrante do Movimento de Mães e Familiares de Vítimas da Violência Letal, Ana Lúcia de Oliveira foi outra que teve o filho assassinado há 16 anos. Segundo ela, muita gente não chega a ver a conclusão das investigações e muito menos a condenação dos acusados.

“É uma violência que a gente sofre até hoje. As mães vão ao fórum e não conseguem respostas. Mas eu acredito na força que nos une, acredito que vamos ter justiça”, disse.

Outra que perdeu o filho com dez tiros nas costas foi Sônia Bonfim. Samuel era estudante do Colégio da Polícia Militar e sonhava entrar para o Exército por influência do avô, que foi paraquedista. “Ontem mesmo recebi a notícia de uma mãe que se suicidou porque não aguentava mais”, relatou.

Para o Professor Josemar, a violência praticada contra esses jovens é reflexo de racismo institucional. “Esses processos estão diretamente envolvidos em questões raciais. A bala, que atingiu o filho de todos que estão aqui, atingiu um corpo negro. A Justiça se torna lenta porque são negros periféricos. Queremos igualdade e simetria”, cobrou o deputado.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/vitimas-de-violencia-policial-no-estado-poderao-ganhar-um-memorial/