23 de dezembro de 2025
3I/ATLAS exibe jatos oscilantes na anticauda e tem rotação acelerada
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Uma equipe internacional de astrônomos relatou que o cometa interestelar 3I/ATLAS, atualmente em rota de saída do Sistema Solar, apresentou jatos oscilantes raros na chamada anticauda, a cauda voltada em direção ao Sol. 

As oscilações, que ocorriam a cada 7 horas e 45 minutos, foram registradas entre 2 de julho e 5 de setembro de 2025 com o Telescópio Gêmeo de Dois Metros (TTT), no Observatório do Teide, em Tenerife – maior ilha do arquipélago das Canárias, Espanha – e ajudam a estimar a rotação do núcleo do cometa em cerca de 15 horas e 30 minutos. 

Disponível no repositório de pré-impressão arXiv, onde aguarda revisão de outros especialistas para publicação, o estudo detalha como esse comportamento incomum surgia enquanto o 3I/ATLAS se aproximava do Sol, oferecendo um raro vislumbre da física de um objeto formado em outro sistema planetário.

3I/ATLAS: jatos oscilantes na anticauda 

  • Jatos oscilam na anticauda do 3I/ATLAS;
  • Oscilações regulares sugerem rotação do núcleo em pouco mais de 15 horas;
  • Campanha de 37 noites com o TTT em Tenerife mapeou a evolução da coma;
  • Primeiro registro desse tipo de “liberação de gases” em um cometa interestelar;
  • Resultados ajudam a comparar cometas locais e visitantes de outras estrelas.

Como o fenômeno foi observado e o que revela

Cometas costumam exibir caudas apontadas para longe do Sol, empurradas pela radiação solar. Já a anticauda, é uma configuração mais rara: uma estrutura que aparenta apontar em direção ao astro, resultado do alinhamento geométrico entre o cometa, o observador e a distribuição de poeira ao redor do núcleo. No caso do 3I/ATLAS, a anticauda chegou a medir cerca de um milhão de quilômetros em algumas observações, segundo os autores.

Ao longo das 37 noites de acompanhamento, os pesquisadores acompanharam a metamorfose da coma – a nuvem difusa de gás e poeira ao redor do núcleo – de um leque voltado para o Sol, observado antes de agosto, para uma cauda claramente antissolar à medida que a influência da radiação aumentava. 

Em sete noites, entre 3 e 29 de agosto, a equipe registrou uma estrutura de jato na anticauda que oscilava, um movimento de precessão que serviu como “relógio” natural para estimar a rotação do núcleo gelado.

Cometa interestelar 3I/ATLAS. A imagem original é mostrada à esquerda e a mesma imagem, após processamento para realçar as estruturas da coma interna, está à direita. Um jato estreito de material pode ser visto emergindo da região iluminada pelo Sol, claramente distinto da cauda de poeira, que se estende na direção oposta à da estrela. As setas indicam a direção do movimento do cometa e a direção antissolar. A cruz marca o centro do cometa. Crédito: TTT (Light Bridges) / IAC

“Caracterizar os jatos no 3I/ATLAS representa, portanto, uma rara oportunidade de investigar o comportamento físico de um corpo primordial formado em outro sistema planetário”, escreveram os autores. Eles destacam a novidade do registro. “Esta é a primeira vez que tal ‘liberação de gases’ é observada em um cometa interestelar”.

Imagem composta do cometa 3I/ATLAS mostrando emissão difusa assimétrica para o noroeste. Abaixo, a mesma imagem contornada, com barra de escala e setas de direção. As setas amarela e verde marcam, respectivamente, o vetor de velocidade heliocêntrica negativa projetada e a direção antissolar projetada. Crédito: David Jewitt et. al.

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Esse padrão periódico, além de impressionante, traz pistas sobre como a luz do Sol aquece o material na superfície, como os jatos são ativados e de que modo a poeira é expelida. O período de rotação inferido (mais curto que estimativas anteriores) sugere um núcleo relativamente ativo, com regiões que “ligam e desligam” conforme giram para dentro e para fora da luz solar.

O 3I/ATLAS é apenas o terceiro visitante interestelar conhecido a atravessar nosso quintal cósmico, depois do asteroide ’Oumuamua (2017) e do cometa 2I/Borisov (2019). No fim de outubro, ele atingiu sua maior aproximação do Sol. Agora mais recentemente, em 19 de dezembro, chegou ao ponto mais perto possível da Terra, antes de continuar sua jornada para o espaço interestelar. 

Para além da curiosidade astronômica, esses resultados ajudam a refinar modelos de emissão de gases e poeira, úteis para planejar observações de novos visitantes interestelares e antecipar seus comportamentos. Ao entender melhor como jatos se formam e oscilam, cientistas e engenheiros podem projetar estratégias de monitoramento mais eficazes, protegendo sondas, satélites e futuras missões tripuladas do ambiente de partículas em torno desses corpos.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/12/23/ciencia-e-espaco/3i-atlas-exibe-jatos-oscilantes-na-anticauda-e-rotacao-acelerada/