
Apesar dos impressionantes avanços da inteligência artificial, a tecnologia ainda não é capaz de promover o raciocínio lógico, compreender conceitos ou mesmo ter consciência. Na verdade, eles são sistemas que “apenas” reconhecem padrões em nossa linguagem.
Em outras palavras, a IA não consegue pensar. Mas, afinal de contas, o que isso significa? Para entendermos essa capacidade talvez seja melhor voltarmos ao passado, mais especificamente aos filósofos gregos.
Platão e as formas de compreensão
- Em artigo publicado no portal The Conversation, Ryan Leack, professor da USC Dornsife, nos Estados Unidos, explica que Platão usa a analogia de uma “linha divisória” que separa as formas superiores e inferiores de compreensão.
- O filósofo, que lecionou no século IV a.C., argumentou que cada pessoa tem uma capacidade intuitiva de reconhecer a verdade.
- Ele chamou isso de a forma mais elevada de compreensão: “noesis”.
- Ela permite a apreensão além da razão, da crença ou da percepção sensorial.
- Abaixo, mas ainda acima de sua “linha divisória”, está a “dianoia”, ou razão, que se baseia na argumentação.
- Abaixo da linha, suas formas inferiores de compreensão são a “pistis”, ou crença, e a “eikasia”, imaginação.
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Como a IA se insere neste contexto?
Embora Platão não diferencie “inteligência” e “pensamento”, suas distinções podem nos ajudar a pensar sobre a IA. Sem estar incorporada, a IA pode não “pensar” ou “compreender” da mesma forma que os humanos. A Eikasia pode ser semelhante às frequentes “alucinações” da IA, quando ela inventa informações que parecem plausíveis, mas na verdade são imprecisas.
Hoje, a IA assume muitas formas físicas, desde veículos autônomos e robôs humanoides a robôs para cuidados de saúde e drones. Se a inteligência requer algo corpóreo, como acreditava Platão, pode parecer que a IA está mais próxima do que nunca do pensamento humano.
Ryan Leack, professor da USC Dornsife

A inteligência artificial assume muitas formas, mas ainda não são corpos. Ela funciona com códigos, algoritmos e conjuntos de dados. A compreensão intuitiva, a emoção, a integridade e a sabedoria prática parecem exigir uma forma corpórea e perecível que é movida pela experiência.
Talvez devêssemos perguntar à própria IA – e foi o que fiz. Quando fiz uma pergunta simples ao ChatGPT, “você consegue pensar?”, ele respondeu: “Eu consigo processar informações, analisar padrões e gerar respostas com base em dados. Então, de certa forma, pode ‘parecer’ que estou pensando. Mas não é o mesmo que pensar como um humano. Eu não tenho consciência, emoções, intenções ou percepção. Tudo o que ‘faço’ é baseado em padrões aprendidos a partir de enormes quantidades de texto e um conjunto de regras e probabilidades. Posso ‘simular’ certos aspectos do pensamento, mas não penso ou compreendo verdadeiramente no sentido humano”.
Ryan Leack, professor da USC Dornsife
O post A IA realmente será capaz de pensar um dia? apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/07/23/pro/a-ia-realmente-sera-capaz-de-pensar-um-dia/