Ficar preso no espaço não é uma peculiaridade exclusiva aos astronautas da Starliner, que ficarão por lá durante 8 meses. Em 1991, da estação espacial soviética Mir, Sergei Krikalev observava a Terra com uma perspectiva alheia às turbulências políticas que abalavam seu país natal. Em 18 de maio daquele ano, Krikalev iniciou uma missão de cinco meses a bordo da Soyuz TM-12, acompanhando a britânica Helen Sharman e o cosmonauta soviético Anatoly Artsebarsky. Sharman retornaria ao solo em apenas uma semana, enquanto Krikalev e Artsebarsky permaneceriam na Mir por um longo tempo.
O lançamento partiu do Azerbaijão. À época, a estação Mir simbolizava o prestígio soviético no campo da exploração espacial. Enquanto Krikalev e Artsebarsky se dedicavam a suas tarefas na estação, na Terra a União Soviética enfrentava uma crise política e econômica crescente. Em poucos meses, o país começou a desmoronar, impactando diretamente a missão espacial.
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Originalmente, Krikalev e Artsebarsky deveriam retornar em outubro de 1991, mas a instabilidade política fez com que esses planos fossem alterados. Um golpe de estado ocorrido em agosto de 1991, embora mal-sucedido, deixou a União Soviética enfraquecida, o que complicou a comunicação com o controle de missão na Terra.
No auge dessa crise, um problema técnico inesperado ocorreu. Durante uma série de tarefas de rotina, Krikalev e sua equipe precisavam trocar um componente crítico da estação. Em um giro irônico do destino, a peça de reposição necessária para a manutenção estava a bordo, mas havia um detalhe importante: ela estava listada em um inventário que os oficiais soviéticos haviam deixado incompleto e impreciso devido ao caos político.
Enquanto Krikalev e sua equipe tentavam resolver a situação, um novo problema surgiu: o espaço para armazenar peças e ferramentas na Mir estava tão desorganizado que a peça necessária não podia ser encontrada. O caos administrativo e a falta de uma comunicação clara com a Terra prolongaram a situação.
O pior cenário se concretizou quando a crise política fez com que a comunicação com o controle de missão na Terra fosse interrompida por um período crítico. Sem uma solução imediata e sem poder retornar para a Terra devido ao processo de reentrada complexo pelo caos político e à necessidade de planejamento detalhado, Krikalev e sua equipe ficaram efetivamente “presos” na estação espacial.
A situação demorou para ser resolvida, até que uma equipe de emergência foi enviada para ajudar na coordenação e os problemas de comunicação foram superados. Krikalev e seus colegas conseguiram finalmente encontrar a peça de reposição e completar a manutenção.
Após a dissolução da União Soviética e 312 dias no espaço, Krikalev e Alexander Volkov retornaram à Terra em 25 de março de 1992. Durante esse tempo, Krikalev completou aproximadamente 5 mil órbitas ao redor do planeta. Sua extraordinária experiência fez dele um símbolo do último período soviético no espaço, ilustrando a complexidade e os desafios da exploração espacial em tempos de mudança política profunda.
Tanto tempo rendeu “viagem ao futuro”
A experiência de Krikalev no espaço não acabou por aí. Depois de voltar à Terra, ele participou de mais um treinamento e acabou acumulando 803 dias, 9 horas e 39 minutos no espaço. De acordo com cálculos da Universe Today , graças à relatividade e à dilatação do tempo, ele viajou para o futuro por 0,2 segundos.
Quem são as pessoas que passaram mais tempo no espaço
Sergei Krikalev detinha o recorde de mais dias no espaço, mas foi ultrapassado pelo compatriota Gennady Padalka, que encerrou sua quinta missão espacial com a marca de 879 dias em 2015. Outros casos notáveis: Frank Rubio, por exemplo, detém o recorde americano de 371 dias consecutivos no espaço, período alcançado devido a um incidente que danificou a espaçonave russa Soyuz que o traria de volta à Terra.
Junto com os cosmonautas Sergey Prokopyev e Dmitri Petelin, Rubio aguardou seis meses no laboratório orbital até a chegada de uma cápsula de substituição. Já a astronauta Christina Koch passou 328 dias na ISS, o voo espacial mais longo realizado por uma mulher.
Já Scott Kelly ficou 340 dias no espaço como parte do estudo de gêmeos da NASA. Esse estudo comparou a saúde dele com a de seu irmão gêmeo, Mark Kelly, que permaneceu na Terra, revelando mudanças na expressão gênica, peso corporal e microbioma intestinal, entre outras.
A missão de Wilmore e Williams segue essa tradição de estadias prolongadas no espaço, o que oferece valiosos dados científicos. Embora possam enfrentar mudanças temporárias na saúde, como perda muscular e óssea, problemas de visão e imunidade reduzida, a maioria dessas alterações tende a se normalizar após o retorno à Terra.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/09/04/ciencia-e-espaco/a-razao-mais-estranha-pela-qual-uma-pessoa-ficou-presa-no-espaco/