14 de outubro de 2025
Afinal, restaurar uma floresta dá dinheiro? Eis a resposta
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Sabe aquela ideia comum de que grandes corporações só investem naquilo que dá retorno financeiro, deixando de lado pautas importantes para a sociedade ou para o planeta? Pois essa talvez tenha sido a premissa de uma iniciativa global de restauração de florestas tropicais que será discutida na COP30, em Belém, no Pará. Quase como uma isca para garantir a sustentabilidade ao mesmo tempo em que se faz… dinheiro.

O chamado Mecanismo de Reversão de Desmatamento (Reversing Deforestation Mechanism – RDM) pode gerar até US$ 100 bilhões em receitas anuais para 91 países com esse tipo de cobertura vegetal, incluindo o Brasil. A proposta está em um estudo elaborado pelo Climate Policy Initiative em parceria com a PUC-Rio, e foi desenvolvida a pedido do presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago.

“Uma política florestal eficaz depende não apenas de um bom design, mas também de condições favoráveis ​​— e incentivos — que lhe permitam perdurar além da política”, afirma trecho do relatório, que será integrado à proposta de financiamento de US$ 1,3 trilhão para a transição energética, uma das pautas da conferência de novembro.

Florestas tropicais armazenam imensos estoques de carbono (Imagem: dennisvdw/iStock)

Combinando incentivos

O RDM proposto aborda a atual ausência de financiamento robusto para restauração em larga escala, segundo o estudo. O mecanismo seria um complemento ao REDD+ Jurisdicional (JREDD+) e ao Tropical Forest Forever Facility (TFFF), que focam no combate ao desmatamento e na proteção das florestas em pé — instrumentos vulneráveis ao que os autores chamam de “ciclos políticos”.

O novo incentivo foi projetado para recompensar as remoções líquidas de carbono — CO2 capturado por meio da restauração, subtraindo as emissões do desmatamento e da degradação — em nível jurisdicional. Os pagamentos seriam baseados em resultados, vinculados ao desempenho anual, e gerenciados por fundos dedicados para reinvestimento na proteção florestal e no uso sustentável da terra. 

“As florestas tropicais devem sair das margens das estratégias climáticas e passar para a vanguarda. As florestas não são apenas vulneráveis ​​às mudanças climáticas — elas são indispensáveis ​​para solucioná-las”, diz o relatório. “ Com políticas personalizadas, financiamento robusto e compromisso político de longo prazo, elas podem proporcionar mitigação climática, proteção da biodiversidade e desenvolvimento sustentável em uma escala que poucas outras soluções conseguem igualar.”

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RDM proposto aborda a atual ausência de financiamento robusto para restauração em larga escala (Imagem: AlexeyPelikh/iStock)

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Quais seriam os benefícios?

Estimativas indicam que a um preço de carbono de US$ 50 por tonelada de CO2, o RDM poderia gerar receitas com valor superior a US$ 5.000 por hectare para 170 milhões de hectares em todo o mundo. A restauração de florestas sob este esquema poderia remover até 2 GtCO2 por ano globalmente nos primeiros anos de operação, o que representa cerca de 11-13% da lacuna de emissões para limitar as mudanças climáticas a 2,0°C em 2035, de acordo com o Relatório de Lacuna de Emissões do PNUMA (2024).

A US$ 50 por tonelada, isso representa aproximadamente US$ 100 bilhões em receitas anuais — ressaltando tanto a importância climática quanto a oportunidade financeira da restauração em larga escala. Em suma, “ao vincular o financiamento climático diretamente aos resultados de carbono verificados, o RDM fornece um caminho escalável e transparente para transformar florestas tropicais em ativos climáticos de alto impacto.”

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Novo mecanismo pode ajudar na meta de limitar as mudanças climáticas a 2,0°C em 2035 (Imagem: pandpstock001/iStock)

Por que proteger as florestas?

Além de armazenar imensos estoques de carbono, as florestas tropicais influenciam os padrões de precipitação por meio da evapotranspiração, regulam os ciclos hidrológicos, sustentam a biodiversidade e mais de um bilhão de pessoas, enquanto o desmatamento e a degradação impactam as emissões e perturbam ecossistemas e meios de subsistência. 

Ao mesmo tempo, as florestas enfrentam uma vulnerabilidade crescente a temperaturas mais altas, alterações na precipitação, secas prolongadas e incêndios florestais mais frequentes. Essa dinâmica bidirecional significa que a perda de florestas acelera as mudanças climáticas, enquanto as mudanças climáticas prejudicam a resiliência das florestas.

“As florestas não são apenas vulneráveis ​​às mudanças climáticas — elas são indispensáveis ​​para resolvê-las”, concluem os pesquisadores.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/10/14/ciencia-e-espaco/afinal-restaurar-uma-floresta-da-dinheiro-eis-a-resposta/